O planeta em mutação

PorJoão Chantre,15 mai 2021 8:28

Um ano depois de ter publicado os meus primeiros artigos sobre o tema da Covid-19 e a recuperação económica no conceituado jornal Expresso das Ilhas, o tópico continua a fazer notícia em todo o mundo e os governos continuam desesperadamente à procura de soluções.

No plano científico as vacinas trouxeram alguma esperança para o mundo, mas a sua produção e distribuição lançam alguns desafios e preocupações um pouco por todo o lado. No plano sanitário, os profissionais de saúde continuam sobrecarregados e exaustos no maior combate sanitário do século XXI. Nenhum Estado estava preparado para um ataque desta dimensão. No plano social, é o que se sabe – as incertezas continuam, o cansaço das pessoas é evidente, milhões de crianças continuam sem perceber por que se lhes foram retiradas o seu direito fundamental de ir à escola e de poder brincar com os seus amiguinhos. Elas estão exaustas e ansiosas à espera das consequências futuras! Que mal é esse que lhes retirou o direito à liberdade! No plano económico, o terramoto vai fazendo estragos e arrasando o planeta enquanto o tempo passa e os números vão sendo conhecidos um pouco por todo o lado. O balanço tem sido desastroso! O terremoto económico é violento, é global e quando assim é, é difícil proteger todas as frentes. Vai levar muito tempo para que as economias se recuperem ao nível do seu normal sobretudo nas camadas sociais mais vulneráveis. Mas é preciso ter a consciência: o mundo está em mutação biológica, social e económica.

Somos ilhas & fazemos parte desse enredo

O coronavírus aterrou nas ilhas em Março de 2020 e trouxe com ela a maior crise sanitária, económica e social vivida no nosso país pós-independência. Uma crise mundial que requer medidas locais musculadas e criativas, porque tudo neste momento depende das máscaras, do distanciamento social, do comportamento e da disciplina das nossas gentes – a melhor vacina antes da chegada de qualquer vacina doada/comprada e em doses suficientes. O nosso futuro depende da nossa segurança sanitária, sobretudo de uma das vacinas que não depende de nós e neste momento a nossa esperança e a nossa atitude perante o coronavírus é um teste à nossa resiliência como Nação. De repente o Atlântico, que é a nossa maior riqueza, confinou e isolou-nos do mundo. Até quando, eis a grande incógnita! Tudo se evaporou. Vimos o nosso motor da economia, o Turismo (25% do PIB), bloqueado completamente sem sequer podermos reagir. Um sector estratégico, uma aposta de décadas, em crescimento exponencial, de repente desabou quando estava na velocidade de cruzeiro, e quando aproximávamo-nos da meta de um milhão de turistas. Com o turismo, caíram os transportes aéreo e marítimo, a cultura, rica em música e criatividade, a hotelaria e arrastou muita gente para o desemprego, sobretudo os jovens e pondo em causa a sobrevivência de muitas famílias, arrastando-lhes para a margem da pobreza.

O planeta foi atacado

Não restam dúvidas que o planeta foi atacado. Quase um ano depois do ataque da Covid-19 ao mundo, continuamos mergulhados num mar de incertezas e com algumas certezas à vista, nomeadamente o despoletar das vacinas um pouco por todo o lado, com excepção do continente africano que parece ter relegado a ciência e o desenvolvimento para um segundo plano. Uma África com enormes potencialidades, cujo futuro já se conhece há muito tempo e que depende apenas, e somente, da boa vontade e do empenho dos africanos. Contudo, é legítimo e de se louvar todo o optimismo renascido com o aparecimento das vacinas que trouxe esperança na tentativa de pôr termo a este ataque mundial que assola o nosso planeta. Um ataque originado por um vírus que atacou violentamente o planeta, causando mais de 150 milhões de infectados e 3,3 milhões de mortos até agora, desafiando todos os sistemas de saúde do planeta, destruindo famílias, empresas, empregos, confinando o mundo em casa e originando um verdadeiro tsunami económico mundial sem precedentes.

Por onde andou o arsenal bélico!

Durante décadas vários países gastaram trilhões de USD num arsenal de guerra, cara, luxuosa e poderosíssima, colocado em stand-by para destruir em segundos os mais longínquos e remotos cantos do nosso planeta. Paradoxalmente, financiado com o dinheiro dos “tax payers” (dinheiro dos contribuintes), enquanto em várias paragens muita gente morre de fome,

necessita de cuidados médicos e de um sistema de educação robusto que funcione como um anestésico para o progresso das nações e da humanidade. Enquanto isto, a única certeza que temos neste momento é que um vírus humilhou o homem, parou as aeronaves de todo o mundo causando um prejuízo de aproximadamente 160 bilhões de USD na indústria, fechou parcialmente os aeroportos do mundo e tem destronado políticos menos atentos. De outro lado, limpou muita das forminhas poluidoras do céu, oxigenou o planeta, as florestas estão respirando melhor, e, por conseguinte, o nosso planeta está cada dia mais limpo e mais verde. Os Estados Unidos têm sido um dos países que têm sofrido as maiores baixas com os ataques

da Covid-19 (depois da Índia e do Brasil), que pôs em causa a estratégia de Trump e quase dividiu o país. Portanto, depois do primeiro tornado financeiro de 1,9 trilhões de USD proposto por Biden e aprovado pelo Senado, a América aguarda a todo o momento mais dois tornados financeiros: 2,3 trilhões de USD para novas infraestruturas e 1,8 trilhões de USD na área social como arma de salvação para o país. Ainda sem consenso técnico, alguns economistas acreditam que o tornado de dinheiro será a única via de salvar os Estados Unidos e criar o pleno emprego, enquanto outros acreditam que se esses valores forem despejados na maior potência económica do mundo, a América poderá ser ferida de novo com uma das patologias mais perigosas de combater numa economia: a inflação.

Em suma, estamos todos em terreno minado. Só daqui a 5 anos saberemos quem foram os vencedores e quem foram os perdedores. Quanto aos vencedores a lista de espera é muito grande enquanto a África acaba de se assumir como o principal derrotado desta guerra que fará história. É sabido que as vacinas trouxeram novas esperanças e tornaram-se num dos melhores negócios do século XXI. Acompanha as vacinas a inovação tecnológica que

precisa ser regulamentada, e aguarda-se por um homem renovado, humanizado, de bom senso, com mente verde e sustentável por forma a salvar o planeta que está em perigo. Este é agora o nosso maior desafio. A saúde e a educação ganharam legitimidade e velocidade como sectores estratégicos. Quem conseguir um equilíbrio entre uma sustentabilidade tão desejada e minimizar o fosso entre os mais privilegiados e os mais vulneráveis será coroado no futuro. Nas ilhas devemos preparar-nos para o pior e trabalhar para o nosso melhor com uma alta probabilidade de esperança e fé como sempre. A história repete-se! It ́s time... 

Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1015 de 12 de Maio de 2021.

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Autoria:João Chantre,15 mai 2021 8:28

Editado porAntónio Monteiro  em  23 fev 2022 23:20

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