É um crescimento histórico e muito acima de todas as projecções. “Um crescimento acumulado em relação ao ano anterior (2021) de 17,7%, ultrapassando em muito todas as previsões inicialmente divulgadas”, escreveu no Facebook, o antigo governador do Banco Central, Carlos Burgo. “O erro nas previsões deveu-se, essencialmente, ao facto de nelas não se ter considerado o perfil intra-anual de crescimento em 2021, caracterizado por uma forte recuperação da economia no último trimestre desse ano”, referiu ainda o economista.
“Mesmo sem nenhum crescimento da economia em 2022, mantendo-se o PIB trimestral no nível alcançado no IV trimestre de 2021, a taxa de crescimento em 2022 relativamente a 2021 teria sido de cerca de 13%!!! Isso significa que para que o crescimento anual do PIB fosse inferior a 13% teria de ter havido uma recessão da economia em 2022, cenário esse não considerado em nenhuma previsão divulgada”, analisou Carlos Burgo.
Segundo os dados divulgados pelo INE, no 4º trimestre de 2022, o Produto Interno Bruto (PIB) registou, em termos homólogos, uma variação positiva de 9,1%. Do lado da oferta, o Valor Acrescentado Bruto (VAB) – o valor que cada sector da economia adiciona ao valor final de tudo que foi produzido [O PIB é a soma dos VABs sectoriais e dos impostos] – apresentou uma evolução homóloga positiva de 7,9%, destacando-se as actividades do comércio, transporte e armazenagem e alojamento e restauração. Os impostos líquidos de subsídios apresentaram uma evolução homóloga positiva de 16,8%.
O VAB do ramo da Agricultura aumentou 11,9% no 4º trimestre de 2022, contribuindo positivamente em 0,3 p.p. na variação total do crescimento do PIB.
O VAB do ramo das Indústrias Transformadoras registou um aumento de 2,5% (-2,1% no 3º trimestre de 2022), contribuindo positivamente em 0,1 p.p. para a variação total do crescimento do PIB.
No VAB do ramo da Construção verificou-se uma diminuição de 20,8% no 4º trimestre, tendo uma contribuição negativa de 2,0 p.p. na variação total do crescimento do PIB.
Comparativamente ao mesmo trimestre de 2021, o VAB do ramo de Comércio apresentou, no 4º trimestre de 2022, uma variação homóloga positiva de 20,8% em volume (40,1% no trimestre anterior), traduzindo-se num contributo para a variação homóloga positiva do PIB em 2,0 p.p.
O VAB dos ramos de Transporte e armazenagem e de Alojamento e Restauração, apresentou, em termos reais, uma variação de 34,1% e 62,9%, respectivamente, no 4º trimestre, (contribuindo em 2,2 p.p. e 3,3 p.p. respectivamente, para a variação total do crescimento do PIB).
O VAB do ramo da Administração Pública teve, no 4º trimestre, uma variação homóloga de -12,4%, (-8,5% no 3º trimestre de 2022), contribuindo em -1,7 p.p. para a variação total do crescimento do PIB.
Por sua vez, os Impostos Líquidos de Subsídios sobre os Produtos, em termos reais, apresentaram uma variação homóloga positiva de 16,8 % no 4º trimestre, contribuindo em 2,2 p.p. para a variação total do PIB.
O Consumo Final (privado e público) teve uma variação homóloga positiva de 10,8% no 4º trimestre de 2022 (18,6% no trimestre anterior).
O consumo privado aumentou 16,8% em termos reais, no 4º trimestre de 2022 (28,2% no 3º trimestre). O consumo público apresentou uma taxa de variação homóloga negativa de 7,0%, em volume (-7,7% no trimestre anterior).
O Investimento registou uma variação homóloga negativa de 35,2%, em volume, no 4º trimestre de 2022 (-20,6% no trimestre anterior).
Importações e exportações
Exportações e Importações de bens e serviços, em volume, aumentaram no 4º trimestre de 2022, em 53,4% e 6,5%, respetivamente.
