Número de passageiros em trânsito no Aeroporto do Sal aumentou em mais de 800 por cento

PorSusana Rendall Rocha,22 dez 2019 7:30

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Ulisses Correia e Silva
Ulisses Correia e Silva

No âmbito das comemorações do 80º aniversário do Aeroporto do Sal e da entrada da ilha e de Cabo Verde nas rotas da aviação comercial internacional, ficou patente a intenção do Governo de transformar a ilha do Sal numa Zona Económica Especial para o desenvolvimento do sector dos transportes aéreos.

Esta visão foi transmitida pelo Ministro do Turismo e Transportes, José Gonçalves, que presidiu à sessão de abertura da Conferência Internacional com o tema ‘Cabo Verde: País Plataforma’ realizada no final da semana passada, por iniciativa da ASA, e no âmbito das celebrações do 80º aniversário do Aeroporto Internacional Amílcar Cabral (AIAC). 

Na sua intervenção, o Primeiro-Ministro, Ulisses Correia e Silva, reafirmou esta visão do Governo, sublinhando que o objectivo maior é posicionar Cabo Verde no Atlântico Médio como uma plataforma de referência nos transportes aéreos, e que contribua para o aumento do potencial de crescimento económico do país e criação de empregos de qualidade. 

Para atingir este objectivo, a estratégia do executivo governamental passa por aproveitar as potencialidades da ilha do Sal. “É nossa ambição criar cadeias de valor em tudo o que são atividades conexas e com externalidades relativamente aos dois setores maiores na ilha do Sal: os transportes aéreos e o turismo”. 

Para Ulisses Correia e Silva, a ilha do Sal já possui os “condimentos necessários que permitem avançar com alguma rapidez”, sendo agora necessário “organizar toda a ilha e alinhar todos os sectores, instituições e serviços para aproveitar este potencial”.

A decisão de criar o Instituto do Turismo com sede na ilha do Sal foi um dos exemplos apontados pelo Primeiro-Ministro como parte desta estratégia mas também o reforço da formação de nível superior no sector turístico, e a aprovação em Conselho de Ministros, amanhã, quinta-feira, de um novo regime do estatuto de utilidade turística.

Este documento legal irá permitir a certificação dos serviços e produtos nacionais criando espaço e oportunidades de negócio para os empresários cabo-verdianos e um conjunto de incentivos para o desenvolvimento da economia local. 

Está ainda previsto, para o próximo ano, a concessão da gestão dos aeroportos e dos serviços de handling e a conclusão do processo de privatização da Cabo Verde Airlines. 

Número de passageiros em trânsito no Aeroporto do Sal aumentou em mais de 800 por cento. Os números de passageiros em transferência no Aeroporto Internacional Amílcar Cabral, na ilha do Sal, sofreram um crescimento exponencial no último ano. As estatísticas mostram que, de oito mil em 2018, o número de passageiros em trânsito até novembro deste ano, ultrapassou os 68 mil. 

Os dados apresentados pelo Administrador da ASA, Nuno Santos, durante a conferência internacional ‘Cabo Verde, País Plataforma’, mostram que, impulsionado pela estratégia de hub aéreo, o somatório dos passageiros em trânsito e transfers tiveram um crescimento acumulado no período 2016-2019 de 818%, o que representa mais 60 mil passageiros em 2019 face a 2016, num crescimento médio de 109% ao ano. 

Estes números demonstram a grande potencialidade do stopover – escala de até sete dias na ilha do Sal de passageiros em trânsito entre as Américas e a Europa - como forma de estimular o desenvolvimento do turismo a nível nacional. 

O conferencista, José Almada Dias, representante da CV Trade Invest, Centro Internacional de Negócios, lembrou que o Hub Aéreo deve “beneficiar o país inteiro com impacto para a promoção da economia e do emprego em todas as ilhas do arquipélago”. Daí que o stopover pode ser melhor aproveitado para estimular a atractividade das outras ilhas. 

Almada citou a abertura das novas rotas da CV Airlines, para Lagos e Washington como forma de potencializar a atração do investimento externo para as restantes ilhas do arquipélago. 

