Já lhe passou pela vista a imagem de supostos “conselhos dos hospitais de isolamento”, com dicas de comportamentos e tratamentos para seguir em casa, relacionados com a covid-19?
É provável que já tenha visto a fotografia que circula nas redes sociais, com alegadas recomendações para superar ou prevenir uma infecção por SARS-CoV-2. A lista alega que os cuidados hospitalares disponibilizados a doentes covid podem ser seguidos em casa.
Sugere-se, por exemplo, que a toma de vitamina C e de vitamina E é eficaz. Do mesmo medo, refere-se que se deve estar ao sol 15 a 20 minutos diários, entre as 10:00 e as 11:00 horas. Aconselha-se a fazer uma refeição com ovo, uma vez por dia, assim como a descansar o mínimo de 7 a 8 horas diárias. Beber 1,5 litros de água também será boa ideia na luta contra o coronavírus. Do mesmo modo, alerta-se para a necessidade de todas as refeições serem quentes (e nunca frias).
Vários sites de verificação de factos em língua portuguesa analisaram esta lista e concluíram que os conselhos contidos na mesma não são válidos, no contexto em que são apresentados. Ou seja, não existe uma relação directa, e cientificamente comprovada, entre as recomendações deixadas e a cura da covid ou a sua prevenção. No entanto, convém irmos um pouco mas longe na análise.
É que, de facto, apanhar sol moderadamente, hidratar-se e ter uma alimentação equilibrada, com verduras, vegetais, proteínas, etc., são hábitos que promovem a saúde, em qualquer circunstância, tal como descansar e praticar exercício físico. A questão é que isso não pode ser directamente relacionado com qualquer tipo de cura em caso de infecção.
Estilos de Vida Saudável
São vários e conhecidos os fatores que podem influenciar de alguma forma a saúde de pessoas e comunidades, usualmente designados por determinantes da saúde.
Vamos desenvolver alguns dos elementos mais polémicos, começando pelo consumo de vitamina C.
No seu canal de YouTube, o médico brasileiro Drauzio Varella ajuda a desconstruir o mito em torno da vitamina C, particularmente, mas não só, na sua relação com a covid-19.
"Se fosse assim, era fácil. A vitamina C é uma coisa barata, o povo pelo mundo inteiro tomava vitamina C e desaparecia o problema da nossa frente. A vitamina C é um mito, estimulado até por propagandas na televisão, dizendo que a vitamina C protegia contra a gripe. Não protege, nem contra a gripe. Come laranja, faz limonada, que vais ter o suficiente de vitamina C no organismo", explica.
Vitamina C previne contra o coronavírus? | Coronavírus #32
A administração da vitamina C não tem nenhum efeito que previna a contaminação. Respeitar as medidas de isolamento social e de higiene ainda é a única maneir...
Outro ponto que tem gerado discussão diz respeito à possibilidade de nos infectarmos ao comermos alimentos em determinadas condições. Por exemplo, podemos comer alimentos frios? Sim, desde que lavados devidamente. Mais uma vez, Drauzio Varella explica:
"Alimentos crus, que foram manipuladas por pessoas que têm o vírus nas mãos, podem servir como fonte de transmissão. A pessoa pega um tomate com as mãos cheias de vírus , o vírus vai ficar na casca do tomate, vai entrar em contacto com a minha boca e tem chance de chegar ao aparelho respiratório. O que temos de fazer é dar preferência aos alimentos quentes, os alimentos que foram cozidos, fritos, etc. Os alimentos que ingerimos crus têm de ser manipulados por pessoas que lavaram as mãos direito. Chegou, vai lavar a mão primeiro e depois lava a fruta também. Tomando esses cuidados básicos, ao manipular esses alimentos, não corre esses riscos", clarifica.
É possível transmitir o vírus através da comida? | Coronavírus #35 | Drauzio Varella
Alimentos podem transmitir o coronavírus. Por isso, o ideal é lavar bem cada um deles e dar preferência aos alimentos cozidos. Tem muita gente que pergunta: a comida é tranquilo ou eu tenho que me preocupar com ela? É possível transmitir o coronavírus através da comida?
