Putin quer “negociações imediatas” com NATO e EUA sobre segurança da Rússia

PorExpresso das Ilhas,20 dez 2021 8:59

Presidente russo reitera exigência de garantias jurídicas que excluam o alargamento da NATO a leste e a instalação de armas na Ucrânia. Tensão no leste da Europa longe de arrefecer.

O Presidente russo, Vladimir Putin, pediu esta terça-feira “negociações imediatas” com a NATO e os Estados Unidos sobre as garantias a serem dadas à Rússia sobre a sua segurança, num contexto de tensões em torno da Ucrânia.

“Vladimir Putin sublinhou a necessidade de lançamento imediato de negociações com os Estados Unidos e a NATO para definir as garantias jurídicas para a segurança do nosso país, a fim de excluir o alargamento futuro da Aliança ao leste e a instalação na Ucrânia e noutros Estados vizinhos de sistemas de armamento que ameacem a Rússia”, indicou o Kremlin em comunicado, após uma conversa do Chefe de Estado com o Presidente finlandês, Sauli Niinistö. A Finlândia é um intermediário tradicional entre a Rússia e os seus adversários ocidentais.

No início deste mês, numa reunião por videoconferência, o Presidente russo exigira ao seu homólogo norte-americano, Joe Biden, garantias jurídicas para excluir qualquer novo alargamento da NATO. Moscovo considera que o Ocidente, ao abrir a Aliança a países da Europa de leste e da ex-União Soviética, violou os compromissos assumidos após o fim da URSS. A Rússia considera uma eventual adesão de Kiev uma linha vermelha.

A Rússia é neste momento suspeita, no Ocidente, de preparar uma nova invasão da Ucrânia, por estar a destacar um número considerável de tropas para a fronteira comum. O Kremlin nega as acusações e diz que a Rússia está a ser ameaçada pela NATO, que está a armar Kiev e a multiplicar os destacamentos de meios aéreos e marítimos para a região do mar Negro.

Putin acusou novamente o poder ucraniano de violar os acordos de Minsk, que definem um percurso para a paz na Ucrânia oriental (Donbass), onde Kiev há oito anos se confronta com separatistas pró-russos que maioritariamente se considera serem controlados pelo Kremlin. “O Presidente da Rússia sublinhou, em particular, que as autoridades ucranianas, em violação dos acordos de Minsk, estão claramente a apostar na força, utilizando no Donbass artilharia pesada e ‘drones’ (aeronaves não-tripuladas) de ataque”, declarou o Kremlin.

A história da crise

As tensões entre a Ucrânia e a Rússia começaram no final de 2013 por causa de um acordo político e comercial da Ucrânia com a União Europeia. Depois do então presidente pró-russo, Viktor Yanukovych, suspender as negociações – supostamente sob pressão de Moscovo – semanas de protestos em Kiev explodiram em violência.

Em Março de 2014, a Rússia anexou a Crimeia, uma península autónoma no sul da Ucrânia com forte lealdade à Rússia, sob o pretexto de que estava a defender os seus interesses e os dos cidadãos de língua russa. Primeiro, milhares de soldados, mais tarde reconhecidos por Moscovo como militares russos, invadiram a península da Crimeia. Em poucos dias, a Rússia concluiu a anexação num referendo que foi considerado ilegítimo pela Ucrânia e pela maior parte do mundo.

Pouco depois, separatistas pró-russos nas regiões de Donetsk e Luhansk, na Ucrânia, declararam a independência de Kiev, provocando meses de combates intensos. Apesar de Kiev e Moscovo terem assinado um acordo de paz em Minsk em 2015, intermediado pela França e Alemanha, houve repetidas violações do cessar-fogo.

A Rússia prepara uma invasão?

O governo ucraniano diz que a Rússia tem enviado tanques e franco-atiradores para áreas controladas pelos rebeldes. Mas são as supostas forças russas, com mais de 90.000 militares perto da fronteira, que mais preocupam. Imagens recentes de satélite mostram o aumento da presença de militares na Crimeia, não muito longe do leste da Ucrânia.

Mas não há sinais de invasão iminente ou acção do presidente russo Vladimir Putin que o evidencie. O porta-voz do Kremlin pediu a todos que mantenham a “cabeça fria”.

Entretanto, serviços de inteligência ocidentais, assim como da Ucrânia, acham que a invasão pode acontecer no início de 2022. “O momento mais provável para se estar pronto para uma escalada (no conflito) será no final de Janeiro”, afirmou o ministro da Defesa ucraniano, Oleksiy Reznikov, citado pela BBC.

A inteligência dos EUA diz que no primeiro mês do próximo ano pode-se chegar a cerca de 175 mil militares mobilizados para acções na Ucrânia, e o diretor da CIA, William Burns, acredita que o presidente Putin “está a colocar os militares russos e os serviços de segurança russos em posições através das quais possam agir de maneira bastante abrangente”.

O mundo já testemunhou uma sequência parecida de acontecimentos em Abril deste ano, mas na ocasião a Rússia minimizou as suas acções e disse que estava a realizar exercícios militares próximos à Ucrânia. Depois, recuou.

Os avisos globais

O Alto Representante da União Europeia para a Política Externa e de Segurança, Josep Borrell, e os ministros dos Negócios Estrangeiros dos 27 reforçaram, esta segunda-feira, o aviso à Rússia sobre os “custos” e as “consequências” de uma agressão à Ucrânia que foi deixado nos últimos dias, após as reuniões dos aliados da NATO e dos membros do G7.

“O aviso é muito simples. Qualquer acção da Federação Russa que signifique uma nova violação da soberania e da integridade territorial da Ucrânia terá uma resposta muito dura da UE, em termos de sanções políticas e económicas”, disse o ministro dos Negócios Estrangeiros português, Augusto Santos Silva, citado pelo Público.

Este sábado, o G7 também se mostrou unido contra a Rússia. O secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, que esteve presente na reunião, em Inglaterra, que juntou as democracias mais ricas do mundo, avisou que qualquer incursão na Ucrânia “seria um erro estratégico, com graves consequências”. 

Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1046 de 15 de Dezembro de 2021. 

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Autoria:Expresso das Ilhas,20 dez 2021 8:59

Editado porAndre Amaral  em  19 set 2022 23:28

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