Cabo Verde deve preparar-se bem para a detecção precoce de epidemias - Carlos Brito

PorSara Almeida,27 fev 2021 5:30

Depois de vários anos a trabalhar na Organização Oeste-africana da Saúde (OOAS), onde coordenou a instalação o Centro Regional de Vigilância e Controlo de Doenças (CRVCD), que dirigiu, Carlos Brito regressou a Cabo Verde. Nesta entrevista ao Expresso das Ilhas, o médico, mestre em Saúde Pública e especializado em Infecciologia, fala das epidemias e vírus em geral, e do Ébola e do SARS-CoV-2 em particular.

Uma conversa que passa por alguns estados da CEDEAO e em especial por Cabo Verde, onde se destaca a necessidade de este ser um país “bem preparado” por exemplo, na detecção precoce que é o primeiro passo para um combate de sucesso às epidemias.

Aos 12 anos de idade, já a paixão pela profissão que iria seguir se manifestava. Juntamente com um amigo, caçava ratos no sobrado da avó para os operar e iniciava-se assim a sua vida de (futuro) médico.

Mnine d’ Soncent, Carlos Brito nasceu, na verdade, em Santo Antão onde o pai estava destacado na alfândega. Anos depois, atravessou o canal, para a ilha da sua família, onde prosseguiu os estudos. Concluído o secundário, “emancipou-se” e rumou à Rússia, onde tirou o curso de Medicina. A volta a Cabo Verde foi também o regresso à ilha que o vira nascer. Estávamos em 1983, assentou em Porto Novo, a trabalhar. “Foi onde a minha vida profissional começou e me fiz profissional.”

Apenas umas décadas separam esta conversa com o EI, mas a realidade de então nada tem a ver com hoje. Parecem “histórias dos tempos antigos”, como brinca a filha, também médica, quando ele recorda esse tempo. Era o único médico em Porto Novo, numa altura em que não havia luz, nem telefone, nem estradas. Teve de aprender a montar porque as deslocações se faziam de mula, principalmente para os povoados mais distantes e no âmbito das campanhas de vacinação.

“As condições eram muitíssimo complicadas, de todos os pontos de vista”, recorda.

Ali esteve anos, percorrendo caminhos e trabalhando no hospital, que então “funcionava numa antiga reformaria militar, que era a mesma reformaria onde Agostinho Neto fazia consultas na ilha”.

Em 88/89 fez um mestrado em Saúde Pública na Bélgica, Antuérpia. E continuou em Santo Antão até 92 quando se mudou para a Praia.

Olhando o país de então, em termos epidemiológicos, as diferenças são grandes. Predominavam claramente as doenças infecciosas. A mortalidade infantil era, para se ter uma ideia, na ordem dos 80, 90 por mil nados vivos [segundo os dados mais recentes do INE, em 2018, a taxa de mortalidade infantil era de 12,9%).

Ainda nos anos 80, nos seus anos de exercício em Santo Antão, numa altura em que os quadros em geral, e na medicina também, eram muito poucos, Carlos Brito integrou o Gabinete de coordenação de saúde pública, “que tinha por missão tentar coordenar entre as diferentes ilhas, as diferentes delegacias, aquilo que eram as principais intervenções de saúde pública, em que constava a vacinação, o atendimento pré natal, o controlo da tuberculose, a lepra, que continua a existir em Cabo Verde, mas que na altura era um problema muito maior do que é hoje”.

Ainda surgem anualmente cerca de 12 a 15 casos por anos de lepra no país. E alguns casos de tuberculose. “Hoje em dia são doenças que aparecem em determinados contextos sociais, associados à pobreza, ao habitat e continuamos a ter problemas dessa natureza que não são de pouca monta”, observa.

Em 1992, como dizíamos, Carlos Brito mudou-se para Praia, trabalhando primeiro no programa contra a Sida e depois no departamento do controlo de doenças. “Um pouco mais tarde, em 96, vou para o Hospital Agostinho Neto porque comecei a preparar-me para a especialização. Em 98 fui para Portugal, onde fiquei até 2003 no Hospital Egas Moniz, para fazer a especialidade de infecciologia”, recorda.

Quando voltou, em 2003, assumiu o cargo de Director Nacional da Saúde. E ao fim de três anos começou “a sentir uma certa vontade de ter uma experiência fora de Cabo Verde”. Isso levou-o ao escritório nacional da OMS e, em 2008, surgiu a oportunidade de trabalhar na agência de saúde da CEDEAO.

Seguiu então rumo ao Burkina Faso onde está sediada a OOAS e, como director de saúde pública da OOAS, coordenou a equipa de implementação do CRVCD [ver caixa], em Abuja, do qual foi, concomitantemente, o primeiro director.

“Era o que eu fazia, até há 2, 3 meses, antes de regressar a Cabo Verde, reformado”. Regressou em Novembro, mas Carlos Brito, que ainda não está aposentado no país. Continua a trabalhar, agora no Ministério da Saúde, no serviço de controlo de doenças, no âmbito das doenças epidémicas “crónicas”, ou seja, “doenças de fenómenos prolongados não fenómenos agudos”, como a tuberculose.

