“Não há dia, não há voo em que não me liguem a dizer: não entraram três, quatro pessoas”, disse o embaixador Mbála Fernandes, em entrevista à agência Lusa.
O diplomata refere-se aos guineenses que tentam entrar em Cabo Verde, mas que são impedidos pelas autoridades por falta de documentação.
A forma como algumas revistas no aeroporto terão sido feitas, relatadas em vídeos publicados nas redes sociais, levou mesmo a Embaixada da Guiné-Bissau em Cabo Verde a emitir um comunicado a apelar à serenidade e a recordar que se trata de dois países “irmãos”.
A mensagem não foi bem aceite por todos, a julgar pelos comentários de guineenses que não entendem estas dificuldades na entrada em Cabo Verde, quando alegadamente os cabo-verdianos não sentem estas complicações ao entrarem na Guiné-Bissau.
“Queixam-se de maltrato, de desumanização no aeroporto”, acrescentou Mbála Fernandes, reconhecendo que o problema começa na Guiné-Bissau.
Muitas vezes, prosseguiu o embaixador, “os guineenses não cumprem os requisitos que Cabo Verde exige e, às vezes, podem vir com todos os papeis assinados pelo DEF [serviço de estrangeiros e fronteiras], mas isso não lhes dá o direito de entrar no aeroporto, pois o agente da fronteira é que é o último a dar o OK”.
Na opinião de Mbála Fernandes, trata-se de “falta de informação” e, por isso, a embaixada já enviou várias notas ao ministério para “instruir os viajantes sobre o que é preciso para entrar em Cabo Verde”.
“Alertámos para o perigo que isso poderá vir a acontecer daqui a um futuro próximo, porque todos os dias recebemos queixas de que chegam ao aeroporto e não conseguem entrar dois, três, quatro, cinco guineenses”, adiantou.
Mbála Fernandes afirma que, da parte cabo-verdiana, foi dada “a garantia de que a situação vai ser resolvida” e que as leis de imigração iam ser flexibilizadas.
Em Julho, aquando da cimeira da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) na ilha do Sal, o Presidente da República guineense “manifestou vontade de saber o que se passa com a comunidade”. O primeiro-ministro e o ministro dos Negócios Estrangeiros cabo-verdianos garantiram que “iam flexibilizar a lei”, disse o diplomata.
O embaixador acredita que “Cabo Verde é um caso especial” e, por isso, defende uma “política pública especial para a diáspora guineense” neste país.
O embaixador quer que os guineenses que decidam ir para Cabo Verde sejam informados daquilo que os espera, já que este “também não é um país de grandes rendimentos”.
Da parte cabo-verdiana, o embaixador gostaria de ver simplificadas algumas questões relacionadas com o processo de legalização, inatingível para muitos.
“Quando fizemos o recenseamento, apercebemo-nos que 99% da população não tinha documentos em dia, porque não têm meios”, disse, acrescentando: “Não têm dinheiro para fazer um cartão consular que custa mil escudos (cerca de nove euros], nem para o passaporte. A pessoa prefere ter o dinheiro e comprar pão do que ir à embaixada, sabendo que não vai ser legalizada a curto prazo”.
O embaixador refere que, no processo para renovação do visto, é pedida prova de alojamento. “Moram nos bairros de lata. Vamos ao bairro de lata pedir uma declaração de arrendamento?”.
O resultado é, para muitos, a marginalização que, por seu lado, impede um emprego melhor.
Apesar disso, o diplomata garante que a comunidade guineense é hoje um exemplo de integração em Cabo Verde e que os cabo-verdianos e os estrangeiros gostam do seu trabalho, porque “são de confiança”.
A Embaixada estima que estejam a viver em Cabo Verde entre 6.000 a 9.000 guineenses.