José Maria Neves salientou esse aspecto e durante a sua intervenção nas comemorações do centenário do antigo Presidente e primeiro-ministro de Portugal, em Lisboa, que teve lugar na Fundação Calouste Gulbenkian.
“Mário Soares é um combatente antifascista, um amante da liberdade, lutou incansavelmente pela democracia e pelo desenvolvimento, pela modernização de Portugal”, afirmou o Chefe de Estado cabo-verdiano.
Ao lembrar-se do papel de Soares no processo de descolonização, destacou que ele foi um dos negociadores da independência de Cabo Verde, assinou com Pedro Pires o documento que vai ser lembrado no dia 19 de Dezembro, na cidade da Praia, sustentando que “homenagear Mário Soares é resgatar a nobreza da política e agir todos os dias para realizar o bem comum”.
“Também trabalhou no sentido da aproximação de Cabo Verde à Europa, sendo um dos cabouqueiros da parceria especial Cabo Verde-União Europeia. É importante que, em nome do povo de Cabo Verde, esteja aqui presente para homenagear este grande vulto da história política de Portugal e, consequentemente, com reflexos em Cabo Verde”, disse o Presidente da República, sublinhando ainda a relevância de participar no evento em nome do povo cabo-verdiano.
Na sua intervenção, José Maria Neves que foi um dos oradores nas celebrações do centenário de Mário Soares, ao lado do seu homólogo português, Marcelo Rebelo de Sousa, e do presidente do Conselho Europeu, António Costa, frisou que o percurso do homenageado de luta antifascista, também teve no seu bojo a vertente anticolonialista, tendo desenvolvido intensa campanha de denúncia contra a guerra colonial.
“Realço as várias visitas por ele efectuadas ao nosso arquipélago, com destaque para a sua visita de Estado, ocorrida pouco tempo após a sua primeira eleição como Presidente da República portuguesa e a sua participação no Simpósio Amílcar Cabral, realizado em 2004, aquando do 80º aniversário do nascimento do líder histórico das independências da Guiné e Cabo Verde”, indicou, lembrando que Mário Soares apoiou entusiasticamente o processo de transição para a democracia em Cabo Verde,
Por outro lado, realçou o facto de que, 50 anos depois do 25 de Abril, ainda se assiste a uma “erosão nas conquistas alcançadas”, e hoje são enfrentados novos desafios, num ambiente disruptivo, que em alguns casos beira o caos, já que tal como no passado, ainda não se conseguiu encontrar “antídotos contra os extremistas e, às vezes, vai-se fazendo o jogo deles”.
A cerimónia teve também momentos para depoimentos pessoais sobre legado de Mário Soares, feitos por figuras como o humorista Herman José, o antigo Presidente do Governo de Espanha, Felipe González, e o secretário-geral da ONU, António Guterres.
O programa do centenário das comemorações de Mário Soares arrancou na quinta-feira, 05, no Porto, encera em Dezembro de 2025, também na Fundação Calouste Gulbenkian, com a realização de uma conferência internacional.
Esta sexta-feira, 06, em Lisboa, a Assembleia da República portuguesa dedicou uma sessão solene a Mário Soares numa cerimónia evocativa do seu legado político.
Mário Soares (07/12/1924 – 07/01/2017) foi primeiro-ministro de Portugal por três vezes (1976/1978, 1978, 1983/1985) e Chefe de Estado entre 1986 e 1996.