Para trás, a longa experiência de luta contra todo o tipo de epidemias….

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Quando chegou a Bobo-Dioulasso, Burkina Faso, como era a situação de saúde dos 15 da CEDEAO? Apesar de os países serem muito diferentes entre si, há a ideia generalizada de que Cabo Verde está melhor …

Sim, são países muito diferentes. Eu não gosto muito da expressão que se utiliza aqui sobre a “especificidade” de Cabo Verde. Cada país tem a sua especificidade e não me parece sequer que, em África, Cabo Verde seja o mais “específico”. Há países bem mais específicos e bem mais complicados nas suas especificidades. No entanto, quando se observa os 15 países da CEDEAO, e, de uma forma geral, os países africanos… Quando os franceses chegam à Costa do Marfim, ou os ingleses chegam à Costa do Ouro, Gana, ou os portugueses chegam à costa da Guiné, à Guiné-Bissau, havia lá uma cultura, pessoas que viviam com tradições estabelecidas, uma organização social, e aquilo que temos hoje nesses países é o resultado dessa interacção de culturas, regras, tradições. Quando os portugueses chegaram a Cabo Verde, não havia gente. Aquilo que é Cabo Verde hoje, formou-se com os portugueses trazendo gente. É substancialmente diferente, e faz com que as instituições em Cabo Verde sejam as instituições que foram montadas pelos portugueses. No Burkina Faso há uma etnia que altamente maioritária, a etnia Mossi, que é praticamente 85% da população do Burkina, mas que também tem populações no Gana, no Níger e no norte da Costa do Marfim. Eu perguntava aos colegas do Burkina Faso, "quem é mais importante para vocês, Mogho Naba, o rei dos Mossi, ou Blaise Compaoré”, presidente na altura. Alguns têm dificuldade em responder a essa questão, mas para aqueles que respondem é claramente Mogho Naba. A referência de poder, da organização, daquilo que é tradição, etc, é o Mogho Naba. Blaise Compaoré é qualquer coisa que foi destacado, que tem dinheiro, exército, e que manda. Cabo Verde não tem isso. A forma como eu olho para o poder não pode ser a mesma que um burkinabé. Se diferenças há, estão naquilo que foram as nossas histórias respectivas e a forma como nós chegamos hoje aquilo que é o cabo-verdiano, o burkinabé, o costa-marfinense ou o senegalês.

Dito isso, em termos de fragilidades, de riscos epidémicos, não somos assim tão diferentes. De 95 a esta parte: em 95 tivemos uma epidemia de cólera; em 97 uma epidemia de sarampo, enorme, com muitas mortes, depois tivemos rubéola, dengue, zika, paludismo em 2017. Normalmente, Cabo Verde não tem muitos casos e teve um surto epidémico importante em 2017. São as epidemias que normalmente se encontram também nos outros países do continente.

Cabo Verde teve, por exemplo, um Plano de Vacinação que resultou…

Sem dúvida. Há uma evolução global muito positiva, naquilo que foi a dinâmica e o desenvolvimento social e económico de Cabo Verde. Muitas coisas vieram por arrastamento do facto do rendimento das pessoas ter aumentado. Acho que o desaparecimento, praticamente, da lepra e do paludismo em Cabo Verde é muito por causa disso. Hoje praticamente não se fala de paludismo em muitas áreas de Cabo Verde, não porque tenha havido um Plano de Eliminação do Paludismo...

Mas houve...

O Plano é muito recente. Quando tivemos um Plano praticamente já não existia paludismo em São Vicente, Santo Antão, São Nicolau, no Sal. Da mesma forma, no principio do século passado havia paludismo no Sul da Europa. Não houve um plano de erradicação do paludismo, o desenvolvimento social e económico dessas regiões eliminou o paludismo. Acho que nos aconteceu isso. Até determinada altura, o desenvolvimento social, o desenvolvimento humano, global, trouxe por arrastamento muitas outras coisas. Portanto, de facto há essa diferença do ponto de vista daquilo que foi o desenvolvimento social e económico do país, claramente, mas isso não nos tem impedido de ter essas epidemias, como falei. Cabo Verde é um país que seguramente vai estar sempre exposto a riscos. Cabo Verde é, se calhar, o primeiro caso de globalização do mundo, com pessoas que vêm, que passam por aqui, sistematicamente, vindas de todas das partes do mundo e por isso, também, o país esteve muito exposto, entre outras coisas, a riscos epidémicos. Daí a necessidade de ser um país extremamente bem preparado em termos de detecção precoce. 

O combate às epidemias faz-se, antes de tudo, pela capacidade que se tiver de diagnosticar o primeiro caso, de estar o mais próximo possível do caso índice, investigar, saber do que se trata e tomar as medidas que se impõe para o circunscrever.

Cabo Verde tem conseguido ser bom nessa detecção e diagnóstico?

Não acho, temos tido alguns atrasos. Os diagnósticos, por exemplo, das epidemias de que falo, os fizeram-se com algum atraso, e agora, no mundo actual, os riscos … antes a gente preocupava-se só com os movimentos das pessoas, agora, neste mundo globalizado, os problemas são muito maiores, acho que temos ainda muito a fazer nesse aspecto.

