O anúncio foi feito pelo embaixador israelita na ONU, Guilad Erdan, que acrescentou que Israel já tinha começado a adotar esta política e que tinha recusado um visto ao subsecretário-geral da ONU para os Assuntos Humanitários, Martin Griffiths.
“É altura de dar uma lição aos altos funcionários da ONU”, disse Erdan hoje numa entrevista à rádio do exército israelita.
“O massacre de judeus perpetrado pelo Hamas [a 07 deste mês] foi um ato de genocídio na sua intenção e imensamente brutal na sua forma”, afirmou Dani Dayan, presidente do Museu do Holocausto Yad Vashem, em Jerusalém, condenando também as declarações de Guterres perante o Conselho de Segurança da ONU.
“Parte da diferença em relação ao Holocausto deve-se ao facto de os judeus terem hoje um Estado e um exército. Não estamos indefesos ou à mercê dos outros”, acrescentou o responsável do Yad Vashem.
Para Dayan, “a sinceridade dos líderes mundiais, dos intelectuais e das pessoas influentes”, como Guterres, é agora “posta à prova”.
Perante isto, o secretário-geral da ONU “falhou o teste”, disse Dayan.
Após os massacres perpetrados pelos milicianos do Hamas em Israel há mais de duas semanas – o ataque mais mortífero da história do Estado judaico – o Governo israelita comparou as suas ações às do Estado Islâmico ou ao genocídio nazi de milhões de judeus.
O governo israelita também referiu que as ações do Hamas constituíram “o pior massacre de judeus desde o Holocausto”.
No entanto, a controvérsia estalou terça-feira no Conselho Geral da ONU, quando Guterres “condenou inequivocamente os atos terroristas horríveis e sem precedentes do Hamas”, embora tenha ressalvado que o sucedido tem origem em décadas de conflito com os palestinianos.
“Os ataques do Hamas não ocorrem no vazio. O povo palestiniano tem estado sujeito a 56 anos de ocupação sufocante”, afirmou então Guterres, declarações que levaram a uma forte crítica do executivo israelita, que exige agora a demissão do secretário-geral da ONU.
“Não tem vergonha de si próprio?”, disse o ministro dos Negócios Estrangeiros israelita, Eli Cohen, que estava presente na sessão da ONU e cancelou uma reunião planeada com o secretário-geral.
As declarações de Guterres foram também alvo de críticas de familiares dos reféns do grupo islamita Hamas, que as consideraram “escandalosas”.
“Que vergonha dar legitimidade a crimes contra a humanidade quando se trata de judeus! As declarações do secretário-geral da ONU são escandalosas!”, afirmou o grupo de famílias dos cerca de 220 sequestrados num comunicado.
“Crianças foram queimadas vivas, mulheres foram violadas e civis foram torturados e assassinados a sangue frio. Tudo com o objetivo de aniquilar todos os israelitas e judeus na área capturada pelo Hamas”, observaram as famílias.
Outras críticas a Guterres, antigo primeiro-ministro português, vieram também do líder da extrema-direita italiana e vice-primeiro-ministro de Itália, Matteo Salvini, que as considerou “graves e inaceitáveis” porque, defendeu, “não pode haver justificação para o terrorismo”.
Outras críticas vieram do Reino Unido que, através do secretário de Estado para a Imigração, Robert Jenrick, apelou a Guterres para se “retratar” dos seus comentários, negando que Israel tenha violado a lei no seu cerco a Gaza.
“O Reino Unido não acredita que Israel tenha violado o direito internacional. Existe um direito claro no direito internacional de uma nação se defender e é isso que Israel está a fazer”, insistiu Jenrick.
Já hoje, o ministro dos Negócios Estrangeiros português, João Gomes Cravinho, referiu à agência Lusa que Portugal “compreende e acompanha” a posição de Guterres sobre o conflito entre Israel e o Hamas, que motivou um pedido de demissão do secretário-geral da ONU por Telavive.
“Compreendemos e acompanhamos inteiramente a posição de António Guterres, que foi inequívoco quando condenou o terrorismo do Hamas, que é absolutamente inaceitável. Foi absolutamente cristalino na análise que fez”, afirmou Cravinho, que lamentou esta polémica entre o Governo de Israel e o secretário-geral da ONU.
Para o Governo português, “não há forma nenhuma de dizer que António Guterres está de alguma maneira a desculpabilizar o terrorismo”.
Tal, acrescentou o chefe da diplomacia portuguesa, “é um erro absoluto que não se pode deixar passar em branco”.