Todos os caminhos vão dar à Rua de Lisboa

O Carnaval está aí. A poucos dias da maior festa da ilha de São Vicente, ultimam-se detalhes para o desfile de terça-feira. Este ano, cinco grupos vão percorrer as ruas do centro histórico. Flores do Mindelo, Cruzeiros do Norte, Monte Sossego, Vindos do Oriente e Estrela do Mar competem pelo ceptro.

Flores do Mindelo

A competição abre às 15h00 de terça-feira (25), com o Grupo Carnavalesco Flores do Mindelo. Com o enredo “A lenda de uma civilização mítica”, o colectivo leva à Rua de Lisboa três carros alegóricos e espera juntar 800 foliões, que vão sambar ao ritmo de “A lenda mítica”, da dupla Eugénio Moreno e Eric.

“Hórus levou avante a vingança do seu pai Osíris, derrotou Set e tomou o trono, tornando-se o governante do povo Egípcio. Hórus era representado com a cabeça de falcão. Enquanto lutava com Set, ele perdeu um olho que foi substituído por um olho de serpente e o olho perdido foi considerado como espelho da alma e utilizado pelo povo como um amuleto da sorte”, explica Eugénio Moreno.

Fundado em 1978, nos últimos seis anos o Flores do Mindelo não conseguiu ir além do último lugar. Uma tendência que quer contrariar na próxima terça-feira.

“Os trabalhos e os ensaios estão a correr bem e com muita harmonia, o que nos permite ter mais qualidade. Estamos com a motivação em alta para apresentar um bom projecto e deixar uma boa imagem. Perspectivamos apresentar um grande Carnaval e, como qualquer outro grupo, queremos atingir o melhor patamar”, comenta.

Cruzeiros do Norte

O Grupo Carnavalesco Cruzeiros do Norte será o segundo a pisar o asfalto. O campeão de 2019 aposta forte na revalidação do título. Jailson Juff, presidente do grupo, fala de um espírito ganhador.

“O Cruzeiros do Norte entra nos desfiles com espírito de vencer. Sabemos que temos grupos com condições financeiras muito superiores, mas no ano passado provámos que não é só com condições financeiras que se ganha o Carnaval. Estamos na luta, a fintar as dificuldades, para apresentar um bom trabalho”, declara.

“Um tôtxa dritim” é o tema musical escolhido para este ano, da autoria da dupla João Carlos Silva (Jotacê) e Anísio Rodrigues. A letra e melodia ajudam a dar corpo ao enredo “Tudo a dois”. Na estrada, três carros alegóricos e dez alas. São esperados mil foliões.

“Fizemos uma coisa diferente, a começar desde o princípio do mundo, a falar de Adão e Eva, retratamos a questão da cor, branco e preto. O resto é surpresa para as pessoas verem no dia 25”, desvenda.

Monte Sossego

‘Reconquista’ bem poderia ser o lema do Grupo Carnavalesco de Monte Sossego, apostado que está em recuperar o ‘ouro’ que lhe foge desde 2016.

O grupo do bairro mais populoso da cidade conta desfilar com três carros alegóricos, 1.600 figurantes, divididos em doze alas. A música oficial é “Fatxa, fatxa n’arena”, de Constantino Cardoso.

António Duarte, presidente da colectividade, garante que os trabalhos decorrem a bom ritmo e fala de um espírito vencedor.

“Temos trabalhos em andamento em várias frentes, de execução de alegorias, de composição de alas. Temos um contingente que vem da nossa comunidade emigrada. Sempre trabalhamos para uma vitória e deixo aqui claro que a nossa mentalidade é uma mentalidade vencedora. Temos um espírito vencedor”, assegura.

Na sua 21ª participação, Montsu desce à Morada com o enredo “Nôs terra, mitos, contos e lendas”.

“O enredo é bastante explícito. Pretendemos mostrar no nosso desfile os contos populares e histórias que ouvíamos antigamente e que neste momento caíram em desuso. Temos a história explicada no nosso enredo e é nossa pretensão mostrá-la no desfile, não só nas alegorias, como na música e nas fantasias”, revela António Duarte.

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Vindos do Oriente

Em 2019, o Vindos do Oriente não participou no desfile oficial. Em rota de colisão com a Liga Independente dos Grupos Oficiais do Carnaval de São Vicente, o grupo ficou de fora do concurso.

Este ano sai “Em busca da pedra filosofal, contod de nôs manera”. Josina Freitas, da direcção, explica que os trabalhos decorrem a todo o vapor.

“Está tudo a postos. Neste momento, estamos em velocidade de cruzeiro, tanto no estaleiro como nos outros preparativos, costureiras, ensaios, bateria. Está tudo a ser afinado para o espectáculo no dia 25. Vamos à procura de algo que já temos, mas a que muitas vezes não demos valor, nomeadamente a nossa estabilidade, paz, harmonia, alegria”.