Há pouco falava de como o desenvolvimento conseguiu “acabar” com algumas pandemias/epidemias. Por outro, lado o desenvolvimento vai trazendo novos vírus – como o SARS-CoV-2 - com que não tínhamos ainda tido contacto. A covid veio mostrar que a abordagem One Health é mesmo o caminho?

No mundo global aquilo que a gente sabe hoje é que 70, 80% das doenças infecciosas que afectam o homem têm alguma ligação com o mundo animal, seja por contaminação alimentar, como por exemplo as salmoneloses, bactisteria, a doença das vacas loucas, seja por vectores, doenças transmitidas por vectores, como o dengue, paludismo, zika. Portanto, de uma forma geral as doenças que são infecciosas têm alguma relação com os animais numa percentagem muito elevada. Por outro lado, o tratamento dessas doenças também tem relação com o mundo animal. É verdade que a resistência antimicrobiana tem por base, e muito, o mau uso dos antibióticos e a sua qualidade. Mas há outro grande problema que é a utilização dos antibióticos na pecuária. Um dos grandes problemas do aparecimento das resistências é a utilização que é feita dos antibióticos na criação de animais, com consequente transmissão de bactérias ao homem, por via alimentar. Bactérias que são já resistentes a antibióticos, que são os mesmos que nós usamos, como a amoxicilina, por exemplo. Há essa relação clara. E, por último, a parte ambiental traz uma questão de ainda maior importância. Aquilo que se discutiu na Cimeira de Paris [2015] relativamente às mudanças climáticas é porque o que se tem verificado nos últimos 20 anos é que, devido à pressão ambiental, a cada 2 anos, há mais ou menos 3 vírus novos que aparecem, emergem, ou vírus que reemergem com maior violência do que tinham anteriormente. Portanto, seja o mundo animal, seja o ambiente em que nós vivemos condiciona essa saúde e no mundo global isso faz-se sentir ainda mais.De onde a necessidade de uma abordagem que tem em conta tudo aquilo que se passa no mundo animal, no ambiente e também na saúde humana. Para exemplificar porque precisamos dessa abordagem "Uma Só Saúde", porque é que tem de haver uma abordagem multidiscipinar, multisectorial para a saúde, há uns dias, eu dizia numa reunião em que participava o sr Ministro da Agricultura: "Podemos ter raiva em Cabo Verde. Há nos países circundantes, nós temos uma população canina que não me parece que tenhamos capacidade de controlar, podemos ter raiva. Se tivermos, quem pensamos que será o primeiro a saber?” Então, esses actores, em essas disciplinas, que podem eventualmente ter conhecimento de um primeiro ou do aparecimento de um surto têm de estar conectados, têm de partilhar informação, tem de estar juntos para a investigação e para a resposta, e é isso que chamamos Uma Só Saúde.

Como está essa abordagem em Cabo Verde e na CEDEAO?

Ainda temos politicamente muito para fazer. Se é verdade que o conceito está interiorizado, as pessoas sabem o que é, mas o que fazer, como fazer para levar esses três sectores [Saúde, Agricultura/Pecuária, Ambiente] a partilharem informação e, em consequência dessa informação, poderem agir conjuntamente para a investigação e para a resposta, isso não temos. E quando temos, é de uma forma pontual, não de uma forma organizada, estruturada, sistematizada. O Instituto de Saúde pública da Nigéria, nesse aspecto, conseguiu alguns avanços naquilo que é a CEDEAO e os seus países. Um exemplo, na década de 80 apareceram uns bidões numa das praias de Santiago, com qualquer coisa que cheirava a grogue. As pessoas começaram a beber. Era metanol. Além da morte que pode causar, também dá cegueira, e entre o problema aparecer, numa povoação bem pequena, e a causa ser identificada, os prejuízos para a saúde humana serem identificados, levou algum tempo. Na Nigéria há produções artesanais de tudo. Havia uma produção de gin clandestina, alguém produzia, engarrafava e vendia. Num quarteirão de Lagos, pequeno e relativamente isolado apareceram três pessoas que ficaram cegas. Houve uma reacção a isso muito mais rápida do que a que nós tivemos no nosso caso de metanol, considerando tratar-se de um fenómeno anormal. Não é normal, num quarteirão três pessoas fiquem cegas de repente, qualquer coisa se passa, é preciso investigar. Mas a informação não chegou dos serviços de saúde humana, chegou das pessoas que gerem o território. Portanto esse partilhar de informações conjuntas, para terem atenção a todos os fenómenos que vão acontecendo que possam eventualmente [impactar] a saúde humana, nós ainda não temos.

Esse caso em Lagos foi mais recente do que o de Santiago [Rincão]. As coisas também vão evoluindo…

Sim, tem essa vantagem... mas o ébola…

Seguiu de perto a epidemia do ébola. Como foi?

