Forças Armadas um aliado do país na batalha contra a COVID-19

PorSheilla Ribeiro,7 dez 2020 7:43

As Forças Armadas (FA) desde o início da pandemia estiveram na linha da frente nesta luta contra o “inimigo invisível”, mobilizando todos os seus efectivos. Entretanto, a instituição castrense adoptou também um conjunto de medidas de prevenção contra a COVID-19 dentro da própria organização. Pois, para ajudar o País, é preciso estar bem e em segurança internamente.

Em declarações ao Expresso das Ilhas, o Capitão de Patrulha e Comandante da Terceira Região Militar, Silvino Monteiro Chantre, conta que, desde o momento em que a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou emergência internacional de saúde pública, as FA elaboraram um plano de contingência e acção para a prevenção da transmissão humana pelo coronavírus na instituição.

Assim, antes da declaração do primeiro caso de COVID-19 a 19 de Março, na ilha da Boa Vista, as FA já tinham iniciado sessões de educação para a saúde, com realização de formação e informação sobre medidas de prevenção a todos os órgãos, comandos e serviços. Também, já tinham adquirido equipamentos individuais de protecção e identificado possíveis espaços de isolamento bem como a formação do pessoal de saúde para enfrentar a situação.

Entre as medidas implementadas constam ainda o uso obrigatório de máscaras na unidade, redução do efectivo por gabinetes e horário de trabalho, redução do número de praças no refeitório e redução do número de militares transportado nas viaturas.

“Dizemos que o nosso grande trunfo foi nos termos preparado com muita antecedência, o que veio a repercutir claramente nos resultados e no controlo da situação registada até agora. Até este momento registamos 127 casos acumulados. Consideramos um número muito bom em termos do nosso controlo tendo em conta o número de servidores existentes nas FA. Hoje temos três casos activos”, indica.

Para o Comandante da Terceira Região Militar, as medidas que foram coordenadas, em “tempo oportuno”, colocou e mantêm as FA como uma das instituições cabo-verdianas com o “melhor controlo da situação”. Isto, tendo em conta o número de servidores e a propagação do vírus nas unidades militares.

“As medidas foram tomadas com muita antecedência pensando que teríamos que estar aptos para podermos sair das unidades militares para apoiarmos, acudirmos a população e as demais autoridades sanitárias e também as autoridades de segurança”, assegura.

Para tal, prossegue, entre Março e Maio, todos os efectivos ficaram em isolamento nos quartéis, de forma a evitar a circulação dos militares e assim diminuir a probabilidade de contágio pelo vírus, de modo a sair e apoiar a população e o Serviço Nacional de Protecção Civil (SNPC).

Operação de guerra das Forças Armadas

Na pandemia, o foco das FA são as acções de logística, pela sua capacidade de chegar a lugares remotos e pelo apoio que pode conceder na área médica. Desta forma, no dia 20 de Março, um dia depois de ser identificado o primeiro caso na Boa Vista, foi enviado o primeiro contingente militar para aquela ilha.

As FA desenvolveram ainda actividades como o patrulhamento apeado e motorizado nas principais vias de acesso da cidade da Praia, apoio à Polícia Nacional na fiscalização e controlo das praias e litoral dos concelhos de Santa Cruz e Tarrafal de Santiago, bem como apoio na fiscalização e supervisão do cumprimento do horário de encerramento dos restaurantes e bares.

“Apoiamos o Serviço Nacional de Protecção Civil nas primeiras horas nas campanhas de sensibilização e, posteriormente, de fiscalização juntamente com as autoridades de segurança, principalmente a Polícia Nacional e a IGAE”, descreve.

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Nesse apoio, além de todos os efectivos das FA, foram mobilizados todos os meios, incluindo meios da Guarda Costeira que, conforme Silvino Monteiro Chantre, foram “fundamentais” na fase inicial, com o transporte dos testes da ilha da Boa Vista para a cidade da Praia.

“Também no transporte de elementos que compõem a equipa de Saúde a nível nacional, SNPC, elementos da PN que foram reforçar a segurança na ilha da Boa Vista bem como os contingentes militares que foram à ilha da Boa Vista tanto os contingentes do Comando da 3ª Região Militar, como também do Comando da 1ª Região Militar e da 2ª Região Militar”, diz.

Em termos de organização e de preparação para o cumprimento da missão, o Comandante da Terceira Região Militar refere que a luta contra a COVID-19 tem características de guerra.

“Embora sendo um inimigo invisível, o vírus, em termos de preparação e composição de forças para a missão, diria que seria o mesmo para a guerra, embora com missões completamente diferentes em caso de guerra. Por isso, podemos até levar em conta que essa operação se trata de operação humanitária e não de guerra”, aponta.

Neste momento, as FA têm em curso acções semelhantes àquelas que foram desenvolvidas no início da pandemia, em que estiveram presentes em todos os municípios do país, com excepção do Maio e da Brava.

Actualmente, actuam na Praia, Santa Catarina, São Miguel, São Filipe, bem como na da Boa Vista com uma “pequena” equipa a apoiar o SNPC no âmbito de fiscalização.

