“Depois das peripécias em torno dos negócios nebulosos e atentatórios aos interesses nacionais, feitos com a Icelandair, o mínimo que se exige é que se faça um novo recomeço com base na transparência e que todas as informações sejam disponibilizadas aos contribuintes nacionais”, afirma.
Segundo Julião Varela, os cabo-verdianos precisam ter garantias em como os seus recursos não serão, mais uma vez, disparatados por uma decisão pouco ponderada sem se acautelar os interesses nacionais.
“É bom que esta decisão tenha efeitos imediatos nos custos de bilhetes, mas todos precisam saber claramente quais os planos futuros, que custos irão ser assumidos e para quando as soluções duradouras e estáveis para os destinos onde reside a maioria da diáspora cabo-verdiana”, frisou.
Julião Varela questionou, no entanto, o porquê de só agora se recorreu a esta saída de wet leasing “deixando o país por mais de um ano sem saída e obrigando os cabo-verdianos a suportar todas as dificuldades para viajar, de regresso e para fora, com custos elevadíssimos”.
Por outro lado, disse que o Governo tem que garantir que não estamos perante mais uma aventura, como das outras vezes, com soluções avulsas sem consistência e rodeadas de incertezas.
“O Governo deve também aproveitar esta oportunidade para esclarecer a opinião pública o que é feito do avião arrestado na sequência do escandaloso e falhado negócio da privatização dos TACV em que Cabo Verde não recebeu nem um centavo e os cabo-verdianos são hoje chamados a suportar milhões em avales e garantias concedidos a Icelandair, hoje assumidos pelo erário público depois da reversão, para o Estado, dos 51% da empresa que pregou calote ao Governo”, salienta.
Coincidentemente a retoma dos voos da TACV, acrescentou, acontece ao mesmo tempo que se reúne a Assembleia Geral da empresa para, entre outras, apreciar e aprovar as contas. “Isso acontece também sem surpresas porque já se sabe que as contas não vão bem e que vinham sendo acumulados avultados prejuízos, mesmo no momento considerado de bonança para os governantes. Todos já sabiam que a Icelandair vinha multiplicando prejuízos de ano para ano, menos o Governo que mergulhou numa atitude de avestruz”.
Conforme afirmou, esse negócio em 2017 teve um prejuízo de 3,7 mil milhões de escudos, “prejuízo esse duplicado em 2018 para 6,7 mil milhões de escudos''. Mesmo o ano de 2019, considerado o melhor da gestão do Governo do MPD, acumulou prejuízos no valor de mais de 6 mil milhões de escudos”.
Julião Varela disse que espera que o Plano de Negócio anunciado pelo Conselho de Administração da TACV traga soluções consistentes e previsíveis, “que envolvam o mercado doméstico e que acarrete menos prejuízos para os trabalhadores, em particular, e para os cabo-verdianos, de um modo geral”.