Valdemiro Ferreira, um dos novos donos do ferry, a par de Adriano Lima, fala de trabalhos na ordem dos 2,7 milhões de dólares.
“Leva o estatuto de um navio reconstruído em 2021, por causa do volume de trabalho e de investimento que fizemos. Fizemos uma reconstrução de alto a baixo. Zona de passageiros, parte submersa, modernização dos sistemas de navegação”, exemplifica.
Em fase de alinhamento de motores, que foram abertos e descarbonizados, o Mar d’Canal tem mais do que cara nova.
“Adoptámos o princípio de segurança a todos os níveis, de navegação e da estadia a bordo, também para garantir maior controlo de manutenção e serviço”, acrescenta o novo armador.
A embarcação ainda não tem autorização para a operação comercial, mas Valdemiro Ferreira acredita que, alguns anos depois de ter deixado a rota que serviu durante quase duas décadas, o Ro-Ro estará, em breve, apto para voltar a ligar Mindelo ao Porto Novo. Os problemas estruturais que levaram à suspensão das viagens estão ultrapassados, garante.
“O Mar d’Canal tem tudo resolvido, nesse momento. Este é um ponto que tenho o prazer em dizer. Resolvemos todos os problemas que o navio tinha. Ouvi muita coisa quando o navio parou. O certo é que, quando tomámos o navio, sentimos que precisava de muito trabalho, de uma intervenção profunda, que foi o que fizemos”, assegura.
Segundo o empresário, o Instituto Marítimo Portuário (IMP) terá acompanhado de perto a intervenção feita nos estaleiros navais da Cabnave, estando a par do projeto. Por essa razão, confia que o processo de vistoria e licenciamento possa ser célere.
“[O IMP] conhece o trabalho tal como nós, está a acompanhar o trabalho desde o início, tem feito n visitas ao navio e fez sugestões [de coisas] que achou que deveriam ser feitas. Quando colocámos o navio na doca, tiveram oportunidade de o inspeccionar totalmente e seguir todo o trabalho que está a ser feito. Acho que será um processo simples e rápido”, estima.
Os investidores esperam recuperar o investimento no prazo de 5 a 8 anos. O Mar d’Canal, calculam, estará agora apto para mais 15 a 20 anos de serviço, “sem qualquer problema”.
“Um navio não é um animal, é uma estrutura feita pelo homem e sob o seu controlo. Se for controlado como deve ser, se tiver uma boa manutenção, dura anos e anos. Temos navios de 1925/27, em Cabo Verde, que ainda funcionam lindamente. É a manutenção que dá segurança e longevidade a um navio. Preparámos o Mar d’Canal para ser um navio absolutamente seguro, que vai aguentar longos anos, com a manutenção que lhe vamos garantir”, resume Valdemiro Ferreira.
Expectativa
Do lado dos condutores, a expectativa é grande, perante o possível regresso de um ferry que conhecem bem. Adriano Dias, condutor, que liga regularmente os dois lados do canal, realça as condições oferecidas para o transporte de carga.
“Metes o teu carro e não é danificado pela água do mar. Desde a entrada do novo barco [Chiquinho BL, CVI] tive que ir dar trabalho no meu carro, porque vi que estava a deteriorar-se dia após dia, devido à idade e também à água do mar a que está exposto”, sublinha.
A mesma posição é expressa por Tiguinha, outro condutor habituado a viajar entre São Vicente e Santo Antão.
“Um único barco é pouco, nesta linha. Com o Mar d’Canal será uma mais-valia, porque actualmente tens que arranjar uma lona para proteger a carga. Por causa da água do mar, o carro está a criar ferrugem e isso é prejuízo”, reforça.
O Expresso das Ilhas tentou ouvir o Ministério do Mar e o Instituto Marítimo Portuário sobre o regresso do Mar d’Canal à operação inter-ilhas. As instituições não quiseram falar sobre o assunto.
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O que mudou no Mar d’Canal
A intervenção no Mar d’Canal contemplou todas as áreas do navio. No casco exterior, de acordo com um documento do armador, a que o Expresso das Ilhas teve acesso, foi feita uma manutenção profunda. O navio foi totalmente decapado.
Segundo os proprietários, a zona dos tanques de balastro foi praticamente reconstruída, o que confere uma “grande garantia de estanqueidade e segurança”, lê-se no documento.
Na casa das máquinas, os dois motores foram reparados.
No salão, foram retirados 90% dos materiais existentes, procedendo-se à substituição de circuitos de ventilação e redes. Foram colocados materiais novos, resistentes à humidade e propagação de fogo, com acabamentos e detalhes em madeira e inox. “O objectivo final é criar um alto padrão de conforto com materiais novos”, refere a nota do projecto.
A ponte de controlo também foi reconstruída, com manutenção dos circuitos e instalação de novos equipamentos de apoio à navegação.
*com Lourdes Fortes
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1028 de 11 de Agosto de 2021.