A Cabo Verde Interilhas, nova empresa concessionária do transporte marítimo de passageiros, informou, esta segunda-feira que, em 10 dias de operação, efectuou 120 ligações e transportou 21.390 passageiros, sendo 70% desse valor na rota Santo Antão-São Vicente.
No balanço dos primeiros 10 dias de operações, numa nota à comunicação social citada pela Lusa, a empresa revelou que “aumentou de forma significativa” o número de ligações, duplicando as operações em comparação com o que existia anteriormente.
Do total de 21.390 passageiros transportados nas 120 ligações, 14.799 foram na ligação entre Santo Antão e São Vicente, a rota marítima mais movimentada do arquipélago.
A empresa indicou que outras medidas como a separação de passageiros e cargas no transporte entre ilhas “estão a ser devidamente cumpridas, permitindo o aumento de segurança e eficiência e a melhoria do cumprimento dos horários de partida dos navios”.
Na nota, o director financeiro Aniceto Soares sublinhou a “redefinição e optimização” de algumas linhas, o que resultou na criação de novos serviços que anteriormente não existiam, como a ligação directa e regular, duas vezes por semana, entre as ilhas do Sal e da Boa Vista com São Vicente e com a Praia, e o aumento de mais uma viagem na rota de ligação das ilhas de São Vicente e Santo Antão.
“Uma mudança tão profunda e estruturante, com a introdução de um conjunto significativo de novas rotas, práticas e metodologias de trabalho, não se esgota nas suas primeiras semanas de atividade», salientou a CV Interilhas, sublinhando que há uma “período inicial de ajuste” para afinar todos os aspetos operacionais e um posterior processo de melhoria contínua.
A empresa destacou igualmente a criação de novos postos de trabalho e a manutenção da maioria dos recursos humanos das empresas que se juntaram ao projeto, adiantando que os salários foram ajustados, resultando num aumento médio de 25% face ao que era praticado.
As viagens são efetuadas com recurso a quatro navios, o “Inter Ilhas”, do armador Polaris, o “Liberdadi”, “Kriola” e “Praia D’Aguada”, do armador CV Fast Ferry.
A concessão do serviço público de transporte marítimo de passageiros e carga entre as ilhas de Cabo Verde, por 20 anos, entrou em vigor a 15 de Agosto, sob a liderança da portuguesa Transinsular.
Os transportes marítimos entre ilhas sempre foram um desafio. Até à privatização do mercado, o serviço era fornecido pela empresa pública Arca Verde, que navegou pela última vez no Atlântico em 2005, data em que a companhia foi liquidada. Os navios foram vendidos a pequenas companhias privadas, a quem foi dada a liberdade de escolherem as suas rotas e a quem foi dada, igualmente, protecção em relação à competição estrangeira.
Mas esta aposta no mercado livre também deu origem a uma pobre cobertura das ilhas. Os navios herdados da Arca Verde eram velhos, lentos e caros de operar. A isto juntavam-se os longos períodos nos portos, a imprevisibilidade do tempo de carga e descarga e os elevados custos de acostagem. A ineficiência do serviço levou o governo a tomar medidas na segunda metade da década de 2000: a construção de rampas RoRo (Roll-on, Roll-off) na maioria dos portos, a redução das tarifas portuárias e a subsidiação das rotas entre Santiago/Fogo/Brava e Maio e entre Sal e Boa Vista.
O navio RoPax (carga e passageiros, com rampa rol-on/rol-off) entre São Vicente e Santo Antão – a única rota considerada de confiança – existe há muitos anos, mas os serviços RoPax noutras rotas só se tornou comum a partir de 2004. No entanto, o serviço continuou fragmentado e feito por navios velhos, com todos os problemas de fiabilidade que isso representa.
No dia 30 de Janeiro do ano passado, o governo lançou um concurso público internacional para seleccionar um parceiro estratégico a quem seria atribuído um contracto de concessão exclusivo para a gestão e exploração do serviço público de transporte marítimo, “não sendo permitida a entrada de novos operadores para o transporte marítimo de passageiros e carga inter-ilhas”. Na altura, o executivo dizia que uma das prioridades do governo era “a melhoria dos níveis de serviços prestados no que se refere às ligações marítimas inter-ilhas”.
“Sendo Cabo Verde um arquipélago, a ligação entre as ilhas é determinante no sentido de assegurar a eficiente mobilidade de passageiros e cargas e garantir a unificação do mercado nacional, trazendo, consequentemente, uma nova dinâmica à economia com a criação de novas oportunidades de negócios e investimentos”, lia-se ainda no documento publicado.
O vencedor só viria a ser conhecido em Outubro de 2018, quando o governo anunciou que o grupo português Transinsular ganhara o concurso público internacional para a gestão e exploração do serviço público de transporte marítimo de passageiros e carga entre as ilhas.
Entre os requisitos exigidos, a empresa vencedora teria de ter a capacidade para disponibilizar uma frota de cinco navios RoPax, com menos de 15 anos e adequados ao tráfego e portos nacionais. O prazo para ter todos esses navios operacionais é de dois anos após o término do concurso.
Além dos 51% detidos pela Transinsular, o capital da empresa concessionária, Cabo Verde Interilhas, é formado, em 49%, por armadores nacionais: Cabo Verde Fast Ferry, Polaris S. A., Verdemar, Santa Lúzia Salvamento Marítimo, U. T. M. União dos Transportes Maritimos, Oceano Made, Sociedade Armadora Aliseu Lda, Adriano Lima, Jo Santos e David.
Texto originalmente publicado na edição impressa do expresso das ilhas nº 926 de 28 de Agosto de 2019.