Queremos uma visão que priorize a saúde e não a doença

PorSara Almeida,7 out 2018 9:04

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​Para Artur Correia está na altura de assumir plenamente a visão holística da Saúde, apostando na multisectorialidade para efectiva promoção da Saúde. Impõe-se, nomeadamente, um maior equilíbrio na distribuição de recursos e esforços, até aqui direccionados para a vertente “curativa”.

A experiência da telemedicina em Cabo Verde, é outro dos temas aqui abordados, relembrando-se a missão deste instrumento. A ideia não é diminuir evacuações ou custos. Essa redução pode acontecer como resultado, nunca por objectivo principal, recorda. Nesta conversa com o Expresso das ilhas, o Director Nacional de Saúde fala ainda do presente sistema de evacuação inter-ilhas, “muito funcional”, e com o qual se diz satisfeito. “Temos salvado muitas vidas”, aponta.

Quando falamos da Saúde, na maior parte das vezes estamos, na verdade, a falar da Doença. Falamos dos Hospitais, dos meios de diagnósticos, dos médicos e enfermeiros, dos tratamentos e afins. E embora toda essa vertente seja uma parte essencial da “Saúde”, é preciso mudar o paradigma para uma visão holística.

Uma visão centrada na multisectorialidade, “que leve em conta os determinantes de vária ordem e que influenciam directa ou indirectamente a saúde, entendida não somente como ausência de doença, mas no completo bem-estar físico, mental e social”, explica o Director Nacional de Saúde.

É esta visão, que implica que vários sectores participem na promoção da Saúde, que Cabo Verde tem vindo a querer seguir, e que Artur Correia defende estar na altura de aprofundar e assumir ainda mais plenamente. “Uma visão que concentre a sua atenção na saúde, que priorize a saúde e não a doença. Que a saúde esteja no centro das atenções das políticas públicas”.

Os governos central e locais, directa ou indirectamente, têm vindo aliás a contribuir para a implementação dessa visão, nomeadamente quando tratam a questão das infra-estruturas urbanas (como os parques fitness, só para dar um exemplo). E cabe-lhes ainda um importante papel na medida em que podem conceber as referidas políticas públicas promocionais de saúde, nomeadamente contra o tabaco, o álcool, o Açúcar e o Sal (em que aliás se está a trabalhar). ONGs, Escolas e outros parceiros sociais também têm vindo a implementar projectos com este fim.

Reconhecendo, pois, que há já trabalho feito na implementação deste novo paradigma da saúde, mesmo que eventualmente por medidas que não foram pensadas nesse quadro, o DNS advoga que agora “é preciso é ter essa visão e haver um enquadramento metodológico para potenciar essas acções promocionais da saúde”.

E olhar a saúde holisticamente vem mostrar que os principais problemas da saúde não estão dentro dos hospitais, mas fora destes. São responsabilidade de todos. Têm a ver com estilos de vida “inerentes ao processo de desenvolvimento do país” e que resultam no aumento exponencial das doenças não transmissíveis.

A implementação desta visão, salvaguarda Artur Correia, não significa descurar a parte “curativa”, de diagnóstico e tratamento, que deve ser feito “com a melhor qualidade possível”, mas vem trazer um “maior equilíbrio na distribuição dos recursos, quer humanos quer materiais, entre a promoção da saúde, a protecção, a prevenção da doença e o diagnóstico, tratamento e seguimento dos doentes”. É que neste momento, o “desequilíbrio é estrondoso”, aponta.

Telemedicina

Mas falar de saúde em Cabo Verde passa hoje por um instrumento ao qual se reconhecem imensas potencialidades, mas que ainda gera dúvidas: a telemedicina.

Actualmente, a telemedicina funciona em todos os centros de saúde, através de um núcleo de telemedicina e, de acordo com “um estudo que foi feito recentemente, mais de 80% da população que beneficiou de telemedicina, está satisfeita com a teleconsulta que lhe foi prestada”.

Entretanto o estatuto do programa foi inovado, e existe agora um serviço nacional de telemedicina, a nível da DNS, adianta Artur Correia.

Na verdade, no geral, apesar de alguns “ruídos” - como a forte mobilidade dos profissionais, que obriga a formação constante do novo pessoal – a telemedicina “funciona bem”, embora precise “ de ser desenvolvida ainda mais para tirar proveito” maior”, avalia o DNS.

A experiência da telemedicina em Cabo Verde é aliás, “vista como exemplar a nível da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP)”. Tendo isso em conta, a mesma poderá ser partilhada com países que estão menos desenvolvidos do que Cabo Verde na área. Será uma oportunidade de contribuir, potenciando a interconectividade e a rede da CPLP. “Temos de estar abertos a isso”, exorta Artur Correia.

Olhando de perto este instrumento, conforme refere o DNS, em primeiro lugar, este conseguiu “acabar com o isolamento técnico dos profissionais que trabalham nas ilhas”, ao mesmo tempo que permitiu que as populações de ilhas mais periféricas “tenham acesso a especialistas, a consultas de especialidade e até a alguns meios complementares de diagnóstico”. “É também um grande ganho na diminuição das desigualdades que existem entre as ilhas”, aliás, a missão para a qual foi criada, sublinha.

Um outro aspecto da telemedicina é que “permite a optimização e a disciplinação das evacuações”, mas sempre em benefício do próprio doente. “O objectivo primeiro não é de diminuir custos em termos de evacuações, é permitir o acesso, é melhorar a qualidade de prestação, a satisfação do próprio utente e profissionais. Se contribuir para diminuir, óptimo (e houve uma diminuição de 30%), mas não é esse o objectivo”, esclarece. “É o resultado”.

E falando de evacuações internas, uma das grandes preocupações dos cabo-verdianos, neste momento, o sistema é “muito funcional”, garante.

“Há um sistema informatizado, em que todos os actores do processo estão conectados, 24h/24h. As estruturas de saúde fazem o seu pedido online e a equipa, aqui no Ministério da Saúde, centralmente, gere as demandas e contacta directamente quer com a Binter, quer com o novo avião [o Jetstream negociado com Portugal que chegou em finais de Agosto a Cabo Verde]. Estou muito satisfeito com este sistema que está a funcionar e está a apresentar resultados”, destaca.


Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 879 de 03 de Outubro de 2018.

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Autoria:Sara Almeida,7 out 2018 9:04

Editado porNuno Andrade Ferreira  em  23 ago 2019 23:28

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