Impacto na instituição

“As FA continuam cumprindo o seu papel tratando-se da COVID, que é uma ameaça à saúde pública. As FA desde a primeira hora disponibilizou-se por completo para voltar às suas acções cancelando várias actividades planificadas para se preparar e enfrentar a COVID-19. AS FA têm estado sempre prontas a responder aos chamamentos em todos os domínios no âmbito de apoio ao SNPC”, garante.

Na área operacional, foram suspensas todas as actividades e treino operacional, houve um aumento de destacamentos militares, sobrecarga na escala de serviço de guarda e reorganização da organização interna, conforme o entrevistado.

A Terceira Região Militar cancelou ainda actividades que estavam previstas como o alargamento do refeitório de Graduados, alargamento do refeitório de Praças, intervenção na sala de ensaio da Banda Militar, entre outras.

O trabalho dos militares

Numa conversa com este jornal, o Segundo Cabo, Carlitos N’ Denhe, que fez parte do contingente militar enviado para a ilha da Boa Vista, afirma que o trabalho das FA na luta contra a COVID-19 foi “muito bom”.

O Segundo Cabo descreve os dias em que esteve naquela ilha como sendo “dias de luta”, de “muito trabalho”, mas incansáveis. Eram chamados a qualquer hora e estavam sempre disponíveis.

“Foram dias de luta, por cada trabalho que fizemos recebemos um bom feedback da sociedade, que elogiou o nosso trabalho e percebeu que a nossa presença mostrava a gravidade da situação. Foi bom”, enfatiza, acrescentando que no princípio o medo de contrair o vírus era uma constante. Isto porque, conforme menciona, tratava-se de algo desconhecido, visto apenas na televisão.

“No início, o psicológico tem que passar por isso, já que era algo que víamos acontecer em outros países, não esperávamos que aqui chegasse, que tivéssemos de lidar com este problema. À medida que o tempo passava e com o apoio do nosso Comandante, o pessoal da Saúde que andava com a gente, a Protecção Civil, a Polícia, a Cruz Vermelha, deixamos de sentir tanta aflição”, exclama.

Quando os militares chegaram à Boa Vista, Carlitos N’ Denhe conta que a população se mostrou receosa e foram-se abrindo aos poucos e, no fim, o feedback foi “positivo”.

“No início, quando lá chegamos as pessoas mostraram-se assustadas e diziam sempre “os militares estão aqui”, mas, depois entenderam a importância da presença dos militares. Sabemos que o vírus voltou a circular na ilha, embora com menos intensidade, mas se for preciso regressar à ilha, nós, as FA, somos incansáveis, estamos aqui para ajudar Cabo Verde”, frisa.

Conforme Carlitos N’ Denhe, trabalharam 24 horas tanto na sensibilização da população, em conjunto com a Cruz Vermelha, como no apoio à população e na fiscalização do cumprimento das normas.

Para este militar, no início foi difícil adaptar-se a uma nova forma de viver nos quartéis devido ao vírus.

“Tivemos de nos adaptar a um novo estilo de vida. No início estávamos obrigados a adoptar este estilo, mas por ser para uma boa causa demos o nosso contributo. Há coisas que sempre fazíamos mas não dávamos tanta importância, como o distanciamento social, o uso de máscaras, o lavar constante das mãos. Sempre fazíamos mas agora é preciso um rigor redobrado”, cita.

Com os colegas, relata, teve de fazer distanciamento, mesmo que estivessem isolados na unidade sem o contacto com o exterior, seguindo todas as recomendações das autoridades sanitárias para que estivessem sempre prontos para acudir a sociedade.

Por sua vez, o soldado Walter Mendes, que também esteve na Boa Vista, descreve que durante o tempo em que esteve na ilha estava preocupado com a sua saúde, assim como os seus familiares.

“Estávamos a enfrentar algo que víamos nas notícias internacionais como sendo perigoso, que mata e altamente contagioso. Então, a nível psicológico claro que eu estava com um pouco de medo e a minha família preocupada. Com o tempo, encorajamo-nos uns aos outros. Tínhamos muita luta e demos o nosso máximo todos os dias para que as coisas melhorassem, afinal estamos aqui para lutar por Cabo Verde”, ressalta.

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Assim como o Segundo Cabo, Walter Mendes revela que a população mostrou-se receosa com a presença dos militares a princípio, mas que, com o tempo deram importância ao trabalho das FA.

“As pessoas passaram a nos receberam bem, de bom humor. Porque quando perceberam o porquê de estarmos ali, sensibilizando-as para o uso das máscaras, distanciamento social e outras medidas de prevenção, passaram a nos tratar bem. Aliás, fizemos um bom trabalho”, reforça.

Apesar do “trabalho duro”, o soldado diz que os FA estão preparadas para estar na linha da frente perante esta ou qualquer situação. 

Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 992 de 2 de Dezembro de 2020. 

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Autoria:Sheilla Ribeiro,7 dez 2020 7:43

Editado porSheilla Ribeiro  em  10 set 2021 23:21

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