O index, lançado em Outubro de 2019, ou seja, antes do início da epidemia do novo Coronavírus, tem vindo a ganhar destaque face à actual situação de emergência de saúde pública internacional, decretada pela Organização Mundial da Saúde.
O estudo mediu vários itens por forma a aferir em que grau os países estão preparados para combater um eventual problema de saúde de escala mundial.
Ao todo foram avaliados 195 países, em áreas como a capacidade de prevenção, detecção e resposta rápida a problemas de saúde pública emergenciais. Outros pontos analisados, no sentido de aferir se os países têm ferramentas apropriadas para lidar com os surtos, são o sistema público de saúde e o nível de adesão às normas sanitárias internacionais e os riscos que incidem sobre cada população.
O resultado das análises é apresentado numa escala de 0 a 100, sendo que Cabo Verde consegue apenas 29,3 pontos, o que o coloca em 146º lugar.
No cômputo mundial, os EUA lideram o ranking, com 83,5 pontos. Em seguida vêm o Reino Unido, com 77,9, e a Holanda, com 75,6.
A média mundial é de 40,2 pontos e o relatório do GHS avisa que, actualmente, “nenhum país está totalmente preparado para epidemias ou pandemias”.
A China surge na 51.ª posição, com 48,2 pontos. No fim da tabela estão a Coreia do Norte (17,5 pontos), a Somália (16,6) e Guiné Equatorial (16,2).
Em termos continentais, África, onde ainda não foi registado nenhum caso de infecção pelo "vírus de Wuhan", apresenta os piores resultados.
Portugal ocupa a 20ª posição no ranking (60,3 pontos).
O Índice da Segurança Global em Saúde é um projecto da ONG americana Nuclear Threat Initiative em parceria com o Centro de Segurança em Saúde do Johns Hopkins Center e foi desenvolvido pela Economist Intelligence Unit.
Avaliação pormenorizada
O estudo assenta em 140 questões, organizadas em seis categorias, 34 indicadores e 85 sub- indicadores, que visam avaliar a capacidade de um país em prevenir e mitigar epidemias e pandemias.
Cada país obteve a sua classificação pela capacidade que tem no âmbito, por exemplo, da prevenção, liberação de patógenos, rapidez de resposta, suficiência e robustez o sector de saúde trata os doentes, compromisso do país em termos de financiamento e adesão a normas, entre outros.
Cabo Verde surge mal classificado em todas as categorias, excepto nas “Envolventes de Risco”, onde pontua acima da média mundial em quase todos os itens e fica na 47.º posição entre os 195 países. É no indicador “Riscos políticos e de segurança” que obtém a sua melhor classificação em todos os parâmetros analisados (85,7 pontos o que o coloca em 14º lugar). Esta categoria, onde no total obtém 67,4 pontos, é prejudicada pelo indicador “Vulnerabilidades de saúde pública”, onde não vai além dos 41,3 pontos (129ª posição).
A categoria onde Cabo Verde pior pontua é na “Detecção precoce e reporte de ameaças” onde surge em 178º lugar, no quadro geral. Os ‘Sistemas de laboratório’ são fracos e arrastam o país para a 161ª neste indicador, não existe uma Workforce em epidemiologia e não há mecanismos de partilha de dados nos “ministérios responsáveis pela vigilância de animais, humanos e animais selvagens”. Também o indicador “Vigilância e relatórios em tempo real” é mal pontuado, com apenas 18,3 pontos (média mundial é de 39,1). Assim, numa categoria em que a média mundial é de 41,9 pontos, Cabo Verde tem apenas 9,3.
O “Sistema de Saúde” é também avaliado abaixo da média. Nesta Categoria, o país pontua apenas 16,1, cerca de 10 pontos menos do que a média. Para este mau resultado contribui o facto de pontuar zero em metade dos seis indicadores analisados. Indicadores como a mobilização do pessoal e medidas médicas de reacção – ou seja, o país não possui, por exemplo, um stock apropriado de vacinas ou outros medicamentos (embora se salvaguarde que, na verdade, os investigadores não conseguiram aceder a essa informação) – ; a comunicação com os profissionais de saúde e o equipamento e práticas de infecção (que são basicamente inexistentes) traduzem o resultado nulo. A capacidade das estruturas de saúde é mal pontuada (apenas 6,3 pontos). Assim, mesmo com os indicadores “Acesso à saúde” e a “Capacidade para testar e aprovar novos contramedidas médicas” pontuando acima da média, Cabo Verde não vai além da 125ª posição nesta categoria que avalia o Sistema de Saúde.
No que diz respeito à “Conformidade com as normas internacionais”, Cabo Verde soma 33,9 pontos (a média mundial é 48,5) e fica na 164 posição a nível mundial. Falham, segundo os dados recolhidos pelos investigadores, acordos regionais na resposta a emergências e avaliações externas. Pela positiva investimento na área da saúde e epidemiológica.
Quanto à Categoria Prevenção, Cabo Verde atinge quase 100% (97,4 pontos) no âmbito da Imunização, ficando assim em 46º lugar, neste indicador. Soma zero pontos na Biosegurança, mas atinge o pior lugar no ranking no que toca à resistência Antimicrobiana, não havendo evidência de que o país tenha um mecanismo “vigilância, detecção e comunicação de patógenos prioritários”. Nesta categoria o país soma 27,9 pontos e fica na 113.ª posição.
Em relação à “Resposta Rápida a uma possível epidemia”, o país pontua 32,7 (média mundial 38,4) e fica na também na 113.ª posição. Um dos pontos mais fracos é a inexistência de plano nacional de resposta a emergências de saúde pública. Outro, é a ausência de um plano de comunicação de risco. Aliás, em termos de comunicação, há falhas apontadas em diversos indicadores. Contudo, no que toca ao acesos a infra-estruturas de comunicação (como a internet) o país obtém 75 pontos e coloca-se na 98.ª posição. Entretanto, Cabo Verde pontua também relativamente bem no que toca ao indicador “Exercício de planos de resposta”, uma vez que no ano passado identificou uma lista de lacunas e melhores práticas, assim como em “Operação de resposta a emergências”, tendo em conta que possui um Centro de Operações de Emergência, afecto à Protecção Civil. Mas é apenas no que toca às restrições de Comércio e Viagens, que o país se coloca em 1.º lugar, com 100 pontos. Isto porque não há registo de quaisquer restrições de e para Cabo Verde.
No somatório geral, Cabo Verde obtém então um total de 29,3 pontos e fica então, no 146º lugar, posicionado no campo dos países menos preparados. Tem à sua frente países como o Burkina Faso (145º) e o Lesoto (144.º), mas fica à frente, por exemplo, de Moçambique (153.º), Timor-Leste (166.º) ou São Tomé e Príncipe (192.º).