O ébola apareceu numa aldeia da floresta da Guiné Conacri, numa zona que é um bocado o celeiro de toda aquela região. Há gente que vem da Costa do Marfim, da Guiné, do Mali, que se juntam aos mercadores da Serra Leoa e da Libéria, e que fazem a venda dos seus produtos agrícolas através do rio Mano, é uma zona economicamente muito activa e o conhecimento das fronteiras, o respeito das fronteiras é inexistente. O ébola teria aparecido nos primeiros dias do Dezembro de 2013, em que numa família adoeceram e morreram três pessoas. Posteriormente no posto sanitário dessa região morreram mais três enfermeiras. Estamos a falar de uma aldeia de 400 pessoas. Numa semana, numa aldeia de 400 pessoas morrerem seis pessoas, isso tem de chamar a atenção. Se no mesmo dia, em São Vicente ou mesmo na Praia, eu visse seis funerais, isso teria de chamar a atenção. O que aconteceu? Até pode ser que não tenha acontecido nada, mas deve chamar a atenção. Esse fenómeno não chamou a atenção, embora até tenha sido publicado na comunicação social. A investigação só foi feita em Março de 2014, esses meses custaram 11 mil mortos. Não quero dizer com isso dizer que não haveria uma epidemia. Não sei, mas seria diferente, seguramente. Mas este atraso em detectar, investigar, cercar e actuar foi de praticamente 3 meses, pelo menos, e custou 11mil mortos.

Mas nessa epidemia de ébola Cabo Verde esteve aparentemente bem. Fechou ou pelo menos fez controlo das fronteiras e a doença não chegou cá. Pelo menos é a percepção geral. Qual a sua avaliação?

Na altura, vim duas ou três vezes a Cabo Verde, no quadro da CEDEAO. Eu não acho que as nossas fronteiras estivessem fechadas… Sobre fronteiras, deixe contar um episódio na Guiné Conacri, para lhe dizer que não é diferente em Cabo Verde. No quadro do ébola, eu tinha ido para Meliandou , que é uma aldeia que fica na fronteira com a Libéria. A poucos metros da aldeia, já é Libéria. Do outro lado havia um centro de saúde e eu estava a conversar com um senhor e perguntei-lhe qual era a dificuldade que tinham de frequentar aquele centro de saúde, do outro lado da fronteira. O homem não estava a perceber a minha pergunta. Mas porque é que havia de ser difícil, se é tão perto? Até que eu expliquei, que o centro ficava na Libéria. O homem respondeu: ’voce é que diz que lá é Libéria’ - em qualquer caso não fui eu que disse! (risos). Ora, isso mostra o que é a vulnerabilidade das fronteiras que temos. E as fronteiras de Cabo Verde, apesar do oceano, não são assim tão [impeditivas].

O que aconteceu durante esse tempo? Primeiro, o ébola não é uma doença como a covid. Com o ébola adoece-se, não há assintomáticos. Sabe-se hoje que as pessoas ficam contagiosas cerca de 36 a 48h após o aparecimento da febre e foi na altura que se começou a usar os termómetros infravermelhos nos aeroportos, portos, em todo o sítio, porque se for diagnosticada a febre, há que imediatamente isolar a pessoa. Se a febre começou ontem, em principio, a pessoa ainda não é contagiosa, eu tenho tempo para tomar as medidas necessárias. Ora, tem sintomas, não tem assintomáticos. Nós não tínhamos esse controlo nos nossos aeroportos e portos nessa altura. Não se fazia propriamente o controlo das temperaturas nos aeroportos. Perguntava-se de onde vinha, e eu conheci um monte de gente que naquela altura partiu para Cabo Verde, via Paris ou via Lisboa. Diziam, ‘eu venho de Lisboa’. Tivemos o caso de um barco chinês, com tripulantes da Serra Leoa e que vinha desse país, ao qual foi imposta uma quarentena, mas as pessoas vinham de bote para a terra. Vieram encontrá-las no Mindelo…

Então como Cabo Verde consegui passar incólume?

Provavelmente Deus era cabo-verdiano. Mas repare, a ligação entre a Guine e o Mali é muito intensa através dessa zona [onde apareceu o ébola], o Mali não fechou as fronteiras, mas não teve ébola. Teve um ou dois casos, mas não houve uma propagação da epidemia. 

O ébola não se propaga facilmente precisamente porque mata. A grande vantagem que o SARS-CoV-2 tem é o facto de ter muita gente assintomática e de ter uma letalidade muito baixa. Assim, ele pode-se propagar.

Aliás, uma das adaptações dos vírus e das bactérias, enquanto seres biológicos, é a de diminuir a sua virulência, porque não convém ao vírus matar o homem que infecta. Se o mata muito depressa ele próprio morre. Tão maior ou mais extensa é a epidemia quanto menos virulento for a bactéria ou o vírus. No passado tivemos a peste bubónica, doenças que mataram, e muito, e que se propagaram, mas não é a situação hoje. O ébola em alguns contextos tem uma letalidade de 70%, 7 pessoas em 10 morriam. É muito difícil a propagação nesse contexto. A epidemia foi declarada oficialmente em Março de 2014. Na Guine Conacri até Dezembro de 2015, e a OMS declarou a epidemia controlada, nos primeiros meses de 2016, primeiro na Libéria depois na Serra Leoa. Tivemos casos em outros países, um caso no Senegal, um ou dois no Mali e também na Nigéria, em Lagos...

