Tais preocupações foram manifestadas numa carta enviada ao ministro dos Negócios Estrangeiros, Luis Filipe Tavares, à Embaixadora de Cabo Verde na China, Tânia Romualdo, e à outras entidades a que o Expresso das Ilhas teve acesso.
Na carta, enviada a 3 de Fevereiro, os estudantes fazem alusão ao comunicado emitido pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros e Comunidades, no dia 29 de Janeiro de 2020, que garante que foi criada uma equipa operacional que, juntamente com a Embaixada de Cabo Verde em Pequim, visa acompanhar e assegurar “todo o apoio possível” aos estudantes.
“Quanto à equipa operacional, primeiramente, gostaríamos de saber se há já um plano prático de acção. Gostaríamos igualmente de saber como a equipa pretende contornar os constrangimentos logísticos inerentes a um acompanhamento à distância e diferença horária entre os dois países, e sobretudo face ao isolamento da cidade de Wuhan. Por último, gostaríamos de saber, particularmente, caso algum estudante for infectado, quais as medidas práticas a serem tomadas e como será o acompanhamento do mesmo”, questionam na carta.
O referido comunicado afirma que uma possível evacuação dos estudantes de Wuhan “contraria frontalmente as directivas das autoridades da República Popular da China e da OMS, visando conter a disseminação do vírus, e encerra elementos de complexidade e riscos a que o governo entende não dever expor os seus cidadãos".
Nesse sentido, os estudantes questionam se as referidas directivas “variam de país para país, ou se só se aplicam aos estudantes cabo-verdianos de Wuhan”, isto porque, escrevem, “tem-se assistido a evacuações diárias de cidadãos estrangeiros para os seus países de origem, com apoio total dos seus respectivos governos”.
A missiva observa que “nos últimos dias, o país tem recebido cidadãos chineses e estudantes cabo-verdianos provenientes da outras cidades da China (que não Wuhan), no entanto esse acolhimento é feito sem grandes medidas de contenção nem prevenção, sendo-lhes apenas aconselhado fazerem uma quarentena domiciliar voluntária, o que ainda assim constitui um risco para o país. Temos, portanto, assistido a várias declarações que contradizem aquilo que foi utilizado como justificativa à recusa da nossa evacuação”, argumentam os estudantes cabo-verdianos em Wuhan.
Da mesma forma, questionam porque é que não se aplicam as mesmas medidas aos cidadãos estrangeiros provenientes de países onde já existem casos confirmados, uma vez que não podem regressar ao país.
“A forma como se tem falado de nós os estudantes de Wuhan, parece que já estamos infectados, ou melhor, pelo facto de vivermos no epicentro da epidemia, estamos condenados a ficar”, manifestam, perguntando por quanto tempo as autoridades cabo-verdianas pretendem deixá-los no Whuan.
Posição do Governo
No dia 29 de Janeiro, o ministro dos Negócios Estrangeiros, Luís Filipe Tavares, disse em conferência de imprensa, que a ideia de uma eventual evacuação, contraria frontalmente as directrizes das autoridades da República Popular da China e da Organização Mundial de Saúde, visando conter a disseminação do vírus, e que encerra elementos de complexidade e riscos a que o Governo de Cabo Verde entende não dever expor aos seus cidadãos.
"Nós estamos em contacto com vários parceiros nossos, países amigos de Cabo Verde, que tem uma parceria especial com a União Europeia. Tenho que trabalhar com todos os países da União Europeia, na eventualidade de alguma parceria para algo em concreto. Mas neste momento a questão da evacuação não se coloca, vamos analisando", enfatizou, então, o governante.
Entretanto, os estudantes afirmam que “após quase 48 horas” do envio da carta (a 4 de Fevereiro, portanto), a embaixada respondeu dizendo que vão continuar a troca de mensagens e contactos com elementos do grupo de acompanhamento no ministério de Negócios Estrangeiros e Comunidades e elementos da equipa interministerial.
“Ambos os governantes reiteraram estar a vossa situação no centro das preocupações do governo de Cabo Verde e que estão a trabalhar na busca de uma solução”, lê-se na mensagem.
Cerca de 350 estudantes cabo-verdianos estudam actualmente em território, dos quais 13 estão neste momento em Wuhan, onde surgiu a doença.
O número de mortos pelo coronavírus na China subiu para 426, de acordo com o balanço do governo chinês divulgado nesta terça-feira (4). Há 20.471 casos confirmados no território chinês.
Agora são 24, além da China. A Bélgica divulgou que os testes em um paciente que havia passado por Wuhan deram positivo para 2019 n-CoV.