Exemplificando com a ilha de São Vicente, o representante da CV Trade Invest congratulou-se com o aumento de mais mil quartos na ilha do Monte Cara, com a construção de um hotel em Salamansa e mais uma unidade hoteleira da marca Sheraton, na praia da Laginha, pertencente ao grupo Merriot, uma das maiores cadeias hoteleiras mundiais. 

Antolívio Martins, da CV Airlines lembrou ainda que, muito em breve, cerca de 400 quartos por dia estarão ocupados na ilha do Sal, por passageiros em transferência por um período médio de 48 horas. 

No entanto, a TSA – Taxa de Segurança Aeroportuária afigura-se como um entrave ao desenvolvimento do Stopover, uma opinião partilhada pelos três conferencistas citados. “A TSA é um grande impasse ao desenvolvimento do stopover”, afirmou Nuno Santos, na sua apresentação, logo reforçado pelos restan­tes conferencistas que suge­ri­ram que esta taxa seja imedia­tamente “pensada e revista”. 

Em resposta a estas preocupações, o Primeiro-Ministro, durante o seu discurso de encerramento da Conferência internacional anunciou que Cabo Verde irá alargar, já no início do próximo ano, a isenção de vistos, já concedida a cidadãos europeus, também para cidadãos dos Estados Unidos da América, do Brasil e Canadá.

                                                                            Aeroporto do Sal
Aeroporto do Sal

  • 80 Anos de história nas rotas da aviação
    Foi no ano de 1939 que os primeiros aviões pousaram na planície entre Feijoal e Parda e meses mais tarde no Lajedo de Espargos, dizendo adeus aos hidroaviões que, desde há alguns anos, amaravam e decolavam nas baías de São Martinho, Murdeira e Palmeira.
    Cabo Verde já estava nas rotas da transportadora francesa Aéropostale, cujos hidroaviões utilizavam Calheta de São Martinho, na Ilha de Santiago, para escalas técnicas em direcção a Dakar e daí para a América de Sul por barco.
    A Air France (sucessora da Aéropostale) já tinha realizado estudos nas ilhas de Santiago, Maio, Boavista e Sal, tendo estes delimitado, em Junho de 1935, dois campos de aterragem no Sal: uma entre Terra Boa e Morrinho do Filho e outra entre Feijoal e Parda, a sul de Pedra de Lume. Um terceiro sítio entre Serra Negra e Bonfim, perto de Santa Maria, também foi indicado como possível para um aeródromo.
    A 15 de Agosto de 1939 um Savoia Marchetti SM83, pilotado pelos comandantes Carlo Tonini e Antonio Moscatelli, aterrou na planície entre Feijoal e Parda, na Ilha do Sal, no terreno previamente delimitado pelo francês Jean Arcaute.
    A autorização portuguesa para o arranque das obras do aeroporto de Espargos chegou a 13 de Outubro de 1939 e no dia seguinte (14) deu-se início aos trabalhos de limpeza do terreno, terraplanagem da pista de terra batida e construção das instalações.
    A 7 de Outubro de 1939, um SM83, pilotado pelos comandantes Antonio Moscatelli e António Rapp, fez um voo de teste na pista do aeroporto, ainda em construção, seguindo-se um outro voo a 13 de Novembro de 1939, desta vez com Bruno Mussolini ao comando de um SM83, numa segunda visita ao Sal.
    Doze dias antes, mais precisamente a 1 de Setembro de 1939 tinha tido início a II Guerra Mundial com a invasão da Polónia pela Alemanha. A 15 de Dezembro de 1939 aconteceu o primeiro voo oficial da Lati no Aeroporto do Sal, com um Savoia Marchetti SM83, matrícula I-AZUR, comandado por Stephano Gori Castellani, em direcção à América do Sul. 
    Texto escrito com base nos estudos do Engº Mário Paixão, antigo PCA da ASA.

Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 942 de 18 de Dezembro de 2019. 

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Autoria:Susana Rendall Rocha,22 dez 2019 7:30

Editado porNuno Andrade Ferreira  em  12 set 2020 23:21

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