Seis meses de COVID-19 em Cabo Verde : Os números do desassossego

PorAndre Amaral,26 set 2020 8:37

A 19 de Março deste ano era registado o primeiro caso de COVID-19 em Cabo Verde. De então para cá todas as ilhas, à excepção da Brava, já registaram casos. Ao todo há um total de mais de cinco mil casos, 52 óbitos e dois pacientes transferidos para os seus países de origem.

“Infelizmente recebemos, hoje, pelas 22:30, o resultado do primeiro caso positivo do teste de Covid-19”, apontava a 19 de Março o comunicado, assinado pelo ministro da Saúde, Arlindo do Rosário em que comunicava o aparecimento do primeiro caso de COVID-19 em Cabo Verde. Tratava-se de um turista inglês de 62 anos, de férias na Boa Vista, e que viria a ser igualmente o primeiro óbito contabilizado em Cabo Verde.

De então para cá os números não têm parado de crescer. Esta terça-feira o total de casos positivos acumulados chegava aos 5337 (ver tabela).

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A 19 de Março, tendo em conta o cenário internacional, o governo fechou as fronteiras e a 28 de Março o Presidente da República declarou o Estado de Emergência e durante a sua vigência o número de casos manteve-se baixo em todo o país.

Foi depois do levantamento deste estado especial que o número de casos começou a aumentar e que acabou por se espalhar por todo o país.

Santiago e em especial a Praia tornaram-se o principal foco da doença no país. E apesar de o Director Nacional de Saúde dizer que actualmente, em Santiago, “temos uma situação muito confortável em relação aos focos que tínhamos, nomeadamente em Santa Cruz, São Miguel e São Domingos” os números na capital são tudo menos “confortáveis”. Na Praia foram registados 59% dos casos e é também na capital que se regista a maioria dos óbitos (33) e de casos recuperados (2772).

Só nas últimas quatro semanas, números avançados esta segunda-feira por Artur Correia, “tivemos uma média de 212 casos” sendo que na semana epidemiológica que terminou este domingo registou-se “um mínimo de 166 casos e um máximo de 501”.

De Março a Setembro foram diagnosticados no país mais de cinco mil casos de COVID-19. Um número que preocupa as autoridades de saúde.

“É claro que preocupa. Uma doença com esta envergadura, que provoca óbitos e em que a grande maioria dos casos são assintomáticos, qualquer país tem de estar preocupado com a situação. Mas estamos a fazer todos os possíveis para responder precocemente e conversando com a população para colaborar nas medidas de prevenção e controlo”, aponta Artur Correia em conversa com o Expresso das Ilhas.

Apesar dos números elevados de casos registados até agora o balanço do combate à doença, defende Artur Correia, “é positivo”. “O país tem sabido responder com resiliência ao embate da pandemia e os dados demonstram isso. A pandemia começou com um primeiro caso na Boa Vista, depois com um caso aqui na Praia”, recorda o Director Nacional de Saúde.

As medidas de confinamento “ajudaram muito na organização dessa resiliência. Elaboramos o nosso plano estratégico para a pandemia antes de aparecer o primeiro caso, o que foi um factor muito positivo. Preparamos o país e os profissionais de saúde para responderem a eventuais casos.

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Já sobre o facto de a COVID-19 ter atingido cerca de 1% da população cabo-verdiana, Artur Correia reconhece que o número de casos é elevado mas lembra que Cabo Verde e “todos os outros países têm muitos mais casos do que aqueles que são apresentados na comunicação social”.

Esta é “uma doença com 70% de assintomáticos e é natural que haja mais casos na comunidade que não estão a ser diagnosticados. É uma realidade do mundo inteiro”, reforçou o Director Nacional de Saúde.

Turismo, um regresso adiado

O encerramento das fronteiras levou a uma paralisação do sector do turismo. Uma paragem forçada e que não se pode prolongar no tempo para que a tão falada retoma da economia possa começar uma vez que o turismo é o principal contribuinte para o PIB do país.

No entanto a União Europeia – principal mercado emissor de turistas para Cabo Verde – impôs que cada país tenha em média 20 casos por 100 mil habitantes nos últimos 14 dias para aceitar o regresso das ligações aéreas. Um valor que Cabo Verde está longe de alcançar (ver gráfico nº1).

Como se pode ver pelo gráfico, Cabo Verde tem actualmente quase oito vezes mais casos nos últimos 14 dias do que o limite recomendado pela União Europeia para a reabertura de fronteiras.

Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 982 de 23 de Setembro de 2020.

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Autoria:Andre Amaral,26 set 2020 8:37

Editado porDulcina Mendes  em  5 jul 2021 23:21

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