Foi essa questão natural que conteve a epidemia do ébola ou as medidas tomadas?

As duas coisas. O facto da doença não ter uma capacidade de propagação muito rápida, e também as medidas. Há muita coisa que a gente, apesar de tudo, não conhece muito bem sobre o Ébola, pensa-se que o reservatório principal do vírus do ébola seja o morcego. Embora não haja uma comprovação científica, tudo aponta nesse sentido. A contaminação do homem ter-se-ia dado na preparação do morcego, não na ingestão. Ter-se-ia dado através do sangue, de morcegos, contaminado para o homem [por uma ferida, por exemplo]. Em muitas das práticas dos funerais, em particular nas comunidades muçulmanas, o corpo tem de ser muito bem lavado antes de ser embrulhado no tal lençol branco para se levar para o enterro. Tratando-se de um cadáver de ébola, ele continua a ser contagioso. Na altura, houve uma intensa actividade, com todas as dificuldades que existem, porque é uma tradição muito forte, no sentido de se securizar os funerais, não só do ponto de vista da frequentação [dos funerais], mas de como os cadáveres podiam ser preparados, onde e por quem, e isso acabou por dar os seus resultados. É bem provável que a Guiné e a Libéria continuem a ter casos de ébola. Ainda há bem pouco tempo ouvimos a notícias sobre isso. Mas uma coisa é ter casos, outra coisa é ter uma epidemia.

A OMS está a mandar vacinas para a região. A Guiné-Conacri iniciou esta segunda-feira a campanha de vacinação. Finalmente apareceu vacina, já depois da epidemia.

Sim. Há uma vacina, que é utilizada, mas não se sabe até que ponto ela é suficientemente eficaz. Os dados ainda são muito escassos.

Recentemente, vi um cartoon que dizia “ainda bem que o coronavírus mata pessoas brancas e ricas, porque se não, não teríamos ainda a vacina”. Uma vacina no espaço de um ano, é histórico… no ébola não houve esse afã?

Esse mundo é complicado. É normal e legítimo… Se eu me apresentar a discutir qualquer situação ou investimento da saúde, no contexto internacional é evidente que vou estar a a pensar qual é o interesse de Cabo Verde, e é esse interesse que eu defendo. É a mesma coisa que faria um senegalês, um português, um americano. É "normal".
Acho é que se há uma coisa que a globalização e as epidemias recentes mostram, é que apesar de tudo - e a própria discussão das situações que tem havido relativamente à questão das alterações climáticas, da necessidade de proteger o ambiente etc, - se há uma lição que temos de tirar, é que há uma premente necessidade de um maior altruísmo no mundo, de uma melhor partilha. Mostrar que eu não posso estar bem sozinho, é preciso que o meu vizinho também esteja bem para eu garantir o meu bem-estar. Essa lição, essa conclusão, é-nos dada agora pelas epidemias recentes, mas não é assim que o mundo tem funcionado até agora. Por exemplo, a questão do reforço dos laboratórios. Os laboratórios são um elemento fundamental do diagnóstico precoce. Quando os EUA [no que toca aos CDC] puseram a questão "quem é que sabe primeiro?" é evidente que estavam a pensar num laboratório qualquer. Esses laboratórios devem estar ligados com os CDC, mas transporte-se essa questão para Cabo Verde. Se houver um caso de febre amarela, quem sabe primeiro não é o laboratório porque não fazemos esse diagnóstico de laboratório. Portanto, ao discutir a necessidade de reforço dos laboratórios, eu encontrava-me do lado em que eu estou interessado no reforço dos laboratórios globalmente, porque preciso como é evidente do laboratório para o diagnóstico de doenças infecciosas, nomeadamente aquelas que podem ser transportadas de um país ao outro, mas também estou interessado em ter um laboratório que me assegure um bom seguimento de um hipertenso, de um radiopata, de um diabético. Quero ter um sistema de laboratório e não um gabinete de laboratório para diagnosticar vírus. É bom ter isso para os vírus, mas não me chega. A resposta recebida, é “não, eu estou interessado é nas doenças que me podem chegar”.

Não estou a fazer uma crítica directa, o mundo funciona assim, ou funcionou, ou funciona, talvez, ainda assim. Há os interesses de uns e outros e cada qual situa-se do seu lado, no entanto, aquilo que nós temos tido em termos das epidemias e da forma como as doenças se têm comportado, aquilo que temos de fazer para melhorar o clima, melhorar o ambiente, não conseguirá ser feito só por um lado e terá de haver seguramente uma atitude muito mais solidária e altruísta.

Voltando ao ébola. Foi preciso uma pandemia desse tipo para criar o CRVCD-CEDEAO [ver caixa]?

