“Recuperação de choques é normalmente muito rápida”

PorAndré Amaral,7 jan 2023 9:15

Antigo Governador do Banco de Cabo Verde analisa crescimento do PIB a rondar os 15%.

Carlos Burgo, antigo governador do Banco de Cabo Verde, acredita que a economia nacional poderá ter crescido 15% “traduzindo uma recuperação rápida da acentuada queda (14.8%) do Produto Interno Bruto (PIB) provocada pela crise pandémica”.

“Somando-se à recuperação que já se registara em 2021 (7%), vem colocar o PIB no nível de 2019, antes da eclosão da pandemia”, acrescenta num texto publicado no Facebook.

Segundo Carlos Burgo, a recuperação da economia nacional deverá abranger “a totalidade dos sectores da economia, devendo mesmo o Alojamento e Alimentação e os Transportes aproximarem-se dos níveis mais altos anteriormente registados”.

“É sabido que a recuperação de choques provocados por fenómenos naturais, ao contrário do que acontece no caso de crises financeiras, por exemplo, é normalmente muito rápida”, defende o antigo governador do Banco de Cabo Verde. “No caso corrente, o levantamento das restrições impostas para controlar a covid-19 possibilitou a retoma da procura turística que vem induzindo o crescimento da economia cabo-verdiana, tendo a recuperação sido favorecida pelo facto de se ter evitado a erosão da capacidade produtiva da economia”.

Uma recuperação que, defende Burgo, é muito importante “para as famílias, as empresas e o Estado. Este último regista a recuperação da cobrança de impostos e uma significativa redução do défice orçamental”.

No entanto, destaca, é importante “relativizar o que vem acontecendo. Desde logo, o país está mais pobre, situando-se a riqueza abaixo da anterior linha de tendência do crescimento, o que vem sendo agravado pela degradação dos termos de troca na decorrência do aumento dos preços dos produtos energéticos e alimentares. Do mesmo modo, não se pode ignorar o carácter excepcional dessa taxa de crescimento que se deve àquilo que se chama de “efeito de base”: a taxa de crescimento só é assim tão elevada por ser muito baixa a base de cálculo”, comenta Burgo no seu post.

“Na realidade”, continua o antigo governador do Banco de Cavo Verde, “a recuperação ocorreu essencialmente no quarto trimestre de 2021, verificando-se desde então uma dinâmica de crescimento muito mais modesta (cerca de 5%), embora se tenha acelerado no último trimestre que regista uma taxa anualizada de crescimento de cerca de 9% (não considerando a sazonalidade da actividade económica que é pouco significativa no nosso caso)”.

“Considerando o contexto internacional, essa dinâmica poderá vir a abrandar significativamente em 2023. De notar, ainda, que parte do crescimento se deveu à expansão da Administração Pública, cujo peso na produção de riqueza aumentou em 2 pontos percentuais nos últimos dois anos, aproximando-se dos 20%. Naturalmente, essa evolução, que já antes da crise era uma característica do modelo de crescimento do actual governo, não é sustentável a prazo, sobretudo se se considerar o alto nível da fiscalidade e de endividamento do Estado”, conclui.

Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1101 de 4 de Janeiro de 2023. 

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Autoria:André Amaral,7 jan 2023 9:15

Editado porDulcina Mendes  em  29 set 2023 23:29

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