Nunca é demais recordar que a Organização Mundial de Saúde e o Ministério da Saúde têm dito e repetido que não há nenhum medicamento, substância, vitamina ou alimento que possa prevenir ou curar a infecção pelo coronavírus.
E novamente as vacinas
Muito se tem dito e escrito sobre o desenvolvimento de vacinas para o SARS-CoV-2. O processo decorre a bom ritmo e, nas últimas semanas, tivemos novidades positivas sobre três das vacinas que se encontram na fase final de ensaio clínico.
Mas, apesar de serem boas notícias, e de tudo estar a ser cumprido, a verdade é que existem pessoas que não confiam na segurança das vacinas e anunciam, com orgulho, que não se deixarão imunizar por elas.
Movimentos anti-vacina usam argumentos do século 19
Foto: Hathitrust Digital Library NOTA DO EDITOR: As opiniões expressas neste artigo são exclusivamente da responsabilidade do autor. A CNN publica aqui um texto do site The Conversation, uma colaboração entre jornalistas e acadêmicos para fornecer análises e comentários de notícias. O conteúdo é produzido exclusivamente pelo site "The Conversation".
O que são vacinas?
As vacinas são substâncias produzidas em laboratório, que têm como principal função treinar o sistema imunitário contra diferentes tipos de infecções. A sua produção é um processo lento e complexo, que pode demorar vários anos, percorrendo etapas que visam atestar a sua segurança e eficácia.
No caso da vacina contra o SARS-CoV-2, os prazos foram encurtados. Primeiro, porque já existia alguma investigação prévia sobre os coronavírus e depois porque foram eliminadas ou agilizadas burocracias – não o processo científico.
Sobre este tema, questionámos o médico João Júlio Cerqueira, fundador do projecto Scimed, dedicado à divulgação científica e à ciência baseada na evidência.
"O que aconteceu foi toda uma organização, por parte da indústria farmacêutica e das instituições que regulam o desenvolvimento de fármacos, para acelerar o processo de início dos estudos, a análise dos dados. Foi muito mais fácil arranjar voluntários, Foi uma acelerar, mas da burocracia. Relativamente aos estudos que são necessários fazer para garantir a segurança e eficácia da vacina, estes estudos foram todos realizados pelas vacinas que nós defendemos", assegura.
É preciso perceber que os receios em torno das vacinas não são de agora. Os anti-vacinas existem há vários anos, alimentados por perigosas teorias da conspiração, sem qualquer rigor científico.
A internet está cheia de mentiras sobre as vacinas. Mas a mesma internet também está repleta de informações que explicam, de forma clara, o motivo pelo qual é tão importante – e seguro – cumprir com os planos de vacinação dos nossos países.
"Na prevenção de doenças, temos diversas possibilidades, diversas coisas que interferem: informação, saneamento , alimentação, [mas] a vacinação é a mais importante. A vacina permite que se leve ao contacto da pessoa um determinado agente infeccioso sem que ele cause infecção, mas com possibilidade de ensinar os sistema de defesa do organismo a agir. À medida que a vacinação se implanta, vamos tendo a população protegida pela vacina. As doenças vão diminuindo, até que chega a um ponto em que muita gente nem ouviu falar dessas doenças , então não se preocupa em procurar uma protecção", sublinha o investigador da Fiocruz Brasília, Cláudio Maierovitch, comentando sobre os mitos e verdades das vacinas.
Importância da vacinação
O pesquisador da Fiocruz Brasília Cláudio Maierovitch, fala sobre mitos e verdades das vacinas. Ele explica porque os índices de vacinação estão caindo no ...
Tão importante quanto a vacina, é lembrar que, até que ela chegue e esteja disponível para todos, lavar as mãos, usar máscara, manter o distanciamento físico e cumprir regras de etiqueta respiratória são comportamentos que podemos ter e que ajudam a travar a propagação do novo coronavírus. Afinal, somos todos responsáveis uns pelos outros.
Sobre o Teste Rápido
O Teste Rápido é um projecto da Rádio Morabeza e do Expresso das Ilhas. Todas as informações usadas neste programa estão disponíveis na Internet. Pode ouvir-nos na rádio (quinta-feira, depois das 11h00), recuperar-nos em formato podcast ou ler-nos aqui, no site do jornal.