COVID-19 : Máscaras tornam-se o ‘novo normal’

Aos poucos, autoridades de saúde em todo o mundo mudam de posição e passam a encarar as máscaras como fundamentais no combate à propagação do novo coronavírus.

O debate sobre a utilização de máscaras intensificou-se nas últimas semanas. Não há consenso, mas parece cada vez mais evidente que as máscaras acabarão por se tornar num acessório imprescindível para o regresso à ‘normalidade’, o que quer que isso seja.

São cada vez mais os países a recomendar o uso massificado destes dispositivos de protecção individual, numa lógica de protecção de grupo.

A própria Organização Mundial da Saúde (OMS), inicialmente reticente em relação ao uso indiscriminado de máscaras, acabou por mudar a sua posição e, nos últimos dias, emitiu orientações aos estados-membros.

O médico cabo-verdiano Hélder Além, que exerce em Portugal, destaca a importância da utilização de máscaras.

“A máscara não protege quem usa. Utilizo a máscara, estou protege-lo a si. Você utiliza a máscara, está a proteger-me a mim. Portanto, é uma protecção de grupo, daí a importância de utilização da mascara”, observa.

As máscaras faciais cobrem boca e nariz, por onde saem as partículas capazes de infectar os outros.

O cirurgião do Centro Hospitalar do Barreiro e Montijo considera que, enquanto não for clarificado tudo sobre o novo coronavírus, e não existir uma vacina, é essencial o uso de máscaras.

“Não há um tratamento específico para a COVID-19 e, como não há tratamento, temos que prevenir a sério. Este vírus não vai sair da comunidade nos próximos dois anos, que é o que aconteceu com o SARS 1”, alerta.

Em Cabo Verde, não há recomendação de uso generalizado de protecção facial. Jorge Barreto, Director do Serviço de Prevenção e Controlo de Doenças, declarou segunda-feira, no briefing diário, que a Direcção Nacional de Saúde acompanha a evolução da situação, para “tomar uma decisão”.

“Há uma recomendação internacional – a nível de Cabo Verde esta recomendação não está em vigor, mas poderá ser pensada – de utilização de máscaras caseiras ou não médicas. Podem ajudar na redução do risco de propagação da doença. No momento certo será comunicado”, referiu.

Em Portugal, na última semana, passou a ser aceite o uso de máscaras comunitárias, dispositivos não cirúrgicos, reutilizáveis, feitos em tecido, aconselhando-se o recurso a um material designado de TNT (tecido não tecido), obtido através de uma liga de fibras e um polímero, geralmente polipropileno.

A própria OMS reconhece a possível viabilidade destas soluções, mas alerta que ainda não foi suficientemente avaliado o seu nível de protecção.

Também o Centro de Americano de Prevenção e Controlo de Doenças (CDC), além de recomendar o uso universal de protecção facial, disponibiliza uma secção online que ensinar a fazer estas protecções a partir de materiais simples.

“O melhor seria máscaras cirúrgicas, mas infelizmente não há para todos. A maior parte das máscaras que estão no mercado não são reutilizáveis, são máscaras para utilizar 6 a 8 horas e depois deitar fora. As máscaras que estão a ser confeccionadas, algumas que são reutilizáveis”, completa Hélder Além.

No fundo, a tendência aponta num sentido: qualquer obstáculo físico à emissão de gotículas pelo nariz e boca reduz a disseminação do vírus.

Contudo, isso não chega. As autoridades sanitárias são unânimes ao alertar que o uso da máscara não é suficiente para oferecer um nível adequado de protecção e de responsabilidade comunitária. A etiqueta respiratória é fundamental, como fundamentais são os cuidados de higiene – em particular a lavagem de mãos – e o distanciamento social.

A urgência de retomar os cuidados de saúde não urgentes

Com o agravamento da situação epidemiológica, os países foram obrigados a alterar o normal funcionamento dos serviços de saúde, adiando actos médicos considerados não urgentes. A decisão, compreensível numa primeira fase, não pode prolongar-se no tempo, defende o médico Hélder Além.

A falta de resposta a doentes que precisem de cuidados de saúde, mesmo que não urgentes, será dramática, refere o clínico cabo-verdiano.

“Dependendo do tempo que isto durar, vamos ter, de certeza, doentes com tumores muito mais avançados, muita gente com patologia cardíaca não controlada. Vai ser uma nova epidemia”, avisa.

“Pessoas que não são operadas, pessoas que não foram diagnosticadas porque os exames foram adiados”, exemplifica o médico, a exercer em Portugal.

De acordo com Hélder Além, os sistemas de saúde devem criar condições, como a separação de estruturas, para receber tanto doentes COVID-19, como pacientes com outras patologias.

“Uma coisa é aguentar um mês, outra é empurrar isto com a barriga por mais três meses. São problemas éticos muito complexos, mas que têm que se começar a resolve-los”, recomenda.

    

Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 960 de 22 de Abril de 2020. 

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Autoria:Nuno Andrade Ferreira, Lourdes Fortes,25 abr 2020 7:25

Editado porSara Almeida  em  2 fev 2021 23:21

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