Em Tarrafal de Monte Trigo, no interior do Concelho de Porto Novo, Santo Antão, a situação complica-se a cada dia, com famílias a passarem por dificuldades. Num universo de mais de 90 pescadores, apenas cerca 20 estão empregados.
Segundo o presidente da Associação dos Pescadores, Isaires Pires, em causa está a falta de uma embarcação.
“Temos cerca de três anos a pedir financiamento para uma embarcação de pesca para o Tarrafal, mas ainda nada. O Governo ainda não nos deu nada, então os pescadores estão de braços cruzados. É uma pena porque às vezes vemos pescadores no Tarrafal a passar dificuldades devido à falta de um dia de trabalho. Alguns, muitas vezes, ficam sem levar a panela ao lume”, alerta.
Isaíres Pires acredita que a aquisição de uma embarcação semi-industrial, por parte da associação, ajudaria a resolver “muitos problemas da comunidade”, onde existe um dos maiores bancos de pesca do país.
As cerca de duas dezenas de pescadores empregados trabalham em duas embarrações semi-industriais, com 22 e 11 metros de comprimento, respectivamente.
A deficiente condição de conservação do pescado é outro problema que condiciona o desenvolvimento da actividade. O líder associativo considera uma vergonha o facto de o Governo ter instalado um máquina que não consegue produzir 400 quilos de gelo por dia.
“A quantidade de gelo produzido diariamente não dá para nada, porque também a comunidade de Monte Trigo precisa de gelo. Às vezes, quando há muito peixe, as embarcações de boca aberta ficam em terra devido à falta de gelo para conservarem o pescado. É um problema muito grave, é uma vergonha mesmo o Governo apanhar uma máquina de gelo, que nem consegue produzir 400 quilos de gelo diário, e instala-la no Tarrafal”, diz.
Isaíres Pires acusa os sucessivos Governos de abandono da comunidade pesqueira e de se lembrarem da localidade apenas em períodos eleitorais.
Pescadores no Maio pedem valorização do sector
Na ilha do Maio, a situação não é muito diferente. Segundo o presidente da Associação dos Pescadores, Vitorino dos Reis, ainda persiste o problema de falta de gelo.
“Neste momento já está instalada uma nova máquina de gelo mas ainda a situação está estagnada, porque o equipamento foi entregue á Câmara Municipal há cerca de uma semana, mas continua parada. Tudo isso complica a vida dos pescadores e peixeiras do Maio”, lamenta.
Os pescadores reclamam da falta de materiais de reparação das embarcações e denunciam a apanha de iscas dentro do porto, por embarcações de outras ilhas.
Vitorino dos Reis pede uma maior valorização do sector das pescas.
Os líderes associativos falavam à Rádio Morabeza no âmbito do Dia do Pescador Cabo-verdiano, assinalado hoje, sob o lema “Por uma pesca sustentável, protege o ambiente marinho”.