O Produto Interno Bruto (PIB) cresceu 6,9% em 2019 – chegando quase aos 222 milhões de contos (221.829 milhões de escudos) – uma taxa superior em 3,2 pontos percentuais à verificada no ano de 2018 – tinha sido de 3,7%. Nos dois anos anteriores, o PIB foi de 4,6% em 2017 e de 4,3% em 2016, segundo os dados do Instituto Nacional de Estatísticas.
Há quatro anos, a análise do PIB feita na óptica da procura mostrava que as despesas do consumo final das famílias e da administração pública tiveram variações em volume de 4,1% e 16,3%, respectivamente.
Já o Investimento registou uma variação negativa de 3,7%, em volume, em 2019 (+4,0% no ano anterior). As exportações registaram um aumento de 9,2% em 2019 e as importações 3,3%.
No ano anterior à pandemia, e segundo a análise do PIB na óptica da produção, as actividades que mais contribuíram para a variação total do PIB foram a construção (+1,0%), comércio (+1,0%), alojamento e restauração (+0,9%), actividades imobiliárias (+0,8%) e administração pública (+1,6%).
“Em termos globais, o sector primário teve uma queda de 0,4%, e os sectores secundário e terciário registaram aumentos de 6,2% e 8,3%, respectivamente, em relação ao ano de 2018”, lê-se nas Contas Nacionais do INE.
Segundo o instituto, a queda no sector primário deveu-se, principalmente, à redução do VAB no ramo da agricultura (-2,0%) [Valor Acrescentado Bruto (VAB) – é o valor que cada sector da economia adiciona ao valor final de tudo que foi produzido – o PIB é a soma dos VABs sectoriais e dos impostos], enquanto o desempenho positivo do sector secundário foi motivado, essencialmente, pelas actividades das outras indústrias transformadoras (+7,8%) e da construção (+13,0%).
Já o aumento no sector terciário explica-se pelo desempenho positivo nas actividades de comércio (+9,8%), alojamento e restauração (+12,8%), actividades financeiras e de seguros (+7,0%), actividades imobiliárias (+10,0%) e da administração pública (+15,7%).
Os impostos líquidos de subsídios sobre os produtos, em termos reais, apresentaram uma variação de 3,3% em 2019, contribuindo em 0,4% para a variação total do PIB.
Tudo muda no final do primeiro trimestre de 2020
A 20 de Março, o primeiro caso de covid-19 foi identificado no país. No dia seguinte, mais 2 casos foram confirmados. A primeira morte foi anunciada a 24 de Março. Como medida de contingência, foram suspensos todos os voos provenientes da Europa, Estados Unidos, Brasil, Senegal e Nigéria. A interdição também se aplicava aos navios de cruzeiro, veleiros e desembarque de passageiros ou tripulação de navios de carga, pesca e similares.
A 26 de Março, o Governo decreta Situação de Risco de Calamidade em Cabo Verde, como reforço das medidas de segurança. Foi também anunciado que a partir do dia seguinte, seriam encerrados todos os serviços e empresas públicas, devendo optar-se pelo teletrabalho.
A 28 de março, pela primeira vez, o estado de emergência foi declarado em Cabo Verde, implementam-se uma série de medidas com o objectivo de reduzir do contacto social. Encerram a maior parte das actividades económicas.
As consequências
Cabo Verde foi um dos 15 países do mundo mais afectados pela pandemia. Entre as economias emergentes e as economias em desenvolvimento, o arquipélago aparecia assim entre as nações que mais perderam economicamente por causa da covid, com o PIB cabo-verdiano a ter uma queda de -14,8% em 2020. Na África subsaariana, só as Maurícias tiveram um resultado pior, com uma descida de -14,9% no produto interno bruto.
A pandemia provocou a pior recessão em 30 anos nas nações menos desenvolvidas do planeta e levou à pobreza extrema mais de 32 milhões de pessoas. Nos países em desenvolvimento, já mostrou o FMI, é provável que as cicatrizes da crise prejudiquem as perspectivas de desenvolvimento, agravem a desigualdade e ponham em risco os avanços de uma década na redução da pobreza.
Em Cabo Verde, a declaração do estado de emergência e a imposição de restrições às deslocações paralisaram o sector do turismo, com impacto nas actividades ligadas, e repercussões negativas na economia do país. As medidas de mitigação adicionais, tomadas para evitar a propagação interna do vírus, tais como a paragem de sectores não essenciais, conduziram a uma contracção e a uma deterioração das contas públicas e externas, bem como a um agravamento da dívida pública.
Quatro anos depois
O futuro continuará a não ser fácil: a economia vai desenvolver-se menos do que o esperado, a inflação e a incerteza estão para durar, as dívidas públicas serão um problema. O último Outlook do FMI, no passado mês de Abril, previa que o crescimento caia de 3,4% em 2022 para 2,8% em 2023, antes de se estabelecer em 3,0% em 2024. Espera-se também que as economias avançadas enfrentem um abrandamento acentuado do crescimento – de 2,7% em 2022 para 1,3% em 2023. Num cenário alternativo plausível, com mais stress no sector financeiro, o crescimento global poderá cair para cerca de 2,5% em 2023, com o crescimento das economias avançadas abaixo de 1%.
O próprio Orçamento de Estado para este ano tem quatro pilares e cinco prioridades para responder a seis anos de crise e continua as medidas de recuperação económica, prioriza o desenvolvimento social e o rendimento das famílias, promove a confiança e a resiliência da economia e dos cabo-verdianos, incentiva as reformas e a inovação, promove o crescimento sustentável e inclusivo e prossegue a estabilização gradual das finanças públicas.
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1121 de 24 de Maio de 2023.