Mulheres devem estar no centro da resposta à pandemia em África - Graça Machel

PorExpresso das Ilhas, Lusa,19 jun 2020 7:38

A antiga primeira-dama moçambicana Graça Machel defendeu esta quinta-feira que as mulheres devem liderar e estar no centro da resposta africana à COVID-19, considerando que a pandemia é uma oportunidade de reconstruir uma sociedade mais equitativa.

"A COVID-19 colocou em evidência o fardo que as mulheres carregam. Foi-nos apresentada a oportunidade de reimaginar e reconceber uma sociedade mais equitativa e devemos colocar as mulheres e a liderança das mulheres no centro da resposta [à pandemia] e para lá da mesma", defendeu Graça Machel, num artigo de opinião hoje divulgado pela Graça Machel Trust e Foundation for Community Development, de que é fundadora.

O artigo foi assinado em conjunto com Vera Songwe, secretária-executiva da Comissão Económica das Nações Unidas(ONU) para África, Maria Ramos, presidente do grupo de trabalho da ONU sobre Financiamento Digital dos Objectivos de Desenvolvimento Sustentável e Ngozi Okonjo-Iweala, enviada especial da União Africana para a mobilização de apoio financeiro internacional para a luta contra a COVID-19 e ex-ministra das Finanças da Nigéria.

"A COVID-19 causou choques maciços nas economias informais e formais de África e as mulheres foram particularmente afectadas por esta crise económica", refere o artigo, citando "evidências emergentes" de que "a vida económica e produtiva das mulheres será afectada de forma desproporcional".

"Têm menos acesso a protecções sociais e a sua capacidade de absorver choques económicos é muito baixa. Há também um risco aumentado de que sejam forçadas a casar precocemente e o número de casamentos de crianças e gravidezes precoces pode aumentar à medida que as meninas se tornam uma fonte rápida de rendimento para as famílias", alertou.

A interrupção das cadeias de fornecimento causada pelo fecho de fronteiras, paragem da produção e restrições à importação, com a consequente inflação de preços, "arruinou a economia global de alimentos", com grande impacto "nos mais pobres e marginalizadas do mundo", especialmente em África, prosseguiu.

As mulheres são protagonistas centrais da cadeia alimentar e essenciais para a produção agrícola no continente, com 50% da actividade agrícola no continente a ser realizada por mulheres, que produzem entre 60 a 70% dos alimentos na África Subsariana.

Por outro lado, mulheres e crianças surgem como as mais vulneráveis no acesso aos sistemas de saúde, com a COVID-19 a interromper os cuidados e serviços especializados, originando um aumento antecipado da mortalidade infantil e materna.

"A violência doméstica aumentou mais de 25% em alguns países como consequência dos confinamentos e as vítimas enfrentam um acesso limitado a serviços de protecção durante os períodos de quarentena", aponta o texto.

Por isso, defendem os autores do artigo, "todas as respostas devem ter em consideração os impactos de género da COVID-19" e as "mulheres e organizações de mulheres devem estar no centro da tomada de decisões e na elaboração de políticas e planos de saúde e socioeconómicos".

Entre as propostas apresentadas, as líderes africanas propõem um sistema de recolha e desagregação de dados para garantir que o impacto da crise nas mulheres é conhecido e "possibilita a transformação de sistemas socioeconómicos e de saúde frágeis e desiguais em sistemas totalmente inclusivos e equitativos".

Conceder às mulheres e às empresas geridas por mulheres acesso directo a crédito, adiamentos e isenções de pagamentos de impostos e segurança social e abastecimento preferencial e oferecer remuneração igual por trabalho igual são outras propostas enumeradas no artigo.

É ainda sublinhada a necessidade de redobrar os esforços para proteger as meninas do casamento infantil e da gravidez precoce, apoiar as famílias para que mantenham as raparigas na escola e estimular "uma mudança fundamental de mentalidade, na qual a violência de género é considerada socialmente inaceitável e intolerável".

"A COVID-19 oferece-nos oportunidades sem precedentes para a regeneração do cenário socioeconómico africano e para o movimento em direcção a um continente próspero, justo, equitativo e sustentável. Não ousemos desperdiçar esta oportunidade para um renascimento", concluiu.

Em África, há 7.197 mortos confirmados em mais de 267 mil infectados em 54 países, segundo as estatísticas mais recentes sobre a pandemia naquele continente.

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Autoria:Expresso das Ilhas, Lusa,19 jun 2020 7:38

Editado porSara Almeida  em  2 abr 2021 23:21

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