Cabo Verde preparado para uma eventual deportação de emigrantes ilegais nos EUA

PorSheilla Ribeiro,25 jan 2025 7:34

O Primeiro-ministro, Ulisses Correia e Silva, afirmou, em declarações à Rádio de Cabo Verde (RCV), que o governo está atento à possibilidade de repatriamentos em massa de cidadãos cabo-verdianos residentes ilegalmente nos Estados Unidos da América, em decorrência das políticas de imigração do presidente Donald Trump, e garante que o país está preparado para os receber.

“A notícia de que a nova administração irá tomar medidas relacionadas com a deportação em massa de imigrantes ilegais suscita sempre alguma preocupação, não só por parte dos imigrantes, mas também por parte das autoridades nacionais”, declarou o chefe do governo.

Embora ainda não existam detalhes concretos sobre como a deportação será implementada, Ulisses Correia e Silva garantiu que o país está preparado para acolher os possíveis retornados.

“Cabo Verde estará sempre preparado para receber os nossos compatriotas caso eventualmente o repatriamento se verifique”, afirmou, sublinhando que o governo já possui um programa nacional de acolhimento e integração de imigrantes retornados, que já está em funcionamento.

O Primeiro-ministro assegurou que o governo vai alocar recursos adicionais, caso a quantidade de repatriamentos seja elevada.

No entanto, reiterou que, por ora, não é possível antecipar os contornos das medidas americanas.

“A melhor solução é estar organizado, preparado e ter um programa que esteja ajustado às contingências”, acrescentou.

O chefe do governo frisou ainda que, embora as promessas eleitorais de Trump tenham gerado expectativas em vários países, a comunidade cabo-verdiana nos Estados Unidos continua bem integrada, sem grandes problemas com as autoridades americanas.

“Continua a ser uma comunidade bem integrada. Quanto às relações com Cabo Verde, eu espero e creio que irão continuar na linha daquilo que são os fundamentais da nossa história de relações com os Estados Unidos da América”, concluiu.

Ulisses Correia e Silva frisou a importância da diáspora cabo-verdiana, que é antiga, reconhecida e valorizada pelos Estados Unidos, e que, segundo acredita, continuará a ser um elemento de referência nas relações bilaterais.

Em 2019, as autoridades norte-americanas deportaram cerca de cem cidadãos de Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP), menos uma dezena face ao ano anterior, mas metade do total eram cabo-verdianos, segundo dados oficiais.

Já em 2020, o número de cabo-verdianos deportados dos EUA, por vários motivos, mas sobretudo imigração ilegal, diminuiu de 50 em 2019 (68 em 2018) para 15 em 2020 (-70%).

PR confiante na continuidade das relações históricas com os EUA

Também em declarações aos jornalistas, o Presidente da República (PR), José Maria Neves, afirmou não haver razões para alterações na relação entre os dois países.

O chefe de Estado espera ainda que Donald Trump, empossado como o 47.º Presidente dos EUA, tenha um mandato bem-sucedido.

“O povo escolheu e temos de respeitar as escolhas. Espero que o presidente faça um bom mandato”, sublinhou José Maria Neves.

O PR frisou que as relações entre Cabo Verde e os Estados Unidos se estabelecem entre Estados e são marcadas pela excelência.

“Esperamos que as relações continuem com o mesmo nível de excelência e que possamos alargar a nossa cooperação”, disse, referindo-se à comunidade cabo-verdiana nos Estados Unidos.

José Maria Neves estimou a cooperação entre a dois países, através da implementação do terceiro compacto do Millenium Challenge Account, também a cooperação a nível da defesa e outras áreas importantes de investimentos para o desenvolvimento do país.

O PR espera que as relações entre os Estados Unidos e o continente africano se consolide e gere benefícios mútuos.

“Espero que também as relações dos Estados Unidos com a África possam consolidar-se com ganhos mútuos para os Estados Unidos e para o continente africano”, concluiu.

Portugal já tem planos de apoio

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, prometeu, nesta segunda-feira, 20, no seu discurso de posse, que vai deportar “milhões” de imigrantes em situação irregular.

Tanto o Governo Regional dos Açores como o Governo central português estão a implementar planos de contingência para mitigar os impactos destas medidas.

Segundo o jornal Público, o secretário dos Assuntos Parlamentares e Comunidades do Governo dos Açores confirmou a elaboração de um plano que inclui medidas específicas nos sectores da saúde, habitação e emprego, bem como um reforço no apoio social.

O objectivo do governo açoriano é evitar os problemas sociais registados no passado, quando deportações semelhantes obrigaram dezenas de açorianos a voltar, muitas vezes sem qualquer ligação à sua terra natal.

Por sua vez, o secretário de Estado das Comunidades Portuguesas afirmou que o Governo central está igualmente atento à situação. Embora tenha reconhecido um possível aumento nas deportações, apelou à calma, assegurando que o Governo português tem planos de apoio prontos para situações urgentes.

De acordo com estimativas, vivem nos Estados Unidos mais de 1,5 milhões de portugueses, sendo uma grande parte oriunda dos Açores. 

Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1208 de 22 de Janeiro de 2025.

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Autoria:Sheilla Ribeiro,25 jan 2025 7:34

Editado porFretson Rocha  em  26 jan 2025 13:20

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