Italiano que trocou 'stress' de Milão por Cabo Verde quer ser presidente da Câmara da Boa Vista

PorLusa,9 mar 2020 8:45

Um italiano de 59 anos, que fugiu do ‘stress’ de Milão para se radicar em Cabo Verde, quer "retribuir" o que recebeu ao longo de mais de vinte anos e ser o próximo presidente da câmara da Boa Vista.

“É uma população muito educada, que me deu muita coisa, que agora pretendo retribuir, se for eleito”, começou por explicar em entrevista à Lusa Sérgio Corrá, empresário italiano radicado na ilha da Boa Vista.

Fundador do movimento independente “Pró Bubista Futura”, o empresário pretende liderar nas eleições autárquicas, que se realizam em Cabo Verde no segundo semestre deste ano, a candidatura à Câmara da Boa Vista, onde vive há 23 anos, por aquele grupo de cidadãos.

A lei eleitoral cabo-verdiana prevê a possibilidade de voto, em eleições autárquicas, a cidadãos estrangeiros maiores de 18 anos e com residência legal e habitual em Cabo Verde há mais de três anos. Para serem eleitos para cargos autárquicos, os cidadãos estrangeiros têm de ter residência legal e habitual em Cabo Verde há mais de cinco anos.

Foi na Boa Vista que Sérgio Corra casou com uma professora cabo-verdiana, tendo já duas filhas, mas não se conforma com o que hoje vê na ilha, com críticas à “corrupção” que diz marcar as consecutivas gestões municipais, nomeadamente um polémico processo de compra e venda de terrenos públicos que insistentemente vem denunciando.

“O que me choca mais é que é uma ilha que devia estar entre as mais desenvolvidas de Cabo Verde mas devemos estar nos últimos lugares, apesar de recebermos 40% dos turistas. Os terrenos da ilha foram vendidos e a câmara está coberta de dívidas. Assim, como está, não temos futuro. Somos os últimos dos últimos”, desabafou.

Cabo Verde, e a Boa Vista, conheceu quando tinha 37 anos e trabalhava em Milão, Itália, num banco de investimento norte-americano. Foi então desafiado para ser director do primeiro grande projecto turístico daquela ilha.

“Deixei o banco porque a minha cidade era de muito stress e naquela altura estava à procura de uma coisa diferente para a minha vida. Quando cheguei à Boa Vista viviam aqui 3.500 pessoas, não havia telemóvel, não havia internet, era difícil enviar um fax, havia problema com água e com luz”, recorda.

Apesar das dificuldades, acabou por reforçar a ligação à ilha e ao fim de dois anos deixou o cargo no empreendimento turístico para estabelecer o seu próprio negócio, na área alimentar, sempre na Boa Vista.

Hoje, Sérgio tem 30 empregados e, entre outros investimentos, o maior centro comercial da ilha. Durante este percurso chegou a ser eleito para a Assembleia Municipal da Boa Vista em 2012 e membro suplente da lista do Partido Africano da Independência de Cabo Verde (PAICV) em 2016.

Entretanto afastou-se do partido e diz que ao fim de “16 anos de ilegalidades” na ilha da Boa Vista, actualmente liderada também por uma lista de cidadãos que venceu as últimas autárquicas, é tempo de dizer “basta”.

“Vou dar a possibilidade de a população fazer um protesto, nem que acabe por ser apenas um eleito municipal. Não é só participar, mas deixar uma mensagem. O sistema da autarquia está a demonstrar que não é adequado. Não há fiscalização, atropelam todas as leis, e é preciso arranjar uma forma sustentável, porque esta não é sustentável ao nível económico, nem social”, desabafou.

E se for eleito, Sérgio Corrá garante que já sabe o que tem a fazer: “A primeira coisa é eliminar a dívida pública, depois baixar os altíssimos custos de funcionamento da câmara, repor a confiança dos investidores e ver o que se passou com a venda de terrenos da Boa Vista nos últimos anos, para finalmente aplicar as leis de urbanismo de Cabo Verde”.

As próximas eleições autárquicas em Cabo Verde ainda não estão convocadas, mas deverão realizar-se em Setembro. Antes disso, o movimento de cidadãos liderado pelo empresário italiano tem de recolher 400 assinaturas para formalizar a candidatura à câmara da Boa Vista.

“Já entregamos 105, para a semana mais uma centena. Fala pouco e ainda temos muito tempo para fazer a recolha, não haverá problema com isso”, garante.

Entretanto, o empresário de Milão também já vai preparando a campanha eleitoral e diz que não quer estar “ligado a ninguém” e “muito menos a investidores na ilha”.

“Tenho a minha independência económica, mas não vou fazer uma campanha dessas, como fazem os partidos. Apenas quero fazer passar o nosso programa e as nossas ideias, porque precisamos de fazer diferente. E não é por eu ter dinheiro, ou acreditam nas minhas ideias ou não”, assume.

E, independentemente do resultado das eleições autárquicas, garante que um regresso a Itália não está em cima da mesa, elogiando o povo, o clima e a nova vida que encontrou em Cabo Verde.

“Estou na Boa Vista para ficar”, rematou.

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Autoria:Lusa,9 mar 2020 8:45

Editado porSara Almeida  em  3 dez 2020 23:20

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