Em 2009, tinha eu acabado de chegar à CEDEAO, na primeira reunião de ministros houve uma proposta da criação da CDC, proposta curiosamente feita pela OMS - OMS Brazzaville, que sugeriu a necessidade de se criar esse centro. Os países passaram anos a discutir onde seria a sede. Foi preciso ter o ébola para, em 2015, finalmente se decidir avançar. Os documentos que foram elaborados para sustentar a criação do centro, foram feitos em 2015. Eu tive o prazer de coordenar a equipa que elaborou o regulamento da rede de laboratórios e Institutos de Saúde Pública, que iriam sustentar esse centro, bem como o seu regulamento de funcionamento, com as funções que deveria ter, etc. A saúde publica tem vários eixos de intervenção, mas para o CDC da CEDEAO, na altura, foram escolhidos quatro domínios como sendo prioritários, que deviam interagir. Um era um eixo que permitiria o alerta precoce. Como os países podem ter um alerta precoce. Tem vários ramos. Baseia-se fundamentalmente nos grandes hospitais. Mas se eu quiser saber se há alguma coisa em Salamansa em São Vicente, ou no Rincão, a aldeia de Santiago onde nos anos 80 ocorreu o caso de metanol, há pessoas que por conhecimento estão ligadas através do telemóvel e relatam eventos. Por outro lado, o CDC mesmo tem no seu seio uma equipa cuja função é seguir os media. Aqui é representado pelo INSP, que faz a ligação entre Cabo Verde e o centro de Abuja. O segundo pilar é a questão dos laboratórios. Teríamos de ter uma rede de laboratórios que a nível regional pudesse assegurar o diagnóstico biológico do essencial dos riscos. Mesmo que eu não tivesse, ver o que eu deveria fazer para que o laboratório de Dakar fosse utilizado o mais facilmente possível. Depois o pilar work force, epidemiologistas de intervenção, portanto, gente [de cada país] que possa fazer investigação de terreno em caso de necessidade.

Cabo Verde deve, brevemente, começar a sua formação desses quadros, que são normalmente são médicos, e podem ser técnicos de laboratório, veterinários, gente que se deverá ocupar da investigação de um fenómeno que não seja normal e que precisa de ter um pensamento epidemiológico. 

Por fim, o quarto pilar é a questão da investigação ela própria. A capacidade de investigação normalmente deve estar ligada a uma instituição, seja de ensino, seja de saúde, como o instituto que assegura a perenidade da existência desses quadros no país, a perenidade e capacidade dos laboratórios no país. Se em três anos Cabo Verde deverá formar cerca de 50 epidemiologistas de intervenção, dos quais 3 ou 4 com um nível alto e outros com nível básico, quem é que vai assegurar que essa formação seja mantida perenemente no futuro? Tem de haver uma instituição que depois, quando for a montagem feita que permita a renovação desses técnicos e mantenha essa formação.

Cada vez que há uma crise, há saltos. Houve o ébola e finalmente o CRVDC-CEDEO conseguiu arrancar, está a haver a covid, e temos mais laboratórios. Qual o papel destas epidemias para o avanço em saúde no país e na sub-região?

É verdade. Infelizmente nem sempre a gente se prepara devidamente em tempo de paz. É isso que lhe dizia, desse ponto de vista Cabo Verde não tem grandes vantagens relativamente os parceiros africanos, a formação dos epidemiologistas de intervenção [ver caixa CRVCD-CEDEAO] vai acontecer este ano, não há nenhum em Cabo Verde, hoje.

Mas há algum país bem preparado para epidemias?

É muito difícil falar-se me boa preparação para epidemias. Independentemente do nível de preparação que se tenha, aquilo que vai acontecer no futuro não é previsível. Eu vou participar em fins de Março num exercício de simulação que será feito na fronteira da Nigéria e dos Camarões, imaginando que em Douala apareceu uma epidemia de febre amarela, como houve em Angola. Há um caso de febre amarela, fazemos o quê e como? Camarões não é um país da CEDEAO mas tem relações com a Nigéria, Lagos está ao pé e é uma cidade grande, de elevado risco de introdução e transmissão da febre amarela, a nível urbano. Os países tentam organizar periodicamente esses exercícios de simulação: Se acontecer tal coisa? Mas os exercícios de simulação são feitos com base em coisas que a gente conhece. Quando é uma coisa nova, passamos às vezes muito tempo a tentar compreender aquilo que está a acontecer. Repare-se, quando a epidemia da covid começou na China, os primeiros textos dos CDC de Estocolmo [Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doença] era ‘se acontecer na Europa estamos preparados’. São textos de Março de 2020. Não foi o que aconteceu, ...

Como se justifica a incapacidade de controlo. Já tivemos outros coronavírus, o SARS -CoV-1, por exemplo?

Não havia isto. É aqui que entra aquilo que eu dizia: a relação entre o ambiente e o homem, a pressão que exercemos, hoje em dia, num ambiente envolve todos os seres vivos... uns desaparecem, outros tentam-se adaptar, e nessa adaptação há seres, como são as bactérias e os vírus, cuja adaptação nem sempre nos é favorável. Pode ser através de resistência que vão criando aos medicamentos que a gente utiliza de uma forma irracional, pode ser outra …

Mas os anteriores coronavírus que apareceram não se propagaram tanto. Tem a ver com o próprio vírus?

Tem a ver com o próprio vírus, como tipo de doença. O SARS-CoV-1 tinha uma diferença fundamental do SARS de hoje: adoecia-se e morria-se depressa. Se formos mais atrás, saindo da família dos corona e tentando ver a família dos influenza, que também causaram epidemias como gripe espanhola, por exemplo. A gripe espanhola teve 3 vagas e depois desapareceu sozinha, em 57.

