Conforme o relatório do estado da economia, o “crescimento excepcional” do ano passado foi motivado pelas recuperações dos sectores ligados ao turismo, nomeadamente o alojamento e restauração (264,4%), transportes e armazenagem (45,8%), comércio e reparação (34,2%), bem como dos impostos líquidos de subsídios arrecadados (29,4%).
“No entanto, não obstante a envolvência externa desafiante, a actividade económica nacional registou um desempenho histórico, superando os níveis pré-pandémicos”, constatou o banco central.
Segundo o BCV, o desempenho foi impulsionado, em grande medida, pelos “impactos positivos” de arrastamento do processo de recuperação da crise pandémica com o fim das restrições à mobilidade e a retoma mais rápida do que o esperado do sector do turismo.
Também contribuíram as medidas de políticas adoptadas em Março de 2022 com o intuito de compensar os efeitos da alta dos preços dos combustíveis e dos bens de primeira necessidade.
No ano passado, o BCV constatou ainda uma “evolução positiva” do consumo privado, que cresceu 28,3%, apesar do aumento da taxa de inflação média no país, que atingiu o nível mais alto dos últimos 20 anos (7,9%).
“Do lado externo, destaca-se o mercado de trabalho robusto nos principais parceiros económicos do país e as medidas orçamentais adoptadas também para mitigar os efeitos da alta inflação”, prosseguiu o banco central.
“Do lado interno, destaca-se pendor da política monetária do banco central marcadamente acomodatícia, que contribuiu igualmente, para este desempenho da economia nacional”, completou.
Quanto ao défice da balança corrente, o BCV concluiu que registou uma melhoria de cerca de 143 milhões de euros, passando a representar 3% do PIB (11,8 por cento do PIB em 2021).
Para isso, contribuíram os aumentos registados nas exportações de serviços de viagens de turismo (226,2%) e de transportes aéreos (111,8%) e nas reexportações de combustíveis e víveres nos portos e aeroportos nacionais (118,4%), remessas de emigrantes (11,6%) e nas outras transferências correntes privadas (6,7%).
Em 2022, os influxos líquidos de financiamento na economia reduziram-se em 9.243,5 milhões de escudos (cerca de 84 milhões de euros), reflexo principalmente das reduções registadas nos desembolsos líquidos, tanto da dívida pública como da dívida privada.
Segundo a mesma fonte, no ano passado registou-se igualmente o aumento nos ativos externos líquidos dos bancos, em influxos que foram mais do que suficientes para cobrir as necessidades de financiamento da economia.
“O país acumulou cerca de 24 milhões de euros em ativos de reserva no final do ano. Em consequência, o stock das reservas internacionais líquidas do país aumentou, em 2022, para os 625,7 milhões de euros, permitindo garantir seis meses das importações de bens e serviços”, lê-se no relatório.
Em 2022, o BCV referiu que a posição (deficitária) de investimento internacional líquida deteriorou-se em 93,6 milhões de euros, passando a representar 141,1% do PIB (171,5% do PIB em 2021).
Dívida pública reduz-se para 128,3% do PIB em 2022
Entretanto, a dívida pública baixou para 128,3% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2022, contra os 151,2% em 2021.
Conforme o relatório do estado da economia do Banco de Cabo Verde (BCV), a dívida pública incluiu os Títulos de Rendimento de Mobilização de Capital (TRMC) e os passivos contingentes (que engloba a dívida das empresas públicas e das autarquias locais), passou para 145,3% do PIB, contra os 170,4% em 2021.
“Análises tecnicamente robustas mostram que, não obstante uma melhoria na produtividade total dos factores face aos dois últimos anos, o potencial de crescimento da economia está ainda condicionado por níveis baixos da produtividade total dos factores”, alertou o BCV.
No ano em análise, o banco central considerou “extremamente importante” a “determinação” das autoridades de manter o foco na sustentabilidade fiscal e da dívida e na consolidação orçamental no médio prazo que reduza gradualmente o nível da dívida.
“Com isso, será possível fortalecer as finanças públicas e aumentar o espaço fiscal para promover os investimentos em sectores catalisadores e aumentar, assim, o potencial de crescimento, promover a inclusão social e construir resiliência a choques exógenos”, constatou.
No ano passado, o BCV concluiu ainda que o défice público reduziu-se, passando a representar 4% do PIB em 2022, o que se compara com 7,4% do PIB em 2021, “num contexto de aumento das receitas fiscais e queda das despesas com investimentos públicos”.
“O défice primário também reduziu para 1,8% do PIB em 2022 (o que se compara com 5,2% do PIB em 2021), afetado positivamente pelo ciclo económico, mas negativamente pelas medidas temporárias adoptadas pelo Governo, pelo que o défice primário estrutural, ou seja, excluindo o impacto do ciclo económico e das medidas temporárias, fixou-se nos 0,9% do PIB”, prosseguiu o regulador cabo-verdiano.
Por outro lado, o BCV considerou que constitui uma “fonte de vulnerabilidade externa” para o país o aumento da posição dos passivos externos de outros sectores e do Governo, que se mantém elevada.
“No entanto, destaca-se, em termos gerais, uma melhoria nos indicadores de vulnerabilidade externa, em 2022, determinado pela melhoria das necessidades de financiamento da economia, bem como pela redução dos riscos de iliquidez do Estado com o forte dinamismo da actividade económica nacional e consequente aumento das exportações e das receitas fiscais”, segundo o relatório.
Por outro lado, o banco central registou que os resultados da avaliação do sector externo indiciam que a posição externa de Cabo Verde, em 2022, foi substancialmente mais forte do que o nível implícito pelos fundamentos e configurações de políticas desejáveis.
“O impulso orçamental foi negativo em 0,3 pontos percentuais, em 2022, indiciando uma orientação da política orçamental próxima da neutralidade. Beneficiando do crescimento económico, a dívida pública reduziu-se, mas encontra-se ainda em patamares elevados”, segundo o documento.