“Com a COVID-19, tomamos (todos nós) consciência que qualquer um pode ser afectado por um transtorno ou perturbação mental e que nem por isso precisamos estar internados num hospital. É preciso haver soluções que possam permitir atender e cuidar das pessoas num ambiente o mais inclusivo possível”, defende Jorge Barreto. Sendo certo que haverá sempre situações mais graves que requerem internamento, o que se pretende é, “sempre que possível, optar por abordagens ambulatoriais”.
Neste momento, está-se “a organizar e a planificar a melhor forma de se aproximar os cuidados nesta área mais para o nível local, ou seja, desconcentrar as consultas de Psiquiatria, que passaram a ser feitas nos centros de saúde na Praia”. Essa desconcentração, acredita, “pode melhorar a prestação a nível comunitário e fomentar uma maior sensibilização da população para este assunto”.
Entretanto, “o envolvimento da família é crucial”, sublinha o DNS.
Jorge Barreto apela também à adopção de medidas preventivas e de hábitos saudáveis de vida pela população, para contribuir na redução da carga de doença.
Números da pandemia
Durante a pandemia, os serviços relativos à saúde mental foram afectados e é sabido que, em todo o mundo, houve um aumento de distúrbios emocionais. Cabo Verde não terá sido excepção. Houve também impactos a nível de outras áreas da saúde.
“Houve alguma perturbação na prestação de cuidados de saúde provocada pelas medidas que eram necessárias para a contenção, mas não se constatou o colapso dos serviços, como aconteceu em outras paragens”, observa o DNS.
Ao contrário do que aconteceu em alguns países, a taxa de cobertura de crianças completamente vacinadas, que era de 97,9% em 2019 (de acordo com o Relatório Estatístico da saúde desse ano), manteve-se a níveis semelhantes à pré-pandemia: embora tenha baixado em 2020 para 94,3%, em 2021 era de 97,5%.
“A média de consultas de pré-natal continuou igual àquela do ano 2019 (4,4), o número total de dádivas de sangue foi de 3213 em 2020 e 3870 em 2021, os casos de tuberculose e VIH continuaram a ser diagnosticados e tratados (…) a taxa de mortalidade infantil foi de 11,6 por mil nascidos vivos em 2020 e de 10,6 por mil em 2021”, expõe Jorge Barreto.
A nível de intervenções cirúrgicas, foram realizadas 9018, em 2020 e 8608 em 2021, avança o DNS. E, de acordo com o Relatório Estatístico de 2019, nos dois hospitais centrais foram realizadas 8004 cirurgias em 2019, 8333 em 2018 e 8485 em 2017. Ou seja, não parece haver muita diferença entre o número de intervenções realizadas antes e durante a pandemia.
Quanto às mortes por AVC, “houve 294 mortes em 2020 e 276 em 2021”. O já referido relatório do Ministério da Saúde, acima citado, aponta que houve 298 mortes por causas Cerebrovasculares em 2019 e 260 em 2018. Nos óbitos por enfarte do miocárdio, as estatísticas da saúde mostram 160 casos em 2018, 157 em 2019. Nos anos da pandemia, e segundo Jorge Barreto, “foram 170 óbitos em 2020 e 129 em 2021”
Para o DNS estes exemplos mostram que “apesar de todas as dificuldades, o Serviço Nacional de Saúde conseguiu ir dando as respostas, na medida do possível”. Isso deveu-se “ao grande e valioso esforço dos profissionais e trabalhadores de saúde e às medidas que foram adoptadas”, considera.
Evacuações externas duplicam
Várias medidas foram tomadas para que os impactos do “afastamento” dos pacientes dos serviços fossem mitigados. Entre as mesmas, o DNS recorda que foram facultadas prescrições para períodos mais longos e também o recrutamento de mais profissionais de saúde.
“São dois exemplos de medidas que foram adoptadas e que penso que surtiram grande efeito”, avalia.
Entretanto, durante o período todo de pandemia, vários serviços foram disponibilizados. Aqui, destaca o novo aparelho de tomografia computadorizada e a disponibilização da Unidade de Cuidados Intensivos no Hospital Agostinho Neto (Praia), e a Diálise no Hospital Baptista de Sousa (Mindelo).
“Estes serviços vêm melhorar as condições de prestação de cuidados, representando um esforço orçamental considerável, num momento de crise como o que estamos a viver nos últimos 2 anos”, aponta.
Uma crise que afectou também a questão das evacuações externas.
“No início, com o Estado de Emergência foi complicado e custoso, pois não havia viagens regulares, só fretadas. Isto foi um grande fardo que o Estado teve que suportar durante muito tempo”.
As evacuações para Portugal ficaram condicionadas e “atrasaram-se muito”, tendo em conta também a situação provocada pela pandemia nesse país.
Entretanto, garante, “ano 2021 houve uma "recuperação" das evacuações externas, tendo sido feito o dobro das feitas no ano 2020”.