Após consultas diplomáticas realizadas após a morte de Haniyeh, o ministro dos Negócios Estrangeiros iraniano em exercício, Ali Bagheri Kani, recebeu na noite de terça-feira telefonemas dos homólogos do Reino Unido, Suíça, Malta e Áustria, a quem transmitiu a reprovação de Teerão perante um "comportamento de fechar os olhos e, por vezes, apoiar os crimes do regime sionista [Israel]".
"Infelizmente, alguns países europeus permaneceram em silêncio face às acções terroristas do regime sionista, em violação do direito internacional", disse Bagheri Kani na sua conversa com o ministro dos Negócios Estrangeiros austríaco, Alexander Schalenberg, segundo indicaram as agências internacionais.
O chefe da diplomacia iraniana denunciou também que a "inacção do Conselho de Segurança da ONU em relação aos crimes israelitas" fez com que Telavive "continuasse a guerra e o derramamento de sangue e procurasse expandir a instabilidade e a insegurança na região".
Bagheri Kani fez referência às mortes de Haniyeh, num ataque com um projéctil de curto alcance em Teerão que foi atribuído a Israel, e do líder militar do grupo xiita libanês Hezbollah, Fuad Shukr, num ataque israelita em Beirute, a 30 de Julho, incursões que aumentaram a tensão na região, fortemente abalada pelo conflito entre as forças israelitas e o Hamas na Faixa de Gaza.
As declarações de Ali Bagheri Kani surgem no dia em que decorre uma reunião extraordinária dos chefes da diplomacia dos 57 Estados-membros da Organização de Cooperação Islâmica (OCI) na cidade saudita de Jeddah.
O Irão, que prometeu vingança contra Israel após a confirmação da morte de Haniyeh, solicitou uma reunião urgente do Conselho de Segurança das Nações Unidas, esperando que o ataque que atribui a Telavive fosse condenado.
Os Estados Unidos, o Reino Unido e a França denunciaram, no entanto, o "apoio iraniano aos actores desestabilizadores da região", aludindo aos movimentos islâmicos Hamas, Hezbollah e aos Huthis do Iémen, que constituem o chamado 'Eixo da Resistência', uma aliança informal anti-Israel, liderada por Teerão.
O Irão condenou esta atitude dos países ocidentais e prometeu que dará uma resposta dura a Israel.
A República Islâmica tem criticado com frequência a inacção de organizações internacionais face ao que considera um "genocídio" na Faixa de Gaza, bem como o apoio dos Estados Unidos a Israel.
Teerão chegou a aplaudir a "Operação Tempestade al-Aqsa", perpetrada pelo Hamas e pela Jihad Islâmica Palestina contra o território israelita a 07 de Outubro de 2023, que causou cerca de 1.200 mortes e permitiu o sequestro de 250 pessoas, e que desencadeou o conflito em Gaza.
Em resposta, Israel iniciou uma campanha de bombardeamentos contra a Faixa de Gaza que deixou mais de 39.600 mortos até à data e que está a ter repercussões a nível regional, com o envolvimento do Hezbollah e dos Huthis.
Após as mortes dos líderes do Hezbollah e do Hamas, aumentaram os receios de uma escalada da guerra a nível regional.
O Irão, que denunciou a violação da sua soberania e integridade territorial por parte de Israel, no ataque contra Haniyeh, ameaçou retaliar firmemente contra Israel, especulando-se que Teerão e o "Eixo da Resistência" possam lançar um ataque conjunto contra o Estado judeu.
Israel afirma estar preparado para se defender, enquanto os Estados Unidos reforçaram a presença militar na região para ajudar o seu principal aliado.
O Irão já lançou um ataque directo e sem precedentes contra o território israelita em meados de Abril, em retaliação ao atentado bombista ao consulado iraniano em Damasco, na Síria, a 01 desse mês, que provocou a morte de sete membros da Guarda Revolucionária Iraniana, incluindo dois generais.
A República Islâmica e Israel são reconhecidos inimigos de longa data e competem pela hegemonia regional, mantendo há décadas uma guerra não declarada com ataques cibernéticos, assassinatos e actos de sabotagem.