Proibição do TPO traz alerta para saúde das unhas e impacto nos bolsos

PorAnilza Rocha,19 out 2025 11:24

Desde 1 de Setembro, entrou em vigor a proibição do uso do Óxido de Trimetilbenzoil Difenilfosfina (TPO) em vernizes de gel e outros cosméticos. A decisão foi tomada pela Entidade Reguladora Independente da Saúde (ERIS), que concedeu aos operadores económicos quatro meses para escoar ou devolver os produtos. A medida levanta discussões sobre os efeitos do uso frequente de unhas postiças, os cuidados a ter e as implicações financeiras para os profissionais da área.

É cada vez mais raro encontrar mulheres com unhas completamente naturais. A dermatologista Raquel Fernandes alerta para os riscos: alguns componentes usados em vernizes de gel, gelinho ou acrílicos, como o TPO e os metacrilatos, podem desencadear reacções alérgicas, entre as quais dermatite periocular (à volta dos olhos, com comichão e descamação) e dermatite periungueal (na pele em torno das unhas).

Falando especificamente do TPO, já tinha sido proibido há um “tempinho”, primeiro na Europa, depois no Brasil. A proibição chega agora também a Cabo Verde. Trata-se de uma substância cancerígena e mutagénica que pode afectar a fertilidade quando usado em percentagens altas. No caso de unhas de gel, a percentagem é baixa, mas tem vindo a ser proibida por questões de segurança.

“Não estamos aqui para pôr em causa, de forma alguma, o trabalho das manicures e pedicures. Pelo contrário, considero-o até uma verdadeira forma de arte. O que defendemos é que esse trabalho seja feito de forma mais segura, sem pôr em risco a saúde das pessoas”, alerta.

Unha como indicador de saúde

Além disso, Raquel Fernandes frisa que a unha é um informador da saúde, sendo possível perceber se uma pessoa está saudável ou não. Alterações no seu aspecto podem indicar doenças sistémicas que afectam o corpo todo, como anemia, problemas cardíacos e pulmonares, doenças do fígado, deficiências nutricionais, diabetes, psoríase e distúrbios da tireoide. Quando a unha está coberta por produtos cosméticos, perde-se essa informação. A dermatologista cita o exemplo de cancros de pele, como o melanoma subungueal, frequente em pessoas de raça negra ou mestiça, que surge por baixo da unha e, em alguns casos, pode ter o diagnóstico retardado pela aplicação de gel ou gelinho.

Fragilização da unha

A médica chama ainda a atenção para o uso excessivo de gel ou gelinho, que pode fragilizar a unha, deixando-a “como uma folhinha de papel”. Além disso, esse tipo de aplicação favorece o acúmulo de resíduos e bactérias sob a unha, que podem entrar em contacto com os alimentos.

E alerta também para o comprometimento das cutículas, que funcionam como uma barreira de protecção natural. Quando essa barreira é danificada, facilita-se a entrada de micro-organismos e aumenta o risco de infecções.

“Ao fazer uma unha de gel ou gelinho, é preciso primeiro lixar toda a superfície da unha. Isso abre os poros e aumenta muito o nível de absorção dos produtos químicos”, afirma.

Questionada sobre a periodicidade da aplicação de unhas artificiais, a dermatologista é clara: o ideal é não colocá-las. Uma alternativa mais segura é a pintura tradicional. Para quem ainda assim desejar aplicar gel ou gelinho, o ideal é fazê-lo com pouca frequência.

Manicures pedem mais informações

No emblemático mercado de Sucupira, profissionais de unhas mostram-se ainda confusas sobre a proibição do TPO.

Natu admite que nem sequer sabia o nome da substância proibida e logo questiona em que marcas de verniz pode encontrá-la e se poderá, ou não, continuar a fazer gelinho.

Neste mesmo instante, uma colaboradora de Natu implora em inglês, enquanto trança uma cliente, que “em nome de Deus” não as proíbam de fazer gelinho.

Ambas pedem mais informações sobre o tema, mas garantem que, se for necessário retirar o produto do estabelecimento, o farão porque a saúde vem em primeiro lugar. Natu admite, contudo, que a substituição poderá afectar os bolsos, já que o produto alternativo pode ser mais caro e, por conseguinte, aumentar o preço da aplicação.

Leidy Tavares também concorda que, se o produto é prejudicial à saúde, deve ser retirado circulação. Insiste, no entanto, que é necessário que seja criada uma alternativa viável, pois a aplicação de unhas de gel é uma importante fonte de rendimento.

Alguns clientes já perguntam sobre a presença do TPO nos produtos usados. A sua resposta tem sido que ouviu algumas notícias, mas ainda não tem certezas sobre o assunto, ressaltando que circula muita informação diferente.

Noutro estabelecimento, enquanto aguarda clientes, Cláudia Cardoso corrobora que circula muita informação contraditória. Assim, critica a falta de clareza das informações, já que as notícias não especificam em que produtos o TPO pode estar presente.

Cláudia apela às autoridades competentes para que sejam mais claras na informação passada, de modo a saber como proceder daqui para frente.

ERIS Esclarece

No passado dia 31 de Julho, a Entidade Reguladora Independente da Saúde (ERIS) divulgou uma circular informativa sobre o tema. A Técnica da Direção de Regulação Farmacêutica da ERIS, Mara Ramos, alerta que o Trimethylbenzoyl Diphenylphosphine Oxide, um fotoiniciador que endurece e seca rapidamente sob luz ultravioleta, pode ser encontrado em vernizes de gel, bases, top coats e géis de construção de unhas.

Durante muito tempo, o TPO foi considerado seguro. Estudos recentes mostraram, porém, que pode afectar a fertilidade e o desenvolvimento do feto, além de causar alergias em pessoas sensíveis.

“Porque o risco em humanos pode existir, o TPO passou a ser uma substância proibida em produtos cosméticos”, endossa Mara Ramos.

Quanto às marcas que podem conter o produto, é categórica: não se trata de uma marca específica. Para preservar a transparência e a credibilidade dos fabricantes, que já ajustaram as fórmulas aos novos requisitos, não serão divulgados nomes. A entidade poderá fornecer informações detalhadas e citar marcas apenas se forem detectados produtos não conformes no mercado após o período de transição.

Referente à fiscalização do mercado, durante o período de transição de quatro meses, entre Setembro e Dezembro de 2025, poderão ser realizadas visitas e acções de sensibilização dirigidas aos profissionais do sector, para esclarecer dúvidas e promover a literacia sobre o tema.

Findo este período, a ERIS apreenderá produtos não conformes e os operadores poderão ser sancionados. Desde a proibição em Setembro, as autoridades aduaneiras já têm carta-branca permanente para fiscalização e controlo na entrada do país.

Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1246 de 15 de Outubro de 2025.

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Autoria:Anilza Rocha,19 out 2025 11:24

Editado pormaria Fortes  em  20 out 2025 7:19

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