Cultura primeira a fechar e provavelmente a última a abrir

PorDulcina Mendes,16 mai 2020 9:06

Os eventos culturais em todo mundo foram cancelados devido à pandemia do novo coronavírus. A cultura foi a primeira a fechar para evitar a propagação da doença e será provavelmente a última a voltar à normalidade, que não se sabe quando.

Muitas ainda são as dúvidas que pairam no ar quanto à retoma desse sector, não sabendo quando é que se vai voltar a ter os concertos musicais ao vivo, visitar as exposições, ir a lançamento de livros e a outros eventos culturais.

Em todo o país há mais de vinte festivais de músicas, para além de que todos os anos acontecem várias outras actividades culturais, tando dos poderes locais como de iniciativas privadas.

A pandemia vai mudar a essência dos eventos culturais. Para já, os músicos têm mantido contacto com o seu público através das lives nas redes sociais. Alguns artistas estão a lançar músicas novas durante a pandemia.

A COVID -19 teve grande impacto na agenda cultural no mundo inteiro. E agora sem shows ao vivo e sem previsão de regresso à normalidade, fica difícil a vida das pessoas que trabalham nesta área.

Muitas empresas dessa área tiveram que fechar as portas, os produtores musicais estão sem trabalho e sem meios de sobrevivência, pois dependem dos eventos culturais que acontecem anualmente no país.

O produtor musical, Augusto (Gugas) Veiga confessou que na sua área a situação está muito difícil. 

“Desde o início da pandemia estamos parados e não temos o dia de recomeçarmos as nossas actividades, pelo menos até final de Setembro não teremos trabalho. É uma situação muito difícil também para os músicos e para todos aqueles que estão na área de espectáculos e eventos e para suas famílias”, diz.

Neste momento, a prioridade é a sobrevivência das empresas da área e de todos que dependem da música para viver.

Numa entrevista a TCV, Mário Bettencourt, proprietário da empresa Marius Produções considera que o impacto da COVID-19 nos eventos tem sido arrasador.

“O impacto é enorme e quase arrasador por parte de agentes das empresas de produção, estão numa situação de falência e de fechar as portas porque somos dos primeiros a sofrer com as consequências da COVID-19 e, mais grave ainda é que não temos perspectiva de quando é que podemos começar, pois mesmo que houver abertura será tímida para evitar a propagação do vírus”, indica.

Para Mário Bettencourt, também há a questão da confiança das pessoas em reunir-se sem medo de contrair o vírus, por isso disse que 2020 é para esquecer e 2021 não parece encorajador para as empresas e produtores de eventos, apesar da ajuda do Governo.

“Há casos de moratórias, empréstimos bancários para ajudar a tesouraria, mas acredito que muitas ajudas têm que passar para as ajudas de fundo perdido, à semelhança daquilo que tem acontecido um pouco por todo mundo”, conta.

Sem rendimento

Conforme Augusto Veiga, é muito difícil haver artistas que consigam sobreviver muito tempo sem rendimento, pois quando ficam três, quatro meses sem actuar ficam numa situação difícil.

E neste sentido, aconselha os artistas a se unirem para criar associações para lutarem pelos seus direitos. “Gostaria que os músicos aproveitassem essa pandemia para unir e criar as suas associações para terem voz, discutir os seus direitos, arranjar forma de estar inscrito no INPS e terem os seus rendimentos para quando aconteça uma situação de desemprego”.

“É algo muito importante e espero que os músicos aprendam com esta situação para criarem as suas próprias associações para defender os seus direitos para não serem descartáveis como muitos estão a querer passar para a opinião pública. Sabemos que músicos e músicas são das mais importantes que temos em Cabo Verde como nossa identidade cultural. Para além disso, a música serve para toda essa sensação que temos de vazio para ocupar a nossa mente e nos distrair”, acrescenta.

Mário Bettencourt avançou que neste momento precisam de toda a atenção que as outras pessoas estão a exigir, senão nesse sector a situação será economicamente um desastre. “Neste momento nada está a funcionar e os artistas estão a pedir ajudas às suas produtoras e estas têm que ir aos bancos para pedir ajuda e nós, por exemplo, 70 % da nossa actividade depende das Câmaras Municipais e se elas não derem um passo em frente no sentido de ajudar as empresas dos seus municípios a ultrapassar essa crise, acredito que os programas culturais vão cair e a cidade e o país vão perder”.

Para Paulo Lobo Linhares, da editora e produtora Insulada, esses tempos serão não só de reinvenção mas também de afirmação. “O sector mostrou ter soluções, saiu reforçada a imagem da classe, o que implica a aposta dos parceiros pois acredito que mostramos ser capazes de criar retornos quer financeiros quer de imagem para quem em nós acreditar. Como disse Charles Chaplin 'a vida é feita de coragem e fantasia'. Temos de misturar a coragem a um tipo de fantasia criativa, cientes que os apoios dos parceiros será condição indispensável”.

Em relação às mudanças que teremos nessa área depois da pandemia, Paulo Lobo Linhares preferiu citar os formatos dos espectáculos, das produções artísticas. “Teremos de arranjar novos palcos, outros cenários e outras formas de fazer fruir a arte e a cultura, uma vez que o nosso público precisa de nós”.

Perspectivas

De acordo com Augusto Veiga, as perspectivas são muito más, pois ainda não tem nenhuma indicação de quando é poderão recomeçar as suas actividades, “todos os eventos, festas de romarias e festivais estão cancelados até finais de Setembro, reduzindo a quase zero as perspectivas de trabalho em Cabo Verde”.

Para este produtor musical quem tem responsabilidades nesta área deveria trabalhar com as pessoas do sector para pensarem o futuro, mas salientou que elas pessoas não estão minimamente preocupadas.

Por outro lado, disse que a música mostrou nesta fase de isolamento ser das coisas mais essências para o nosso bem-estar comum e união da nação e que merecem ser acarinhada e protegida.

Questionado se há condições de realizar algum evento cultural no país, Augusto Veiga acredita que os concertos mais pequenos e restritos ainda possam acontecer este ano.

Já Paulo Lobo Linhares é de opinião de que tudo dependerá das normas que serão definidas e medidas tomadas pelos governantes. “Aguardamos a legislação e instruções concretas e práticas das nossas entidades. Na verdade, nem mesmo o mundo da ciência tem respostas já concretas, por estarmos a lidar com um desconhecido. Só depois das definições das normas se poderá prever datas para tal regresso, será essencial que as regras e leis institucionais da nova normalidade da área cultural, sejam claras e adaptáveis para todos, para que assim possamos saber bem como proceder”.

Nas ilhas sem casos da doença ainda não há indicação das autoridades no sentido da realização dos eventos culturais. Neste sentido, tem-se que continuar a cumprir as medidas anunciadas pelo Governo.

Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 963 de 13 de Maio de 2020. 

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Autoria:Dulcina Mendes,16 mai 2020 9:06

Editado pormaria Fortes  em  24 fev 2021 23:21

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