A consciencialização sobre a importância da vacina contra a COVID-19 é um assunto bastante discutido actualmente.
Nesta reportagem o Expresso das Ilhas procurou saber, junto aos jovens, o porquê da resistência em serem vacinados.
Alexandre Garcia, de 21 anos de idade, declara que não pensa tomar a vacina por achar que “não o deve fazer”.
“Não é por medo, mas por não saber absolutamente nada sobre a vacina e quais as consequências que pode trazer para o organismo. Também não procurei informar-me sobre isso e ainda assim acho que não devo tomar. Não sei qual a importância dessa vacina”, afirma.
Segundo este jovem, os amigos da mesma faixa etária partilham a mesma opinião quanto à vacina e não pretendem vacinar.
“Se impuserem a obrigatoriedade de sermos vacinados não sei dizer se tomarei ou não. Reitero, não quero tomar a vacina. Pelo menos não por agora”, enfatiza.
Assim como Alexandre Garcia, Alícia Monteiro, de 29 anos, diz que não pensa tomar a vacina contra a COVID-19, ao menos que passe a ser obrigatório.
“Tenho anemia e, do meu ponto de vista, se eu tomar pode complicar ainda mais a minha situação”, justifica a jovem que acrescenta que não procurou informar-se junto dos médicos, confiando apenas na sua dedução já que não pretende ser imunizada.
Aliás, frisa, o facto de a mãe ter tido febre, vómitos, dores no corpo e tonturas durante três dias após ser vacinada, também criou um certo receio.
“Nunca fui infectada pela COVID-19 e apesar de saber que sem a vacina, caso for infectada será pior, prefiro apostar na prevenção. Agora, caso venha a ser obrigatório e eu não tiver opção vou ter de tomar”, refere.
Informações nas redes sociais criam receio
Mauro Carvalho tem 26 anos e confessa que não pretende ser vacinado devido às informações que circulam nas redes sociais, gerando um “certo pânico” quanto à eficácia e as consequências da vacina.
“Não penso tomar a vacina porque vejo muitas informações Há dias li que quem tomar a vacina terá complicações de saúde daqui a dois anos. Mesmo tendo visto depois que aquilo era falso não fiquei convencido, o que eu li primeiro teve mais impacto”, revela.
Para Mauro Carvalho, ainda não é o momento de tomar a vacina por ser “algo recente e sem comprovação da real eficácia”.
“E outra, penso que as vacinas disponíveis no país não são das melhores. Se vier a ser obrigatório vacinar será uma outra história e posso vir a tomar. Mas, só no caso de se tornar obrigatório”, enfatiza.
O jovem narra que tanto os avós maternos como paternos já foram vacinados e que tiveram sintomas como febre, dores no corpo e dores de cabeça Entretanto, este não é o principal factor para se recusar a ser vacinado.
“Não é por isso que me recuso a ser vacinado, não tenho medo algum da vacina. Apenas não quero”, admite.
Dentre os jovens ouvidos por este jornal, Márcia Monteiro, de 23 anos, é a única que pretende receber a vacina. Entretanto, acentua, não ainda devido aos comentários que lê nas redes sociais.
“Penso tomar a vacina, mas ainda não fiz a inscrição. Vou fazer isso quando me sentir preparada primeiro, porque tenho medo da agulha e, segundo por aquilo que as pessoas comentam nas redes sociais”, fundamenta.
“Sendo a maioria das pessoas sem muito conhecimento, tenho a consciência de que circula muitos fake news no Facebook. Contudo, isto não deixa de criar um certo medo”, relata.
Márcia Monteiro assume que com a sua excepção, apenas a sua irmã de 25 anos pretende receber a vacina. A jovem reconhece ainda que não acompanha as notícias, ainda assim que tenha a consciência da importância dos imunizantes.
“Pelo que sei, a vacina vai trazer mais tranquilidade e vai permitir retomarmos, até certo ponto, a normalidade. Por isso, estou a ponderar ser vacinada uma vez que devemos ter medo do coronavírus e não dos imunizantes”, fundamenta.
