Abril é o mês em que Cabo Verde tem o pior registo desde que a doença foi diagnosticada no país em Março do ano passado.
Segundo os dados divulgados no boletim epidemiológico diário que é emitido pelo Ministério da Saúde, em Março, morreram 21 pessoas, este mês foram 50.
A Praia, segundo os dados dos boletins epidemiológicos, tem concentrado o maior número de casos activos a nível nacional. Ontem eram 1.442 em 3.181. Sal e São Vicente, os outros principais pontos de infecção do país, têm 399 e 319, respectivamente.
As responsabilidades da campanha
O crescimento do número de casos e de óbitos no país tem sido directamente ligado à campanha para as eleições legislativas.
Na última segunda-feira, durante a conferência de imprensa de acompanhamento da situação da pandemia em Cabo Verde, Jorge Barreto explicou que havendo relação o período eleitoral não será apenas o único responsável por este crescimento.
“Já vínhamos a observar um crescimento do número de casos desde o início de Abril”, assegurou Jorge Barreto.
Se a campanha ajudou a que o número de casos tivesse este aumento durante o mês de Abril, as festas, públicas e privadas, os ajuntamentos nas ruas, cafés e restaurantes, nas praias e em espaços fechados e pouco ventilados têm feito o resto, defendeu o Director Nacional de Saúde.
Quanto a possíveis medidas de contenção mais duras com o objectivo de diminuir a taxa de infecção no país, Jorge Barreto esclareceu que já entraram em vigor as medidas que prevêem uma fiscalização mais rígida do cumprimento das medidas que os espaços e estabelecimentos devem cumprir.
“Eu penso que é mais por aí, porque nós temos verificado que a maior parte dos casos estão relacionados com este tipo de situações. Festas privadas, espaços lúdicos, que apesar de terem as portas fechadas continuam com clientes lá dentro”, o que constitui um risco para a propagação do vírus.
Questionado sobre se os casos já dão sinais de estar a estabilizar o Director Nacional de Saúde afastou essa possibilidade.
“Segundo os dados que temos ainda estamos na curva ascendente. Ainda não há sinais de alguma estabilização, pelo menos nestes dias ainda não conseguimos vislumbrar isso. Tudo é uma conjugação de factores. Embora estejamos a ser bastante repetitivos, infelizmente, não há outra forma de o dizer. Temos de seguir as medidas de prevenção, evitando as situações de risco. As instituições têm de fazer o seu trabalho da melhor forma possível e conjugando com outros factores poderemos ter alguma estabilização, ou até mesmo melhoria. Mas ainda não conseguimos ver isso, talvez daqui a 15 dias quando fizermos uma reavaliação para ver se há essa possibilidade”.
“Temos a sensação de que as pessoas ficam abismadas com o número de casos que temos estados a identificar, mas, entretanto, o comportamento ou as atitudes, não vão ao encontro com a situação epidemiológica”, disse ainda Jorge Barreto.
Também o Bastonário da Ordem dos Médicos concorda com a ideia de que Cabo Verde está longe de assistir ao início da diminuição do número de casos. “Penso que estamos longe de um decréscimo”, defende Danielson Veiga antes de avançar com uma solução: “Tem de haver uma sequenciação do vírus para podermos ter uma visão. Se todo mundo olha só a campanha [eleitoral] como causa, a mim me parece que só a campanha não chega. Tem que haver mais alguma coisa. Sei que para fazer a sequenciação de variantes custa dinheiro, mas temos que fazer alguma coisa”.
Números preocupantes
“Os números estão a preocupar-nos muito”, admite o Bastonário da Ordem dos Médicos em conversa com o Expresso das Ilhas.
Este médico defende que em Cabo Verde “não temos ainda uma ideia clara qual é a percentagem de novas variantes” o que faz com que tudo fique mais complicado quando se tenta “fazer um juízo em relação a qual poderá ter sido a razão directa do aumento do número de casos” no país durante o mês de Abril.
Danielson Veiga tem uma visão crítica sobre a forma como o combate à pandemia está a ser feito em Cabo Verde e sente que o Ministério da Saúde está sozinho nesta luta.
“Na visão da Ordem pensamos que em Cabo Verde dá a impressão de que é só o Ministério de Saúde que está a trabalhar na luta contra a COVID-19. Nós não estamos a sentir uma pressão forte das outras organizações que fazem parte dessa luta contra a pandemia em Cabo Verde.
Saber qual ou quais as variantes que circulam no país é igualmente importante para o bastonário.
“Todos nós sabemos que a variante brasileira, a inglesa, a indiana são altamente contagiosas e muito diferentes do vírus inicial. Na Áustria um passageiro indiano que estava no aeroporto onde fez escala deixou contaminada uma série de pessoas que estavam ali ao lado”. “O que temos em Cabo Verde não sabemos”, lamenta.
Vacinação
Segundo avançou, esta segunda-feira, o Director Nacional de Saúde, mais de 18 mil pessoas já foram vacinadas em Cabo Verde e o governo tem a perspectiva de alcançar 70% de pessoas vacinadas até final do ano.
Para o bastonário, no entanto, o objectivo deveria ser maior. “Vacinação completa da população”, defende.
“Temos que insistir fortemente em pôr as vacinas em Cabo Verde. O mais rápido possível”, insiste. Outro passo será “aumentar o número de testes por dia. Sei que aumentaram bastante, mas é uma coisa que sempre nós na Ordem estivemos a alertar as autoridades de que o segredo no combate à pandemia fundamentalmente é a identificação de casos. Tendo em conta que Cabo Verde é um país pequeno, se cada país parceiro nos der 100 mil ou 50 mil vacinas, em pouco tempo teremos cobertura de 100% dos cabo-verdianos”.
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1013 de 28 de Abril de 2021. Actualizado com os dados relativos a Abril