As Exportações de Bens e Serviços, em volume, desaceleraram significativamente no 4º trimestre, para uma variação homóloga de 53,4% (115,5% no trimestre anterior). As exportações de bens cresceram 27,6% em termos homólogos (89,3% no trimestre anterior), enquanto as exportações de serviços tiveram uma variação positiva de 61,9% (128,1% no 3º trimestre). As Importações de Bens e Serviços, em volume, aumentaram 6,5% em termos homólogos, taxa inferior em 13,4 p.p. face ao trimestre anterior, observando-se abrandamentos nas duas componentes, para variações de 5,6% nas importações de bens (21,5% no 3º trimestre) e de 10,7% nas de serviços (12,7% no trimestre anterior).
Assim, a taxa de variação acumulada dos quatro trimestres de 2022 aponta para um crescimento anual do PIB de 17,7%, em volume. Este crescimento, o mais alto verificado ao longo da série, foi antecedido de uma diminuição histórica em 2020 (-19,3%), na sequência dos efeitos adversos da COVID 19 na atividade económica.
O crescimento acumulado dos quatro trimestres de 2022 ficou a dever-se, essencialmente, às actividades da electricidade e água, comércio, transporte e armazenagem, alojamento e restauração, actividades financeiras e de seguros, serviços às empresas e impostos líquidos de subsídios sobre os produtos.
Na ótica da Despesa, o crescimento do PIB verificado no ano de 2022, deve-se essencialmente às componentes das despesas do consumo privado e das exportações de bens e serviços. Em relação às exportações de serviços, o resultado reflecte em parte o aumento expressivo da componente de turismo.
Cabo Verde teve 12,1% de desemprego em 2022
Em 2022, a população desempregada foi estimada em 24 420 pessoas, uma taxa de desemprego em 12,1%. Por sexo, a taxa de desemprego entre os homens é de 10,3% e entre as mulheres é de 14,0%.
Também no ano passado, a população subempregada foi estimada em 22 449 e a taxa de subemprego em 12,6%. O meio rural apresentou a maior taxa de subemprego, 18,6%, contra 11,1% no meio urbano. Entre as mulheres, a taxa de subemprego foi de 14,6% e entre os homens de 11,7%.
Já os inactivos, ou seja, população sem emprego, que não procurou trabalho ou que não está disponível para o mercado de trabalho, contabilizou 150 059 pessoas, uma consequente taxa de inactividade em 42,6%.
A grande maioria dos inactivos são jovens de 15-24 anos (34,9%), e a principal razão da inactividade é o facto de serem estudantes. Os idosos, 65 anos ou mais, representam 20,1%.
No entanto, 51 654 jovens entre os 15-35 anos, tanto estão sem emprego como fora do sistema de ensino ou formação, representando 29,2% do total dos jovens nesta faixa etária.
Já considerando a faixa etária de 15-24 anos, a proporção de jovens sem emprego e fora do sistema de ensino ou formação é de 27,8%, equivalente a 22 464 jovens.
Este indicador tem maior incidência entre as mulheres: 32,5% das mulheres de 15-35 e 28,9% das mulheres de 15-24 anos. Entre os homens, 25,8% dos jovens de 15-35 anos e 26,6% entre os 15-24 anos estavam sem emprego e fora do sistema de ensino ou de formação.
De acordo com os principais indicadores do mercado de trabalho, a população de 15 anos ou mais, em idade para desempenhar uma actividade económica e que representa a força de trabalho do país, foi estimada em 352 494 indivíduos, representando 71,8% da população total. Já a população economicamente activa foi estimada em 202 435 indivíduos.
População empregada e taxa de emprego
A população empregada/ocupada totalizou 178 016 indivíduos, uma taxa de emprego/ocupação de 50,5%. Por sexo, regista-se que a população empregada masculina (141 669 homens) representa 54,4% e a feminina (81 210 mulheres) 45,6% dos empregados.
Os grupos etários de 25-34 anos e de 35-64 anos apresentam as mais elevadas taxas de emprego/ocupação, 64,9% e 64,8%, respectivamente. Entre os jovens de 15-24 anos, a taxa de emprego/ocupação foi de 25,6%. Por concelho, Sal e Boa Vista continuam a ser as ilhas com as maiores taxas de emprego/ocupação, 65,1% e 64,6%, respectivamente. Seguem-se os concelhos da Praia (55,3%) e São Vicente (55,1%), com valores acima dos 55%.
