“Santo Antão é a ilha que escreve a história da parceria entre os nossos dois países”

PorAntónio Monteiro,14 jul 2019 8:54

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A Ministra da Cooperação e Acção Humanitária do Luxemburgo, Paulette Lenert, esteve em Cabo Verde, na passada semana, numa visita que culminou com a assinatura entre os dois governos de três novos acordos de financiamento num total de 9,5 milhões de euros.

Durante a estadia no nosso país, a ministra participou na sessão de abertura do Cabo Verde Investment Forum, na ilha do Sal, e visitou alguns projectos financiados pelo governo luxemburguês em Santiago, São Vicente e Santo Antão. Numa breve conversa com o Expresso das Ilhas, Paulette Lenert mostrou-se encantada com Santo Antão, ilha que a governante considera exemplo paradigmático da cooperação entre os dois países.

É sua primeira visita a Cabo Verde. Quais foram as suas primeiras impressões?

Sim, é a minha primeira visita a um país parceiro da Cooperação Luxemburguesa e também a minha primeira visita a Cabo Verde. Os cabo-verdianos são pessoas muito acolhedoras e pude constatar a proverbial morabeza. Tive também a oportunidade de verificar que a cooperação entre os nossos dois países remonta a mais de 20 anos, mas continua ainda impregnada de vida. Isso agradou-me muito.

Durante a sua estadia visitou, em Santo Antão, os projectos financiados pelo Grão-Ducado. Pode-se considerar esta ilha um exemplo paradigmático da cooperação entre os dois países?

Sim, tive a oportunidade de visitar a Avenida do Luxemburgo [na Ribeira Grande] e fiquei muito orgulhosa. Acho que Santo Antão é a ilha que escreve a história da parceria entre os nossos dois países. Recordo que começou com pequenos projectos e evoluiu para intervenções mais estratégicas como electrificação, o hospital, as escolas… Encontram-se peugadas da Cooperação Luxemburguesa em toda a ilha. Isto é muito gratificante.

Porque tem Santo Antão um lugar especial na parceria entre Cabo Verde e o Grão-Ducado?

Bom… porque muitos cabo-verdianos que vivem no Luxemburgo são de Santo Antão ou descendentes de santatonenses. Foi também por isso que as primeiras ONGs luxemburguesas que vieram para Cabo Verde intervieram em Santo Antão e, consequentemente, a nossa Cooperação começou naquela ilha. Assim, a relação de carinho com o Luxemburgo tornou-se percursora de uma grande amizade entre os nossos países, que está hoje mais estreita e complexa do que nunca. Será por isso fácil compreender que, nós, luxemburgueses, sentimo-nos sempre bem em Cabo Verde e particularmente em casa, em Santo Antão.

Que novos projectos decorrem actualmente em Santo Antão?

Ao abrigo do actual PIC (2016-2020) [Programa Indicativo de Cooperação] decorre em Santo Antão um programa que envolve os três municípios para o reforço das capacidades institucionais dos técnicos e processo de concertação de todos os actores do território, para preparar a estratégia e o plano de desenvolvimento sustentável dos municípios, com as comunidades, com os técnicos, sob liderança dos presidentes, mas de maneira consultiva e participativa. Temos ainda em curso o Projecto Turismo e Comunidades, com o objectivo de promover o turismo de pequena escala, rural e comunitário na ilha e que visa reforçar a capacidade das associações locais, de modo a oferecerem melhores serviços aos turistas que visitam Santo Antão. Temos ainda uma série de apoios através dos nossos programas nos domínios do Emprego e Empregabilidade, que visam melhorar a oferta formativa do Instituto de Emprego e Formação Profissional e da Escola Técnica João Varela no Porto Novo e a inserção profissional dos jovens naquela ilha.

À imprensa, um presidente da câmara local afirmou que neste momento não decorrem grandes projectos financiados pelo Grão-Ducado. Há uma mudança de paradigma?

Acho que este presidente da câmara referia-se aos grandes projectos infraestruturais que o Luxemburgo financiou em Santo Antão, nomeadamente a electrificação da ilha, construção de escolas, liceus, internatos, uma parte de apoio da construção da estrada Porto Novo/Janela. Esses foram seguramente os grandes marcos da Cooperação Luxemburguesa em Santo Antão. A parceria continua, mas não através de obras de infraestruturação. Hoje o foco da cooperação entre os dois países passou para o reforço das capacidades.

Um dos focos dessa nova cooperação é agora o apoio à transição energética em Cabo Verde. Em que consiste?

De facto, o apoio à transição energética em Cabo Verde é um dos itens prioritários para as próximas parcerias que estamos em vias de negociar e explorar. Actualmente, o nosso apoio traduz-se num reforço de capacidades que tem permitido uma melhor governação das energias renováveis, como forma de melhorar o seu quadro legal e regulamentar, dando-lhe mais transparência e uma maior fiabilidade ao sistema no seu todo, o que permitirá atrair novos investimentos neste sector. Apoiámos também a criação de um quadro legal para a mobilidade eléctrica, e ainda para a instalação de micro-geração com base em energia solar, por exemplo. Simultaneamente, temos também apoiado o CERMI [Centro de Energias Renováveis e Manutenção Industrial] que forma jovens no campo das energias renováveis, que requerem novas competências técnicas. Este é de facto um sector no qual o Governo luxemburguês está muito empenhado e essa cooperação já começou a ter os seus frutos. Cabo Verde lançou recentemente um concurso público para a construção de um parque eólico de dez megawatts em Santiago e um parque solar na Boa Vista de cinco megawatts, um passo importante para o estabelecimento de Produtores Independentes de Energia em Cabo Verde. Foi por isso com muito agrado que notámos que a preparação desses concursos foi feita com apoio do Luxemburgo.

Foram assinados, durante a sua visita, três protocolos. Quais os montantes e em que áreas?

O Governo do Luxemburgo assinou na Praia três protocolos no valor de 9,5 milhões de euros nas áreas de água e saneamento, energias renováveis e financiamento para o Censo’2020. Um dos protocolos visa a construção de unidades de dessalinização de água nas ilhas da Brava e do Maio; outro protocolo para um estudo de viabilidade para a stockagem de energia, na Ilha de Santiago e um terceiro protocolo para o melhoramento da ETAR [Estação de Tratamento de Águas Residuais] de São Vicente.

Que futuros projectos para Cabo Verde?

São projectos focados em sectores prioritários para Cabo Verde, nomeadamente, o apoio às políticas de emprego e empregabilidade, água, e as energias renováveis.

Como é que a nossa comunidade está integrada no Luxemburgo?

Está bem integrada em todos os sectores público e privado. É uma comunidade que se integrou facilmente no Luxemburgo; há muitos cabo-verdianos que têm dupla nacionalidade e, portanto, estamos perante uma perfeita integração. Há uma jovem de origem cabo-verdiana que foi recentemente eleita para o parlamento europeu e temos uma outra que é presidente da câmara de uma cidade luxemburguesa. Portanto, encontramos descen­dentes de cabo-verdianos em todas as categorias profissionais no Luxemburgo.

Texto originalmente publicado na edição impressa do expresso das ilhas nº 919 de 10 de Julho de 2019. 

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Autoria:António Monteiro,14 jul 2019 8:54

Editado porAndre Amaral  em  7 abr 2020 23:20

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