Para lá do combate à doença, o surto de coronavírus tem exigido, por parte das autoridades, um combate a outro fenómeno: uma vaga de informações falsas. A desinformação cresce, com muitas teorias de conspiração à mistura.
Sopas de morcego, uma epidemia planeada ou uma arma biológica. Multiplicam-se as histórias fabricadas sobre a emergência global de saúde. A própria Organização Mundial de Saúde (OMS) já veio referir o que considera ser uma “epidemia informativa”
No início da semana, a directora da área de preparação para urgências infecciosas, Sylvie Briand, disse ser necessário combate a propagação de boatos e informações falsas.
"É um fenómeno real, com o qual é preciso lidar desde o início, quando há questões que ainda são desconhecidas e as pessoas estão a tentar preencher essas lacunas com diferentes tipos de informação", alertou.
Ao Expresso das Ilhas, a partir de Macau, o médico José Manuel Esteves é claro ao referir-se ao pânico gerado a partir de uma manipulação informativa.
“Há uma epidemia do vírus e outra é a epidemia do pânico. Parece haver quem esteja empenhado em assustar ao máximo as pessoas, desacreditar o que está a ser feito”, declara.
“Às vezes a sugerir alguns tratamentos... Surgem todas as coisas, algumas totalmente disparatadas, para induzir o medo nas populações”, acrescenta.
Nas últimas 24 horas, o vírus fez mais 65 mortos na China, elevando o total de vítimas mortais para 490. Foram já infectadas 24.324.
“Em média, um infectado transmite a infecção a outros três. É semelhante ao que era a capacidade de infecção do vírus associado à SARS [epidemia de 2002-2003, também com origem na China]. Portanto, temos um surto epidémico a necessitar de ser contido. O grosso dos números está concentrado na China, mais especificamente em algumas das províncias na zona central do país”, regista José Manuel Esteves.
Por toda a China foram tomadas medidas restritivas e de excepção. As autoridades implementaram na terça-feira novos protocolos para melhorar as taxas de admissão e sobrevivência de pacientes e reduzir as taxas de infecção e mortalidade na província de Hubei e na capital da mesma, Wuhan.
O primeiro-ministro chinês, Li Keqiang, anunciou a disponibilização de mais camas aos pacientes. Alguns hotéis, espaços e centros de formação serão usados para realizar tratamentos centralizados de infecções suspeitas e de pacientes que apresentam sintomas leves ou para observação médica dos que tiveram contacto próximo com infectados.
Desde 24 de Janeiro, já foram desalfandegados 377 milhões de produtos de prevenção e controle de epidemias, no valor de quase 174,7 milhões de dólares, revelou esta quarta-feira, em Pequim, a Administração Geral das Alfândegas.
“As autoridades chinesas têm feito um grande esforço para conter o surto, com medidas de uma grande coragem política, com restrições de mobilidade interna e externa e com o empenho de meios”, comenta o médico José Manuel Esteves.
A Comissão Nacional de Saúde da China anunciou, também esta quarta-feira, que um total de 892 pacientes infectados já recebeu alta hospitalar, após recuperação.