Como se explica?

Quando se vai aos textos ver porque é que esse influenza, esse H1N1, desapareceu, terá sido porque “apareceu um H2N2 que competiu com ele”. É a tese mais comum, mas a realidade é que não se sabe porquê. Teve a primeira vaga, em 16/18/19, depois teve uma segunda vaga mais tarde nos anos 20 e em 57 temos a sua última vaga, depois nunca mais. Desapareceu, não se identificou mais o vírus.

Imunidade de grupo?

Poderá ser tudo junto.

Apesar de tudo, o SARS-CoV-2 não tem tido o mesmo impacto em África do que no Ocidente. Fala-se que é por questões demográficas, clima, subnotificação. Qual a sua opinião?

Seguramente é tudo junto. Desde logo se você visitar aquilo que são as estatísticas na Europa, particularmente a demografia verá que enquanto em Cabo Verde 55% da população tem menos de 25 anos, em Portugal 55% da população tem mais de 60 anos. Ora quando se observa quais são as vulnerabilidades humanas face ao SARS-CoV-2, conclui-se facilmente que a letalidade é muito maior nas pessoas idosas, não quer dizer que não haja jovens que [morrem] há sim, mas enquanto a letalidade para pessoas com mais de 65 anos muitas vezes está nos 14, 15% a letalidade empessoas com 20, 30 anos é de 1%, 0,9%, portanto a demografia claramente terá influência. Mas eu não acredito que seja só isso. Podem haver questões de imunidade cruzada por toda a espécie de outras propagações de vírus, mas seguramente também tem a ver com uma questão de capacidade de notificação de se notificarem, tanto nos casos de doença como nos casos de óbito. Em Cabo Verde é muito provável que muitos casos de covid passem, sem serem diagnosticados.

E Cabo Verde tem um grau de testagem...

Muito elevado, comparado com os outros países africanos...

Há quem diga que o mais provável é que a covid se torne uma nova gripe, com vacinas a tomar anualmente. Que vacinas? A vacina da gripe é mudada todos os anos.

Sejam os vírus da família influenza, sejam os vírus da família dos corona, todos os vírus tem mutações frequentes. Isso é comum. Com os vírus da influenza nós temos uma história mais longa e o que se sabe é que as vacinas têm de ser produzidas ano a ano. A vacina de 2019 não serve em 2020, a de 2020 não servirá em 2021. Normalmente quando a epidemia começa a vacina é imediatamente produzida para a vacinação, porque o vírus de 2020 não é igual ao de 2019. Se isso vai acontecer com o SARS-CoV-2, será especulativo. A gente não pode dizer. 

Eu acho que uma das razões para as grandes dificuldades que o mundo tem hoje em lidar com o SARS-CoV-2 é porque fomos muito taxativos com coisas que a gente não sabia nada. Houve uma altura em que se falava: ‘isto vai ser uma desgraça!”

Em África, do ponto de vista sanitário, não está sendo uma desgraça tão grande, mas o problema não é o facto de haver poucos doentes. Se o problema existe e eu lhe disser, sistematicamente, que você vai ver um monte de gente a morrer, mas o tempo passa e você não vê, o que acontece é que a credibilidade daquilo que eu digo vai diminuindo e a minha capacidade para fazer impor as medidas que são necessárias vai também, porque deixa de acreditar em mim. Isso aconteceu-nos um bocado. Havia afirmações muito fortes relativamente a uma situação em que não tínhamos a maîtrise, o conhecimento de fundo - não podia haver - e que depois não se verificaram e que puseram em causa a credibilidade de quem as dizia. Isto tem-nos dificultado até hoje, na gestão [da pandemia]. A meu ver, o grande desafio , e aí é mais para Cabo Verde que África, o nosso grande problema [é o seguinte]. Eu regressei a Cabo Verde no mês de Novembro e no mesmo mês fui ao Fogo. Estavam a aparecer mais uns casos no Fogo e fui a pedido do sr ministro. Eu estava num hotel com 43 camas, e estava sozinho. O dono do hotel estava muito preocupado: ‘isso [a covid] está a matar’. E eu disse: ‘oh sr, sim, está a matar, a gente sempre chora qualquer morte, mas no Fogo até agora morreram quatro pessoas todas com mais de 88 anos. O grande problema que você tem neste momento em mãos é que eu estou sozinho neste hotel. Como é que vai pagar luz ,água, ... ?’ O grande problema económico que nós temos e vamos continuar a ter nos próximos anos decorrente dessa pandemia irá certamente ter impacto também a nível sanitário.


Essa era outra questão que lhe ia colocar. As epidemias obrigam a um salto na saúde, mas por outro lado temos um desleixo - mundial – em relação a outras patologias, e o impacto, como referiu, nas condições sócio-económicas. O que vai sair disto tudo?