O sector terciário [comércio e serviços] é o que absorve mais mão-de-obra, com 122 346 empregos e um peso relativo de 66,9%. O sector secundário [indústrias e construção] regista um total de 37 642 empregos e representa 23,0% do total. Já o sector primário [agricultura, pecuária, pesca] acolhe um total de 25 617 empregos e um peso relativo de 10,1%.
A actividade económica é dominada pelo ramo “comércio, reparações de automóveis e motociclos”. Cerca de 16,5% dos empregados com idade de 15 anos ou mais, trabalham neste ramo. Segue-se o ramo de construção (12,2%) e administração pública (10,6%). O ramo de alojamento e restauração dá trabalho a 8,2% dos empregados.
O sector empresarial privado continua a ser o maior empregador em Cabo Verde, absorvendo 42,8% dos empregados de 15 anos ou mais, seguido dos empregados por conta própria com 23,6% e Administração Pública, que absorve 18,9%.
95 708 empregados trabalham na informalidade (53,8%). Na maioria, são trabalhadores por conta de outrem (47,5%) ou trabalhadores por conta própria (38,2%). Por sexo, verifica-se que 57,9% dos homens e 42,1% das mulheres trabalham em empregos informais.
Stock da dívida pública
O stock da dívida do Governo Central de Cabo Verde no final do 3º trimestre de 2022 situou-se em 299.056 milhões de CVE, representando 139,9% do PIB. Registou-se um ligeiro aumento de 1,7 pontos percentuais em relação ao stock/PIB do mesmo período do ano anterior, segundo dados do Ministério das Finanças.
O crescimento absoluto da dívida foi de 27.135,6 milhões de CVE, equivalente a uma variação positiva de 10% face ao valor do trimestre homólogo do ano anterior, que se justifica pela combinação dos seguintes factores: novos recursos mobilizados; variação cambial e as amortizações do período em análise.
O serviço da dívida pública atingiu no 3º trimestre de 2022 o valor de 19.102,4 milhões de CVE, representando um aumento de 56,6% em relação ao valor do ano anterior no mesmo período. O aumento foi consistente no serviço da dívida externa que cresceu 102,5% em relação ao período anterior, que corresponde em termos absolutos o valor de 3.676,1 milhões de CVE. O aumento é justificado pelo facto de em 2021 o Governo cabo-verdiano ter beneficiado de uma moratória de serviço da dívida, da parte de alguns dos parceiros de desenvolvimento. O aumento do serviço da dívida interna é de 37,4%.
No 3º trimestre de 2022 o valor global correspondente à nova dívida bruta do Governo Central, para financiar o orçamento do Estado, foi de 25.732,8 milhões CVE. Registou-se um acréscimo de 19,1% face ao valor do período homólogo do ano anterior. Os desembolsos da dívida externa registaram um montante de 4.460,9 milhões de CVE, representando uma variação de 0,3% face ao valor do período anterior. As emissões de títulos da dívida interna contabilizaram o montante de 21.271,8 milhões de CVE, registando um aumento de 23,9% em relação ao mesmo período de 2021.
Ainda esta segunda-feira, na Zâmbia, o Diretor da Divisão de Macroeconomia e Governança da Comissão Económica para África (UNECA), Adam Elhiraika, afirmou que os países africanos devem criar estratégias eficazes de gestão da dívida para impulsionar o crescimento económico e evitar cair na armadilha da dívida.
Na abertura de um workshop de aprendizagem entre pares sobre estratégias de gestão da dívida, que se realiza em Lusaka até ao próximo dia 6, Elhiraika recordou que a gestão da dívida é um desafio para os países africanos.
Nas últimas seis décadas, cada recessão global levou a um aumento da dívida governamental global. A maior parte da dívida pública actual foi acumulada durante os anos fiscais de 2020 e 2021, quando os países se endividaram para fazer face aos efeitos da pandemia.
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1114 de 5 de Abril de 2023.