Vindos do Oriente, vencedor em 2017 e 2018, levará consigo três carros alegóricos e onze alas. Os foliões vão desfilar ao som de “Sab ca ta duê”, de Jotacê e Anísio.

Com cinco grupos a disputar o lugar mais alto do pódio, Josina Freitas antecipa uma competição saudável e um Carnaval com muito brilho.

“Estamos a trabalhar para ganhar. Ganhar com atitude, com alegria, com vontade, com valor e com muitas surpresas”, estabelece.

Estrela do Mar

E o quinto corso a entrar em cena será do grupo Estrela do Mar, que regressou à festa no ano passado, depois de sete anos fora da ribalta.

O enredo “Estrela d’nôs mar, tartaruga marinha” dá o mote, com o objectivo de, conforme Fernando Fonseca, líder do grupo, despertar consciências para a necessidade de protecção da espécie ameaçada.

“A nível mundial, tem-se feito apelo para a preservação da tartaruga marinha. Vamos, ao longo do desfile, mostrar as fases de protecção das tartarugas, até à fase adulta”, sintetiza.

Para passar a mensagem, o Estrela do Mar apresenta três carros alegóricos e perto de mil foliões, distribuídos por doze alas, que vão dançar ao som de “Tartaruga rainha”, música de João Carlos Silva e Anísio Rodrigues. Ingredientes que fazem de Fernando Fonseca um homem confiante na vitória.

“Temos um projecto bastante interessante e estamos a fazer de tudo para o concretizar. Vamos atingir a nossa meta. Esperamos que o júri faça um bom trabalho e que a análise seja feita durante o percurso, a todos os grupos”.

O financiamento do Carnaval continua a ser umas das principais dores de cabeça dos grupos oficiais. Apesar dos subsídios atribuídos pelo Ministério da Cultura e das Indústrias Criativas e pela Câmara Municipal, e mesmo com patrocinadores, o montante angariado continua a ser insuficiente, reclamam os responsáveis.

  • O “sonho” da Escola de Samba Tropical
    Horas antes do desfile de terça-feira, fora do concurso, mas dentro dos grupos oficiais, a Escola de Samba Tropical exibirá o seu habitual desfile da noite de segunda.
    No ano em que cumpre 32 apresentações, o grupo vai apresentar-se no ‘sambódromo’ mindelense com um carro alegórico, dois tripés e 23 alas, num total de 1.200 foliões.
    O presidente da escola, David Leite, promete um desfile recheado de surpresas.
    “São 32 anos sempre a pautar pela abertura oficial do Carnaval, um Carnaval diferente, sem concurso. É uma festa onde trazemos glamour e brilho”.
    O desfile decorrerá ao ritmo de “Sonho Divinal”, de Jotacê e Anísio Rodrigues. “Todos os sentidos vão dar ao sonho” é o enredo.
    “Vamos retratar a força que o sonho tem. Toda a nossa passagem pela terra depende da capacidade de sonhar do ser humano. O cabo-verdiano, por si só, é um povo sonhador. Temos chegado a várias conquistas em todas as áreas: no desporto, na música e na política graças ao poder de sonho”, resume.
    Da Holanda chegará um grupo de foliões.
    “A emigração tem uma vertente muito forte na Escola de Samba, porque temos muitos emigrantes que marcam as suas férias no Carnaval. Temos uma ala da Holanda que vai retratar o sonho do emigrante e que chega a Cabo Verde com tudo pronto”, diz David Leite.
    O presidente do grupo des­taca a presença de figuras internacionais, nomeada­men­te a embaixadora da União Europeia em Cabo Verde, Sofia Moreira de Sousa.
    “Vamos receber um grande actor e apresentador, Sílvio Nascimento, que vem desfilar como a nossa figura de destaque. Temos a embaixadora da União Europeia, que também vai desfilar como figura de destaque. Temos outros diplomatas e uma surpresa, uma modelo internacional que tem desfilado em grandes passarelas mundiais”, antecipa.
    David Leite acredita que o Carnaval de São Vicente chegou a um nível de qualidade bastante elevado, o que exige um sistema de autofinanciamento.
    “O maior desafio é financeiro e o Carnaval pode chegar a um grande colapso, porque não estamos a conseguir um sistema de autofinanciamento. Temos que ter um sistema em que temos recursos com muito tempo de antecedência, para que possamos fazer um trabalho como deve ser”, defende.  

Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 951 de 19 de Fevereiro de 2020. 

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Autoria:Nuno Andrade Ferreira, Fretson Rocha,23 fev 2020 8:45

Editado pormaria Fortes  em  18 nov 2020 23:21

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