De visita durante a manhã aos bairros da capital mais afectados pelas cheias, enxurradas e destruição provocada pelas fortes chuvas que se fizeram sentir sobretudo no sábado, em que acabou por morrer um bebé de seis meses, Jorge Carlos Fonseca descreveu viver um “sentimento de tristeza” e uma “espécie de revolta interior”.
“Mas também um sentimento de que nos vamos consciencializando cada vez mais, eu e todos os poderes em Cabo Verde (…), de que devemos trabalhar mais, trabalhar melhor, para que possamos transformar o Cabo Verde que temos hoje, no sentido de ser um país mais igual, mais justo, com menos desigualdades sociais. Há ainda muita pobreza neste país, nesta capital. É um desafio para nós todos”, afirmou, em declarações aos jornalistas.
Dezenas de famílias tiveram de ser realojadas pela autarquia da Praia no último fim de semana e as cheias provocaram a destruição de casas, vias de comunicação e aluimento de terras, afectando sobretudo as zonas mais pobres e de construção informal.
Envolto por um cenário de destruição, e acompanhado por responsáveis do município da Praia, o chefe de Estado admitiu que o país e a sua capital “cresceram muito” nos últimos anos, mas que é preciso dar “meios de subsistência” para fixar as populações, nomeadamente noutros pontos da ilha de Santiago, evitando a migração para a capital.
“Não é um problema fácil. Passa pela contenção de migrações internas, sobretudo do interior da ilha para a Praia”, reconheceu Jorge Carlos Fonseca, pedindo medidas mais “firmes” para travar a construção informal em encostas e linhas de água, mas em simultâneo também “alternativas”, para que as pessoas obedeçam “às políticas de ordenamento do território”.
Reconheceu que o cenário vivido durante a madrugada de sábado na Praia resultou de chuvas intensas que ultrapassaram a média anual dos últimos 30 anos na capital. Contudo, insistiu que as consequências são agravadas pela construção desordenada e informal: “Impõe um trabalho cada vez mais persistente e determinado de prevenção”.
Para o Presidente, Cabo Verde e a Praia precisam de medidas para “combater a pobreza e a miséria”, nomeadamente “políticas sociais mais ousadas” e de ordenamento do território “mais continuadas”.
“Sem isso, haverá sempre esse problema, de as pessoas procurarem meios de subsistência migrando para a cidade”, sublinhou.
Durante a visita aos bairros Fundo Calabaceira e Pensamento, o chefe de Estado constatou a falta de condições de segurança das construções informais nas encostas, pedindo a realização de obras de drenagem, limpeza permanente e uma “articulação permanente” entre o poder central e o local.
O Governo já estimou que a capital necessita de investimentos de 258 milhões de escudos para “repor a normalidade”, após as consequências das fortes chuvas.
O vice-primeiro-ministro, Olavo Correia, admitiu, entretanto, a necessidade de recorrer ao apoio de parceiros internacionais para recuperar da destruição provocada na Praia por estas cheias e enxurradas.