DNS reitera importância da vacinação dos jovens
Durante a conferência desta semana, Jorge Barreto reiterou que é “extremamente importante” as pessoas vacinarem, uma vez que a vacina é um instrumento que ajuda a reduzir os riscos associados à COVID-19, a probabilidade de haver complicações e até mesmo de morrer.
Conforme informou, depois de ter sido alargada a idade de vacinação, tem havido “muita adesão” de pessoas com 18, 19 e 20 anos de idade, mas também de pessoas com menos de 40 anos.
Este facto, prosseguiu, poderá servir como um incentivo àqueles que ainda estão indecisos em relação a serem ou não vacinados.
“Continuamos a não ter efeitos adversos de preocupação, os efeitos que as pessoas têm tido são os esperados da reacção da vacina. Uma ligeira febre, dores no corpo, sensação de cansaço, mas isto é o organismo a reagir à vacina para produzir a imunidade. Isto quer dizer que a vacina fez efeito”, ressaltou.
No passado dia 28, durante a conferência sobre a situação epidemiológica, o Director Nacional da Saúde, anunciou que é cada vez mais frequente a OMS alertar que tendo o país doses suficientes de vacinas, que pessoas elegíveis sejam vacinadas, pelo que apela que as pessoas devem aderir ao máximo à campanha de vacinação.
Quais são as principais variantes da COVID?
Desde que o vírus foi identificado pela primeira vez, surgiram milhares de mutações. A maioria das mudanças tem pouco ou nenhum impacto nas propriedades do vírus, de acordo com a OMS, e muitas desaparecem com o tempo.
Os especialistas estão mais preocupados com quatro variantes do vírus Sars-Cov-2: Alfa (encontrada primeiro no Reino Unido), Beta (África do Sul), Gama (Brasil) e Delta (Índia).
Embora possam ter resistência maior às vacinas, especialistas apontam que as informações disponíveis hoje indicam que as vacinas têm mostrado resultados mesmo diante de novas variantes.
Muita atenção tem sido dada recentemente à variante Delta, que se tem mostrado, em alguns países, ser uma ameaça maior à saúde pública do que variantes anteriores. Segundo a BBC, a taxa de transmissão dessa variante é cerca de 60% maior do que a variante Alfa, que já tinha uma taxa de transmissão 50%, maior em comparação com a cepa original do coronavírus.
A variante Delta gerou uma segunda onda mortal de infecções na Índia neste ano e tornou-se também a variante dominante no Reino Unido. Aliás, dados do Reino Unido mostram que pessoas não vacinadas infectadas com a variante Delta têm duas vezes mais probabilidade de serem hospitalizadas do que aquelas com a variante Alfa.
O professor Tim Spector, que dirige o estudo de sintomas baseado no aplicativo Zoe Covid, diz que embora a febre permaneça bastante comum na variante Delta, a perda do olfacto não aparece mais entre os 10 principais sintomas.
Dor de cabeça, dor de garganta e coriza são agora os sintomas mais relatados relacionados a infecções no Reino Unido, devido à variante Delta.
E quanta protecção as vacinas oferecem?
Estudos mostram que, até agora, as vacinas disponíveis funcionam contra as novas variantes do Sars-CoV-2. Contudo, a sua eficácia é reduzida contra as variantes mais recentes em comparação com a cepa original do coronavírus, principalmente após apenas uma dose.
Este é um dos motivos pelos quais os especialistas alertam que é essencial tomar a segunda dose da vacina. Em um estudo da Public Health England, uma dose da vacina Pfizer ou AstraZeneca forneceu apenas 33% de protecção contra a variante Delta, em comparação com 50% contra a variante Alfa.
No entanto, esses níveis aumentaram após a segunda dose para 88% para a Pfizer e 60% para a AstraZeneca.
Um estudo separado da Universidade de Oxford confirmou que as vacinas Pfizer e AstraZeneca foram eficazes contra as variantes Delta e Kappa identificadas na Índia.
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1023 de 7 de Julho de 2021.