Se eu pudesse adivinhar eu acho que ia jogar no totobola. É difícil prever isso. Aquilo que se sabe é que, no mundo e em particular nos países em África - em Cabo Verde também - sempre que houve um aumento do desemprego ou um aumento da instabilidade do emprego houve um aumento da mortalidade infantil. Sempre. Ao longo de toda a história...

E como vê esta imposição de confinamento e restrições que acabam por afectar a economia e a sociedade, em África?

O director geral da OMS fez uma chamada de atenção para essa questão.

Quando uma pessoa está doente, a nível individual, e tenho que lhe prescrever um medicamento, eu sei que esse medicamento tem efeitos secundários. Agora, aquilo que eu tento saber e pesar é se os efeitos secundários deste medicamento são piores do que a própria doença. Se chegar à conclusão que são piores, não prescrevo. Em Saúde Pública, o medicamento são as medidas que tomamos. As medidas que tomamos não podem causar mais dano que a epidemia ela própria.

E esse peso, esse balanço, tem de ser sistematicamente feito. Há questões que em matéria da luta contra as epidemias devem ser sistematicamente observadas. A primeira é que nunca se pode permitir nem um discurso nem uma actuação que possa criar a estigmatização e a discriminação. Em segundo lugar, nunca se devem tomar atitudes que levem ao medo, porque o medo e a discriminação criam o caldo para não me permitir fazer esse balanço e racionalizar. Seguramente, depois dessa epidemia, que se farão as tais avaliações daquilo que se fez. Será que aquilo que fizemos levantou questões de discriminação, estigmatização relativamente à doença. Será que aquilo que fizemos despertou mais o medo ou a consciencialização das pessoas face às medidas que estão a ser pedidas? O que não há dúvida é que não devemos esperar, não será licito que esperemos, que no futuro os problemas económicos decorrentes da covid, como seriam decorrentes de qualquer outra epidemia, não tenham o seu impacto sobre a vida das pessoas. Seguramente que terão e como disse um dos impactos mais frequentes e mais analisados em África é essa relação do emprego ou da instabilidade do emprego e a mortalidade infantil.


Neste momento, os confinamentos já acabaram, mas faz sentido usar técnicas que estão a ser usadas para contenção na europa em África? Faz sentido copiar essas medidas?

Claro que não, em qualquer situação.

Em algumas situações fez sentido impor-se confinamento. Em muitas não. Essas medidas de restrição têm de ser aplicadas em função daquilo que é o seu contexto, não podem existir receitas que sejam igualmente válidas em todos os sítios.

Uma última questão: as infecções hospitalares. Fala-se de pessoas que vão para o hospital, apanham infecções e muitas vezes não morrem pelo que as levou lá, mas devido a essas infecções. Como se lida com esta questão das infecções hospitalares e baterias super-resistentes?

As infecções hospitalares são claramente um problema enorme nomeadamente em Cabo Verde. Não há uma ideia clara da dimensão deste problema, mas que o problema existe parece ser evidente. Há medidas que são tomadas, mas a aplicação real e prática dessas medidas não é propriamente feita. Há défices importantes nessa matéria. O problema existe, a forma como deve ser combatido também é conhecida, sabem-se as regras que devem ser seguidas em termos de isolamento, em termos de práticas e procedimentos na gestão e manuseio de um momento para o outro, a sua aplicação é que nem sempre é a melhor e nem sempre há a possibilidade e os recursos para o fazer. Em termos de isolamento, nos hospitais em África, em Cabo Verde, temos doentes infecciosos e não há propriamente uma capacidade de isolamento desses doentes. Mas eles tem de ser tratados, não podem tampouco ser recusados à admissão. Não é um problema de fácil abordagem…

Então ainda vamos ter de continuar a lidar com isto?

Termos uma situação que se possa dizer confortável a esse respeito nos próximos tempos não me parece realista.

A maior parte das vezes essas questões têm causas múltiplas e sobretudo em contextos difíceis, de ausência de recursos, a solução é de tal forma multifacetada que não são fáceis de se resolver.

<strong>CRVCD-CEDEAO</strong>
O Centro Regional de Vigilância e Controlo de Doenças foi inaugurado em Fevereiro de 2018, em Abuja, 9 anos após ter sido pensado e 3 decorridos desde a sua aprovação. A sua principal missão é a de identificar, avaliar e comunicar ameaças actuais e emergentes à saúde humana e preparar respostas adequadas, no seio da CEDEAO. Este centro tem 4 eixos prioritários: alerta precoce, rede de laboratórios, work force (epidemiologistas de intervenção -  área em que em breve iniciarão as formações em Cabo Verde) e investigação. O Instituto de Saúde Pública de Cabo Verde é o principal parceiro e entidade responsável de ligar Cabo Verde ao CRVCD. O centro da CEDEAO é ainda um dos cinco centros regionais que enquadram no Africa CDC (iniciativa da União Africa, com filiais regionais com base nas Comunidades Económicas Regionais CER). O CRVCD-CEDEAO é tutelado pela Organização Oeste-africana da Saúde, entidade responsável pelas questões sanitárias da comunidade. A OOAS segue as indicações técnicas da OMS.

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Autoria:Sara Almeida,27 fev 2021 5:30

Editado porFretson Rocha  em  25 nov 2021 23:21

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