Energia eléctrica: Moradores da Praia manifestam-se contra cortes prolongados

PorSheilla Ribeiro,1 out 2025 11:22

Cerca de duas dezenas de pessoas saíram às ruas da Cidade da Praia para protestar contra os sucessivos cortes de energia que têm afectado a ilha de Santiago nas últimas semanas. Empresários, residentes e emigrantes regressados ao país uniram-se numa manifestação que exige responsabilização, compensações pelos prejuízos sofridos e medidas de incentivo adequadas.

Bruno Barbosa, um dos organizadores, afirma que a situação é insustentável.

“Neste momento, temos uma capital que é o centro económico de Cabo Verde e que, há cerca de 60 dias, regista cortes diários de energia eléctrica. Temos empresários que não conseguem colocar as suas empresas a funcionar, pessoas que perdem equipamentos nas suas residências e vários casos de prejuízos avultados na capital do país. Estamos a exigir, em primeiro lugar, responsabilização”.

“O que está a acontecer? Ninguém sabe. Já se falou em avaria, já se falou em sabotagem e precisamos de esclarecimentos. E quando soubermos o que se passa, queremos saber quem será responsabilizado”, disse.

A segunda reivindicação dos manifestantes está ligada às perdas financeiras. “Quem vai pagar por todos esses prejuízos? É o Estado? É a EDEC? Precisamos de saber quais são os mecanismos. Eu tenho uma empresa e paguei salários durante 22 dias sem poder trabalhar. Tive de comprar um gerador de 120 mil escudos. Alguém tem de se responsabilizar. Se é o Governo, se é o Ministério ou a EDEC, não sei, mas alguém tem de nos dar um feedback. Não podemos ficar apenas em águas de bacalhau”, acrescenta Barbosa.

Quanto às compensações anunciadas pela empresa de energia, o organizador mostra-se indignado. “A EDEC comunicou um desconto de 20%, que afinal é 10% em Outubro e 10% em Novembro. Na verdade, 10% não paga nem um terço dos problemas que causaram. Os incentivos deviam ser um desconto de 100% em todas as facturas da ilha de Santiago, durante vários meses, para compensar os empresários”.

“Ficámos sem trabalhar, perdemos clientes, estragaram-se equipamentos e tivemos de fazer investimentos imprevistos só para garantir o básico, que é energia eléctrica. Em pleno século XXI, estamos a mendigar pelo básico. Os moradores de Santiago, particularmente da Praia, estão a mendigar energia eléctrica, algo que devia estar ultrapassado há décadas”.

A insatisfação não se limita aos empresários. Maria da Luz dos Santos, emigrante regressada a Cabo Verde após 57 anos em Itália, também se juntou ao protesto.

“Lembro-me que em 1998 já havia este problema. Hoje, quase três décadas depois, a população continua sem ter o necessário para viver. Água e luz não são luxo, são vida. Não é admissível que a normalidade aqui seja não ter água e não ter energia eléctrica”, contestou.

Maria da Luz relata prejuízos no dia-a-dia, sobretudo no que toca aos alimentos. “Faço compras de alimentos, ponho no congelador e depois, com os cortes, tudo vai para o lixo. Quem se responsabiliza? No estrangeiro, quando há necessidade de manutenção, a população é avisada com antecedência. Aqui, não. Aqui é sempre assim. A normalidade é a ausência de serviços básicos, e isso é inaceitável”.

A manifestação tinha sido inicialmente adiada após a EDEC anunciar que a avaria estaria resolvida em 24 horas, há cerca de duas semanas.

EPEC anuncia reforço da central do Palmarejo, desconto de 20% nas facturas e equipa especial para clientes

A Empresa de Produção de Electricidade (EPEC) apresentou, na passada segunda-feira, 29, um conjunto de medidas de resposta rápida à sequência de avarias registadas desde 1 de Setembro na central de Palmarejo, na ilha de Santiago. Entre as acções estão o reforço da capacidade da central através do aluguer de grupos geradores adicionais.

Segundo o PCA da EPEC, Luís Teixeira, o objectivo é restaurar a normalidade da produção e distribuição de energia, bem como proteger os clientes dos prejuízos resultantes das interrupções.

“O contrato de aluguer de potência, através de um concurso, já foi adjudicado à empresa vencedora e os grupos já estão em processo de logística, chegarão ao país brevemente”, esclareceu.

O PCA garantiu que esta acção visa prevenir futuras interrupções e permitir maior segurança no fornecimento de energia, não apenas para o momento actual, mas também como solução de reserva para manutenção futura.

Os grupos de geradores móveis, informou, já se encontram em processo logístico e chegarão ao país brevemente. Contudo, Luís Teixeira não indicou datas concretas.

Por seu turno, a Empresa de Distribuição de Electricidade de Cabo Verde (EDEC) implementará medidas de compensação financeira para os clientes afectados pelos cortes. Para os consumidores com contadores pós-pagos, será aplicado um desconto de 20% nas facturas de Outubro e Novembro, dividido em 10% por mês.

Para os clientes com contadores pré-pagos, o desconto será reflectido nas duas próximas recargas de electricidade, garantindo que todos os consumidores da ilha sejam abrangidos.

Outra medida consiste na criação de uma equipa dedicada a avaliar pedidos de reclamações relacionados com danos em equipamentos eléctricos. Segundo o PCA, o prazo para resposta a cada solicitação será de até uma semana, assegurando agilidade na resolução de problemas.

“Uma equipa especial, dedicada exclusivamente a avaliar e garantir resposta rápida. Estamos a falar de pedidos de reclamações que têm procedimentos comerciais e técnicos relativos a danos em equipamentos e aparelhos eléctricos”, sublinhou.

Ainda na conferência de imprensa, o PCA reconheceu que as sucessivas avarias registadas são fora do comum, mas rejeitou especulações sobre sabotagem, focando-se na resolução do problema.

“Não vou confirmar nem comentar hipóteses de sabotagem, porque o nosso foco é resolver o problema. A nossa equipa tem trabalhado noite e madrugada, sábados e domingos. O meu foco é normalizar a situação e dar atenção especial aos nossos clientes”, afirmou.

Luís Teixeira referiu que não houve cortes de energia nem no sábado nem no domingo, devido a melhorias no programa de cortes, que passou a ser mais equilibrado e com períodos mais curtos, além de uma maior contribuição da energia eólica, “que, surpreendentemente, registou uma boa penetração nestes dias”.

Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1244 de 01 de Outubro de 2025.

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Autoria:Sheilla Ribeiro,1 out 2025 11:22

Editado porClaudia Sofia Mota  em  4 out 2025 17:19

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