A conferência, que vai debater os novos caminhos do turismo nacional, vai receber oradores internacionais, operadores turísticos, membros de organizações e associações ambientais, professores universitários, consultores, investidores e representantes de outros países que vêm apresentar as suas experiências no sector do Turismo de Natureza.
O grande objectivo, refere a organização, “é reflectir sobre o crescimento e inovação do turismo em Cabo Verde, particularmente no âmbito do Turismo de Natureza, com ênfase nos investimentos verdes, enquanto prioridades para construção de economias resilientes, acelerar a mitigação dos efeitos da acção climática e dar maior sustentabilidade ao Planeta”.
O evento vai igualmente servir para a promoção dos “investimentos, públicos e privados, em prol do turismo de Natureza, que estão a ser levados a cabo no âmbito do Programa Operacional do Turismo (POT)” assim como “constituir um espaço de discussão, debate e apresentação dos modelos de turismo de natureza em diferentes partes do Mundo”.
Economia subdesenvolvida
Mas por onde passa a diversificação do Turismo em Cabo Verde? Esta é uma das perguntas que se coloca ao sector numa altura em que se procura criar uma oferta que vá para além do tradicional turismo de sol e praia.
Eugénio Inocêncio, presidente da Associação de Turismo de Santiago, não tem dúvidas em apontar a gastronomia como um dos caminhos para essa diversificação. “Passa necessariamente pela gastronomia. Países com sucesso ao nível do turismo são países com grande riqueza gastronómica”, defende.
No entanto, diz Eugénio Inocêncio, Cabo Verde enfrenta “um problema grave” e que impede que a gastronomia nacional assuma um papel mais importante como factor de atracção turística.
“Temos a problemática de uma economia subdesenvolvida, com várias velocidades, temos a incapacidade da nossa agricultura em fornecer ao nosso turismo os elementos que permitem uma gastronomia de grande qualidade. E isso apesar do esforço dos profissionais ligados ao sector”, destaca Eugénio Inocêncio.
Quanto ao evento que decorrer no dia 29 em Santo Antão, Eugénio Inocêncio não tem dúvidas que “vai ser positivo e vai haver contributos significativos”.
“O raciocínio sobre o que se pode oferecer ao nível do turismo é da maior importância e acredito que vão ser dados contributos importantes a esse nível. Mas para que seja possível potenciar essas condições que existem na Ilha de Santo Antão e nas outras ilhas é preciso resolver e abordar um outro tipo de questões que estão a montante. É preciso encontrar os instrumentos que permitem romper o subdesenvolvimento” diz, lembrando que “o Sal representa uma procura de cerca de 100 milhões de euros por ano em produtos dos sectores tradicionais da nossa economia. Cabo Verde está a aproveitar apenas cerca de 5%. O resto é importação”.
É preciso criar estratégias, é preciso criar instrumentos, é preciso trabalhá-los, diz ainda Eugénio Inocêncio que esclarece que o turismo de montanha não deve ser visto como uma alternativa ao turismo tradicional de sol e praia, mas sim como parte de uma “parte da oferta” global. “A oferta turística de sucesso nos países em que o turismo é sustentável não flutua em função de uma determinada oferta que em determinado momento pode ter uma procura menor”, defende.
Procura a aumentar
“A procura tem vindo a aumentar”, diz por sua vez, Ana Carvalho, secretária-geral da Câmara de Turismo. E este aumento sente-se especialmente na ilha de Santo Antão, “muito procurada por turistas franceses e alemães” que chegam a São Vicente e “aproveitam a ligação para Santo Antão”.
Mas se a ligação marítima entre São Vicente e Santo Antão é um factor importante para o desenvolvimento do turismo, o mesmo não se pode dizer em relação às outras ilhas. A falta de ligações regulares quer aéreas quer marítimas impede que ilhas como Santiago ou São Nicolau tenham um papel mais preponderante no cenário turístico nacional.
Ainda assim, reconhece Ana Carvalho, Santiago também continua a ser uma ilha muito procurada. “Santiago é uma ilha que tem uma maior diversidade em termos de oferta. Ou seja, para além do turismo da natureza, pode-se fazer o turismo de aventura, pode-se fazer o turismo cultural, porque tem actividades culturais que se registam ao longo do ano o que diversifica a procura”.
Para esta responsável o único problema relacionado com Santiago, principalmente na cidade da Praia, é a oferta de hospedagem. “Neste momento, a Praia apresenta uma oferta reduzida de hospedagem, o que limita a procura de turistas. Mas existem vários projectos em carteira que deverão ser implementados brevemente”.
Valor no PIB
Ana Carvalho diz ainda não ser possível responder sobre qual o peso que o turismo de natureza e de montanha têm no PIB nacional.
“Não temos essa informação. Daqui até ao final do ano, através dos dados estatísticos do INE, poderemos ter. Até porque, na semana passada, tivemos um encontro organizado pelo Instituto Nacional de Estatística para se fazer uma pequena mudança no questionário que é aplicado aos turistas, para saber o nível de satisfação e procurar obter informações sobre a diversidade na procura e na oferta, mas saber também qual é a quantidade de dinheiro que o turista está a deixar aqui no destino”, diz Ana Carvalho.
Eugénio Inocêncio também diz que até ao momento não há números que mostrem qual o peso que este tipo de turismo tem na economia nacional.
Mas, certamente, “está muito abaixo do peso que tem potencial para ter”, declara o Presidente da Associação de Turismo de Santiago.
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1139 de 27 de Setembro de 2023.