O relatório intitulado “Desbloquear o Potencial Económico das Mulheres”, traça um retrato positivo da recuperação económica do país, destacando a melhoria da gestão macroeconómica, a redução do rácio da dívida e a diminuição da pobreza para 14,4% (com base na linha de pobreza de 3,65 dólares por dia, em paridade do poder de compra de 2017).
A inflação caiu para 1%, o nível mais baixo dos últimos anos, e a balança corrente registou um excedente pela primeira vez em quatro anos.
Contudo, o Banco Mundial sublinha que transformar esta retoma numa prosperidade duradoura e inclusiva exige reformas profundas.
“A recuperação de Cabo Verde é um testemunho da resiliência do seu povo e das suas instituições. Mas, para transformar esta retoma numa prosperidade duradoura e inclusiva, são necessárias reformas ousadas – em particular, para melhorar a governação das empresas públicas, apoiar a participação económica das mulheres e diversificar a economia”, afirmou Indira Campos, Representante Residente do Banco Mundial no país, citada no comunicado.
O relatório destaca que os riscos globais – como a volatilidade nos preços das matérias-primas e os impactos das alterações climáticas – poderão afectar o ritmo do crescimento e o avanço das reformas.
A publicação dedica ainda uma secção especial ao potencial económico das mulheres cabo-verdianas, sublinhando que a eliminação das desigualdades de género no mercado de trabalho poderia aumentar o PIB nacional em até 12,2% a longo prazo.
Para isso, o Banco Mundial recomenda a ampliação do acesso a serviços de cuidados infantis e a políticas de trabalho flexível; o reforço das competências femininas nas áreas da ciência, tecnologia, engenharia e matemática (STEM), bem como no ensino técnico e profissional e o combate à discriminação laboral, acompanhado da transformação de normas sociais.
“Ao alinhar os esforços de reforma com políticas inclusivas, Cabo Verde tem uma oportunidade única para reforçar a resiliência, capacitar mais cidadãos – especialmente mulheres – e construir um futuro mais sustentável e mais justo”, concluiu Anna Carlotta Massingue, Economista Principal para Cabo Verde.
Vulnerabilidade a riscos externos e políticos
Segundo o relatório, a economia cabo-verdiana deverá manter-se numa trajectória de crescimento sólido nos próximos anos, com projecções a apontarem para uma taxa de crescimento de 5,9% em 2025, impulsionada pela entrada de operadores aéreos de baixo custo no mercado nacional.
A médio prazo, estima-se que o crescimento estabilize próximo dos 5%, apoiado por uma maior eficiência do sector público e por iniciativas que visam atrair investimento privado.
Paralelamente, a inflação deverá manter-se controlada, beneficiando da tendência de queda dos preços do petróleo, com valores a alinharem-se aos da zona euro (cerca de 2%) no médio prazo.
Este contexto económico, combinado com o bom desempenho dos sectores dos serviços e da indústria, deverá permitir uma redução gradual da pobreza, com previsões a indicarem que a taxa desça para 13,3% em 2025 e para 11,2% até 2027.
Isto poderá significar que cerca de 7.000 cabo-verdianos saiam da condição de pobreza em comparação com 2024.
Apesar do cenário optimista, o país enfrenta desafios como a dependência do turismo, a fraca diversificação das exportações e a elevada dependência de importações tornam a economia vulnerável a choques externos, conforme o documento.
Uma eventual desaceleração económica global, aliada à incerteza no comércio internacional e à redução do envolvimento de parceiros estratégicos, pode impactar negativamente o turismo, o investimento estrangeiro e as remessas.
Internamente, a aproximação das eleições de 2026 poderá exercer pressões políticas que comprometam o ritmo das reformas e dos esforços de consolidação orçamental.
A implementação acelerada de investimentos públicos poderá agravar o défice da balança corrente, que se prevê atingir 2,3% do PIB em 2026.
Quanto às reservas internacionais, o Banco Mundial afirma que deverão manter-se estáveis, em cerca de 5,5 meses de importações, garantindo a sustentabilidade do regime cambial e alguma margem para enfrentar choques externos.
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1230 de 25 de Junho de 2025.