Outlook de Outubro do Fundo Monetário Internacional é mais optimista para Cabo Verde, quando comparado com Abril, mas mesmo assim ainda fica abaixo da revisão publicada pelo Africa’s Pulse do Banco Mundial que desceu as perspetivas de crescimento para 5,4% também este mês (5,9% em Abril).
Para 2026, o FMI prevê um crescimento de 4,8% para Cabo Verde (era 4,9% em Abril) e para 2030 aponta para os 4,5% (mesmo valor avançado em Abril).
"Na África subsaariana, o crescimento deverá permanecer moderado, mantendo-se inalterado em 2025 em relação aos 4,1% registados em 2024, antes de acelerar para 4,4% em 2026", lê-se no documento, que apenas toca de forma marginal nas economias da África subsaariana, já que essa análise está reservada para as perspetivas económicas regionais que serão divulgadas esta semana.
Em relação aos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP), o panorama é misto, além de Cabo Verde também a Guiné Equatorial melhorou as previsões. Angola e São Tomé e Príncipe, pioraram, Guiné-Bissau e Moçambique mantiveram a previsão de crescimento do PIB.
Economia global
Como refere o documento, depois de um arranque resiliente, a economia global mostra sinais de abrandamento moderado, como, aliás, previsto pelo FMI. Os dados divulgados no primeiro semestre de 2025 mostraram uma actividade robusta. A inflação nas economias asiáticas foi contida e manteve-se estável nos Estados Unidos. Esta aparente resiliência, no entanto, parece ser amplamente atribuível a factores temporários — como a antecipação de investimentos e estratégias de gestão de stocks — e não à força dos fundamentos.
À medida que estes factores desaparecem, surgem dados mais fracos. A antecipação está a dissipar-se e os mercados de trabalho abrandam. O repasse das tarifas para os preços ao consumidor nos EUA, anteriormente moderado, parece cada vez mais provável. As economias avançadas, tradicionalmente dependentes da imigração, estão a registar declínios acentuados nos fluxos de mão-de-obra, com implicações para o produto potencial.
Projecta-se que o crescimento global abrande de 3,3% em 2024 para 3,2% em 2025 e para 3,1% em 2026. Isto representa uma melhoria em relação à Actualização do Relatório Económico Mundial de Julho — mas, cumulativamente, 0,2% abaixo das previsões feitas antes das alterações de política no Relatório Económico Mundial de Outubro de 2024, com a desaceleração a reflectir os ventos contrários da incerteza e do proteccionismo, embora o choque tarifário seja inferior ao originalmente anunciado.
Em termos de final de ano, prevê-se que o crescimento global abrande de 3,6% em 2024 para 2,6% em 2025. As economias avançadas deverão crescer cerca de 1,5% em 2025-26, com os Estados Unidos a abrandar para 2%. Projecta-se que as economias dos mercados emergentes e em desenvolvimento fiquem um pouco acima dos 4%. A inflação global deverá descer para 4,2% em 2025 e para 3,7% em 2026, com variações significativas: inflação acima do objectivo nos Estados Unidos — com riscos de subida — e inflação contida em grande parte do resto do mundo.
O volume do comércio mundial deverá crescer a uma taxa média de 2,9% em 2025-26 — impulsionado pela antecipação da despesa em 2025, mas ainda muito mais lento do que a taxa de crescimento de 3,5% em 2024 — com a persistente fragmentação do comércio a limitar os ganhos.
Os riscos e a incerteza
Os riscos continuam inclinados para o lado negativo, tal como nos Outlooks anteriores. A incerteza política prolongada pode prejudicar o consumo e o investimento. Uma nova escalada de medidas proteccionistas, incluindo barreiras não tarifárias, poderá colocar em risco o investimento, perturbar as cadeias de abastecimento e sufocar o crescimento da produtividade. Choques maiores do que o esperado na oferta de mão-de-obra, principalmente devido a políticas restritivas de imigração, podem reduzir o crescimento, especialmente em economias que enfrentam o envelhecimento populacional e a escassez de qualificações.
As vulnerabilidades fiscais e as fragilidades do mercado financeiro podem interagir com o aumento dos custos de empréstimos. Uma alteração abrupta dos preços das ações tecnológicas pode ser desencadeada por resultados decepcionantes nos lucros e ganhos de produtividade relacionados com a inteligência artificial (IA), marcando o fim do boom dos investimentos em IA e da exuberância associada dos mercados financeiros, com a possibilidade de implicações mais amplas para a estabilidade macrofinanceira. A pressão sobre a independência de instituições económicas importantes, como os bancos centrais, pode corroer a credibilidade política e minar a tomada de decisões económicas, como resultado da redução da credibilidade dos dados.
Os picos nos preços das matérias-primas — resultantes de choques climáticos ou tensões geopolíticas — representam riscos adicionais, especialmente para os países de baixo rendimento importadores de matérias-primas. Um avanço nas negociações comerciais poderá reduzir as tarifas e a incerteza. Um novo impulso às reformas poderá impulsionar o crescimento a médio prazo. Um crescimento mais rápido da produtividade devido à IA poderá trazer ganhos para toda a economia.
Para o FMI, a tarefa prioritária é restaurar a confiança através de acções políticas fiáveis, previsíveis e sustentáveis. Os decisores políticos devem estabelecer indicadores de política comercial claros, transparentes e baseados em regras para reduzir a incerteza, apoiar o investimento e colher os benefícios de produtividade e crescimento que o aumento do comércio traz. As regras comerciais devem ser modernizadas para a era digital e oferecer oportunidades para uma cooperação multilateral mais forte. Combinar diplomacia empresarial com o ajustamento macroeconómico é crucial, afirma o FMI, para corrigir desequilíbrios externos persistentes, abordando as suas causas implícitas e garantindo ganhos duradouros. Reconstruir as reservas fiscais e salvaguardar a sustentabilidade da dívida continuam a ser uma prioridade.
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1246 de 15 de Outubro de 2025.