No seu discurso, Ulisses Correia e Silva relacionou o 80.º aniversário da ONU com a atual conjuntura global, marcada por conflitos, crises humanitárias, populismo e a aceleração das alterações climáticas, e defende uma Organização das Nações Unidas mais eficaz, fruto da vontade política dos Estados.
“Nenhum país está imune a este movimento disruptivo que avança com o impulso do exercício do poder absoluto, da provocação e exploração de fraturas sociais e da ideologia da pós-verdade. É este mundo turbulento que exige uma Organização das Nações Unidas empoderada enquanto reguladora global. Ela só é eficaz, se resultar da vontade política dos países que a compõem”, afirmou.
Ulisses Correia e Silva enalteceu a iniciativa UN80 do secretário-geral António Guterres como “um espaço de reflexão e de renovação do multilateralismo” e reafirmou o empenho de Cabo Verde em causas como a igualdade de género e a reforma do Conselho de Segurança, conforme a posição africana.
O chefe de governo destacou o papel de Cabo Verde enquanto SIDS activo e recordou a vice-presidência do país na AOSIS e a participação nas negociações internacionais sobre oceanos e financiamento para o desenvolvimento.
“Para nós SIDS, é fundamental operacionalizar o Índice de Vulnerabilidade Multidimensional, os mecanismos de conversão da dívida em financiamento climático e o Fundo de Perdas e Danos”, sublinhou.
Sobre acordos internacionais, Correia e Silva celebrou a entrada em vigor do Acordo sobre a Biodiversidade Marinha em Áreas além da Jurisdição Nacional e o histórico Acordo sobre Subvenções à Pesca, apontando-os como “instrumentos decisivos” para proteger a biodiversidade e a segurança alimentar. Ao mesmo tempo, lamentou a falta de consenso sobre um tratado global sobre plásticos e apelou à “persistência nas negociações”.
O primeiro-ministro saudou a Reunião Especial sobre o Clima convocada pelo secretário-geral e pelo Presidente do Brasil, na preparação da COP30, e sublinhou que a cimeira de Belém é “crucial” para a implementação plena do Acordo de Paris.
“Exigindo compromissos claros de todos os Estados, especialmente os maiores emissores, para limitar o aumento da temperatura a 1,5ºC. Não se trata de uma mera reivindicação, trata-se de uma questão de sobrevivência de todos, todos, todos”, destacou.
No capítulo da paz e segurança, o primeiro-ministro reafirmou a posição do arquipélago de Cabo Verde contra golpes de Estado, terrorismo, genocídios e violações da integridade territorial, defendendo sempre o diálogo e a diplomacia.
“Apoiamos uma solução de dois Estados para o conflito israelo-palestiniano e uma resolução pacífica da guerra na Ucrânia. Defendemos um forte compromisso para a prevenção e combate ao terrorismo e a conflitos em África”, defendeu.
Ulisses Correia e Silva destacou a importância do Pacto Global para a Digitalização para garantir acesso equitativo às tecnologias e à inteligência artificial, e realçou as parcerias estratégicas de Cabo Verde com a União Europeia, os Estados Unidos e o Brasil nas áreas da segurança marítima, combate ao tráfico e cibersegurança.