A morte de Onésimo Silveira provocou várias reações de elogio e de evocação. Presente na cerimónia, o Governo, através do ministro da Economia Marítima, Paulo Veiga, lamentou a perda de “um distinto homem de letras, poeta, escritor, ensaísta e um grande democrata”.
“Hoje honramos a vida e a obra de um grande homem, de um distinto cidadão das ilhas, de um cabo-verdiano digno de todas as diferenças e honras. Um dos grandes intelectuais cabo-verdianos conhecido também pela sua veia interventiva e de protesto sobre a condição humana. Onésimo era, sem dúvida, o último de uma geração que foi estrutural para a configuração dos limites de que hoje podemos chamar a cabo-verdianidade poética idiossincrática, mas também cidadã e democrático”, refere.
Para Paulo Veiga, o legado maior de Onésimo Silveira é o exemplo de participação cidadã como homem da cultura, e que fez dela arma de intervenção sociopolítico, de empoderamento de gerações e instrumento de afirmação da identidade da ilha de São Vicente.
“São Vicente e Cabo Verde saberão honrar o seu legado político e cultural, pela sua influência permanente na vida de quem com ele conviveu, mas também no funcionamento das instituições por onde ele passou”, diz.
Na sua intervenção, o presidente da Câmara Municipal de São Vicente, Augusto Neves, recordou uma “figura ímpar de Cabo Verde e do mundo”.
“Homem que, ao longo da sua vida, dedicou a sua carreira pública em prol do povo das ilhas sempre com abnegação e espírito de missão. Cidadão do mundo, com uma vivência multifacetada, diplomata fino e de profunda visão, controverso e polémico pragmático magnetizava toda a audiência com um poder de oratória inigualável”, aponta.
A presidente da Assembleia Municipal de São Vicente também discursou. Dora Pires entende que Cabo Verde perdeu “um grande homem”, e que cabe a todos seguir o seu legado.
“É uma perda irreparável. Perdemos um grande homem, um dos maiores da nossa terra, um homem culto, inteligente e que teve atuação certa em momentos certos. Por isso ele deixa um legado que cabe a todos nós seguir”, realça.
Após a cerimónia na Câmara Municipal de São Vicente, o cortejo seguiu para a Universidade do Mindelo, onde Onésimo Silveira foi distinguido, em 2011, com o doutoramento Honoris Causa.
Falecido esta quinta-feira, 29, aos 86 anos, no Mindelo, a sua cidade, Onésimo Silveira a enterrar esta tarde no cemitério de São Vicente.
Onésimo Silveira nasceu em 1935, na ilha de São Vicente e doutorou-se em Ciências Políticas pela Universidade de Uppsala (Suécia), em 1976, ano em que começou a trabalhar na sede das Nações Unidas, em Nova Iorque.
Em 1977, transitou para a Agência das Nações Unidas para os Refugiados com o estatuto de diplomata. Ali permaneceu até dezembro de 1990, trabalhando em países como Somália, Angola e Moçambique.
Em 1992, tornou-se o primeiro presidente eleito da Câmara Municipal de São Vicente, cargo que desempenhou até 2001.
Em 2002 foi colocado como embaixador em Portugal.
A nível cultural, é considerado um dos mais proeminentes membros da elite literária cabo-verdiana, tendo muitos trabalhos publicados no campo da literatura e do ensaio.