Tanto o discurso de José Maria Neves como o de Ulisses Correia e Silva tiveram como notas centrais o apelo à vacinação e o pedido de responsabilidade de cada um.
“A vacinação é a nossa força”, disse Ulisses Correia e Silva na sua declaração, em que anunciou que o governo vai recrutar mais pessoal de Saúde, nomeadamente os enfermeiros, para fazer face à pandemia de Covid-19 em Cabo Verde.
Apesar dos bons níveis de vacinação registados até agora “é preciso vacinar mais", destacou.
"É preciso que todas as pessoas que todas as pessoas com 12 anos ou mais tomem uma posição, a posição mais acertada que é vacinar e proteger. Ao mesmo tempo é preciso que o uso de máscaras continue no nosso dia-a-dia”.
Lembrando que durante os dois anos desta pandemia “Cabo Verde e o Mundo têm sido colocados perante o maior desafio dos últimos tempos”, Ulisses Correia e Silva apontou que este é um desafio que consiste em “sobreviver, superar, recuperar e relançar a economia e a vida social em contexto de crise sanitária, económica e social”.
Após o apelo do chefe do governo, o Presidente da República falou à Nação. No seu discurso José Maria Neves salientou que a “situação sanitária que vivemos hoje é grave e isso é fundamental para que todos nos reflictamos e coordenemos para podermos agir”.
“Se não se der rapidamente uma inversão dos números de infecção por COVID-19, na sua mais recente mutação, os resultados podem ser catastróficos em toda a linha”, disse José Maria Neves.
Apelando a uma acção determinada, o chefe de Estado alertou que “podemos pôr em causa todos os ganhos que já conseguimos justamente no momento em que nos parecia que tudo caminhava para uma situação animadora”.
O crescimento do número de casos “pode estar relacionado com o progressivo relaxamento das medidas sanitárias em vigor a par da realização de vários eventos durante as últimas semanas e que terão propiciado a aglomeração de pessoas e a disseminação do vírus”, disse o Presidente da República.
O trabalho do governo foi elogiado por José Maria Neves que defendeu que tudo o foi feito até agora “pode ficar comprometido se faltar uma atitude de cerrar fileiras no combate à COVID-19”.
“Não há alternativa que não seja combater a pandemia”, acrescentou José Maria Neves que defendeu que “se não fossem as vacinas e o seu efeito benéfico a situação seria hoje calamitosa”.
“Ainda assim muitas pessoas que podiam e deviam estar vacinadas ainda não o estão. Resistem. Colocam em risco a sua saúde e a dos familiares e pessoas mais próximas. Contribuem para fragilizar a saúde pública, minando os enormes esforços colectivos em curso”, criticou o Chefe do Estado, apelando à vacinação de toda a população.
Situação epidemiológica
As declarações dos Chefes de Estado e de Governo foram antecedidas por uma apresentação da situação epidemiológica, pelo Director Nacional de Saúde, Jorge Barreto.
No seguimento do que tem sido dito, e foi reforçado na habitual conferência de imprensa de segunda-feira, o Director Nacional de Saúde destacou o aumento exponencial de casos de COVID-19 em Cabo Verde. Um aumento que aliás, é semelhante ao que está a acontecer em todo o mundo, e deverá estar relacionado com a variante “de preocupação”, a altamente contagiosa Ómicron.
Com mais de 5500 casos activos, Cabo Verde tem neste momento, como avançou Jorge Barreto, 28 pacientes internados, a nível nacional. O número não é muito diferente do registado no período homólogo de 2021, mas há que ter em conta várias questões que apontam para a eficácia da vacina contra a COVID-19, e também para uma aparente menor virulência da variante Ómicron.
Como mostrou o DNS, a 4 de Janeiro do ano passado, havia 30 pacientes internados, em apenas 234 casos activos, contra os 28 casos de agora, em 5568 infecções activas. Estes números mostram que a taxa de internados entre casos activos baixou de 12,8% para 0,5%.
É também de salientar a disparidade do número de testes: a 4 de Janeiro de 2021 foram analisadas 509, das quais 29 testaram positivo, enquanto ontem foram processadas 3005 amostras, entre as quais foi diagnosticado o número recorde de 1025. A taxa de positividade aumentou assim de 5,7% para 34,1%. Contudo, a taxa de letalidade baixou de 0,95 para 0,80%.
A COVID-19 continua a ser mais perigosa para pessoas mais idosas, sendo que mais de metade das 28 pessoas internadas neste momento (57%) tem mais de 60 anos. De salientar que nenhum paciente está em estado grave, o que parece ser demonstrativo, como referido, da menor virulência da Ómicron, e da eficácia da vacina.
Entretanto, 64,3% dos internados está completamente vacinado, o que, segundo Jorge Barreto, é um dado expectável devido aos bons níveis de vacinação do país.
A vacinação continua a bom ritmo, e os dados actualizados, hoje apresentados mostram que 311.233 adultos receberam a primeira dose, o que corresponde a 84,1% da população prevista. Quanto aos adultos que já completaram o esquema vacinal de duas doses, são 261.569, ou seja 70,8%.
A dose de reforço (a terceira dose) é a que apresenta valores menos significativos. Apenas 1,8% (6718) a aplicaram, pelo que o DNS apelou à população que o faça, tendo em conta o comprovado aumento da imunidade contra o SARS-CoV-2 após a sua toma.
Quanto aos adolescentes dos 12 aos 18 anos, cuja campanha de vacinação se iniciou apenas a meio de Dezembro, já 46,5% desta população tomou a primeira dose. A percentagem, que é já significativa, deverá subir que após o recomeço das aulas.