Na cooperação económica, "a mobilidade serviria de cimento para a criação de uma maior intimidade, porque está provado que a mobilidade é um gerador de integração económica, e seguramente, um dos entraves, não único, nas relações económicas é a mobilidade", ou a ausência dela, afirmou, em entrevista à Lusa, o actual alto representante da União Africana para parcerias com a Europa.
A facilitação da circulação dos cidadãos lusófonos entre os países da CPLP está actualmente em debate na organização, sendo uma proposta de Portugal, que actualmente ocupa o secretariado-executivo, e de Cabo Verde, que detém a presidência rotativa.
Por outro lado, Carlos Lopes defendeu que o comércio electrónico "pode levar a uma outra CPLP, muito mais integrada do ponto de vista económico, e isso não exclui a pertença de cada um dos países a configurações do seu espaço geográfico mais contíguo", afirmou o professor, em Lisboa, onde recebeu na última quinta-feira precisamente o "Prémio José Aparecido de Oliveira" da CPLP.
Para Carlos Lopes, o vínculo na CPLP é sobretudo histórico e identitário, fundamentado na língua, um factor que considerou de "aproximação entre povos e nações que têm uma história comum e sabores e dissabores a discutir em família".
Porém, é preciso ter consciência da “limitação que uma organização desta natureza, sem continuidade geográfica, possa apresentar no mundo de hoje, onde existe uma proliferação de organizações de cariz regional".
Assim, defendeu, que também no domínio da língua, o mundo virtual pode ajudar. "Numa fase em que as possibilidades do virtual são tão grandes, [a CPLP], mesmo não tendo continuidade geográfica, pode ter grandes alcances, por exemplo no papel da língua", afirmou.
Para o guineense, a CPLP só surgiu no âmbito cultural, porque "a cooperação política e diplomática existe, mas é tímida, e a cooperação económica é extremamente limitada".
Na área da cooperação política, a CPLP "é um espaço de concertação e não de políticas conjuntas", disse Carlos Lopes.
Neste contexto, quando questionado sobre o papel do Brasil na organização, o antigo dirigente da ONU considerou que o país tem tido "um comportamento muito difícil" ao longo do tempo.
"Houve períodos em que o Brasil foi um líder na promoção da ideia da lusofonia e há períodos em que o Brasil está completamente ausente e até despiciente em relação à CPLP". "(...) É o caso, neste momento", comentou.
Já em relação à presença da Guiné Equatorial, acha que "nas relações atuais, a Guiné Equatorial é um bocadinho um cabelo na sopa, porque tem características que não se coadunam com as da comunidade, nomeadamente essa intimidade que é criada pela relação linguística (...)".
Porém, estando a Guiné Equatorial na CPLP, Carlos Lopes considera que se deveria ajudar o país, porque "tem um grande potencial para fazer da CPLP um espaço ainda maior de influência. Mas não deveríamos fazê-lo de forma paternalista".
A Guiné Equatorial "tem meios e um certo peso dentro da estrutura de discussão africana", afirmou.