Autor do livro “The 10% Entrepreneur: Live Your Startup Dream Without Quitting Your Day Job” (Portfolio, 2016), Patrick McGinnis é um antigo quadro de Wall Street que viu a sua vida mudar com a crise que em 2008 fez fechar portas várias grandes empresas. A crise foi a oportunidade para mudar a sua perspectiva quanto ao mundo laboral e a partir daí desenvolveu o conceito de empreendedor a 10%. Isto é, ser empreendedor ao mesmo tempo que se mantém o emprego, dedicando apenas 10% do tempo e recursos à sua actividade como empreendedor.
Tendo em conta os desafios por que passam as empresas cabo-verdianas do sector da Comunicação Social e os jornalistas, e na linha do evento que tinha realizado em Dezembro do ano passado em que discutiu o financiamento do sector privado, a AJOC aceitou o repto da Embaixada norte-americana e convidou o especialista a falar aos jornalistas sobre empreendedorismo.
“Desta vez pretendemos falar de projectos concretos. A embaixada dos EUA lançou o desafio à AJOC para organizar o encontro e, basicamente, ele falará sobre a sua vasta experiência e sobre como montar um projecto de negócio nessa área”, disse o presidente da AJOC, Carlos Santos, ao iniciar o encontro.
Classe empreendedora
Considerando que os jornalistas “já não estão tão atrelados ao sector público”, Carlos Santos vê a classe como naturalmente empreendedora, exemplificando com situações em que as empresas entram em falência e os jornalistas se unem a criam os seus próprios projectos editoriais. Assim, a expectativa era de ouvir Patrick McGinnis apresentar ideias de como estruturar um projecto, como sensibilizar investidores e alcançar sucesso.
As novas tecnologias de comunicação foram apontadas por McGinnis como ferramentas essenciais para aqueles que querem criar conteúdos que lhes permitam ter sucesso enquanto empreendedores. Podcasts (conteúdo em áudio, disponibilizado através de um arquivo ou streaming), blogues ou newsletters foram citados como exemplo de ferramentas de que os jornalistas podem deitar mão para criar conteúdos pagos pelos consumidores e/ou patrocinados.
“Nos EUA estamos a meio da transição da indústria tradicional das Mídias para um novo modelo. Ainda não sabemos ao certo o que vai ser mas, acho que algumas coisas que estamos a constatar é que, primeiro, os jornalistas têm que pensar como empreendedores. O jornalista hoje em dia pode ter podcast, blogue… várias formas de comunicar. Têm que ter uma relação directa com o público”, observou McGinnis que também defende que as empresas de Comunicação Social devem investir em inovação.
“Ou seja, pensar quais são as coisas que vão ser importantes no futuro e como podem investir nisso”, vincou, acrescentando ainda que as empresas de Comunicação Social devem estar cientes de que o país estará diferente dentro de 10 anos e, com isso em mente, devem começar a traçar a sua estratégia.
“Há 20 anos ninguém recebia informação pela internet mas, houve mudanças rápidas, temos visto, e isso é graças às tecnologias. Há que aceitar a realidade e trazer as tecnologias aos média”, apontou.
Trazer novas tecnologias aos média
Para Patrick McGinnis a mudança abarca também a relação do jornalista com o público, entendendo como vantajosa a proximidade trazida pelas redes sociais e a relação directa criada através do Facebook, Twitter e outras redes.
“Essa relação de proximidade e confiança é importante nesse tempo de fake news, etc. Gera credibilidade e confiança entre leitor e jornalista”, considerou o autor ressaltando que é importante que os conteúdos, as notícias, tenham qualidade e credibilidade.
Confrontado com as particularidades do mercado cabo-verdiano, a sua pequenez e os constrangimentos relativamente a financiamento, o mesmo aponta a diáspora e a lusofonia como potencialidades a serem exploradas.
Já o presidente da AJOC reconheceu que a lei cabo-verdiana para a Comunicação Social apresenta algum constrangimento ou limitação a que jornalistas sejam gestores ou administradores de empresas de comunicação.
“Mas temos o pacote legislativo em processo de revisão, porque não mudar para que o jornalista possa também criar o seu negócio, o seu projecto editorial?”, questionou.
McGinnis, que se destacou a nível mundial ao cunhar a expressão FOMO (fear of missing out), hoje parte do vocabulário do empreendedorismo, defende que ser empreendedor é óptimo mas não é para todos. “Principalmente para quem tem uma hipoteca e filhos pequenos”, disse numa entrevista a uma publicação nessa área. Na mesma, o especialista diz ainda que as estatísticas de um estudo conduzido pela Universidade de Wisconsin-Madison mostraram que as pessoas que se tornaram empreendedoras em part-time tinham 33% menos de probabilidade de falhar do que aquelas que deixaram os seus empregos e iniciaram start-ups a tempo inteiro.
Texto originalmente publicado na edição impressa do expresso das ilhas nº 905 de 03 de Abril de 2019.