Em declarações à imprensa, à porta da esquadra Especial da Polícia Anti-Crime, à qual foi chamado, Oliveira frisou que quer ser julgado para provar tudo aquilo que disse contra os juízes do Supremo Tribunal de Justiça.
“O Procurador-geral da República, José Landim, e o Presidente do Supremo Tribunal de Justiça, Benfeito Mosso Ramos, já colocaram essa questão numa posição que já não há volta a dar. Eu se tiver que ser preso, serei. Mas eu quero ser julgado em julgamento público com o povo a assistir e com o povo a me julgar”, acrescentou.
Amadeu Oliveira disse ainda que não vai constituir advogado, porque o seu defensor é o povo e que só o povo o poderá salvar.
“Esse sistema esta caduco e feito para me lixar, só povo pode me salvar. Por isso, eu quero um julgamento público, com o povo na audiência, assistindo e me julgando, porque a justiça não é dos juízes, a justiça não é do PAICV, a justiça não é do MpD. A justiça é feita em nome e em representação do povo”, acrescentou.
Ainda nas suas declarações, Amadeu Oliveira disse ainda ter medo de ser detido, porque sabe que, se isso acontecer, irá dormir no chão, sem casa-de-banho, sem nada, até 48 horas.
“É uma situação que eu já passei uma vez, apanhei uma pneumonia nesta cadeia, porque obrigaram-me a dormir no chão durante duas noite, sem lençol, sem casa-de-banho e sem nada. Portanto, não posso dizer que é uma situação agradável”, sublinhou.
Oliveira afirmou também que, tal como no tempo do colonialismo português, houve “homens com coragem” para lutar pela independência e que tal como nos anos 90 existiu “gente com coragem” para fazer a abertura política, neste momento, tem que haver gente disposta a pagar as facturas necessárias para se fazer uma reforma da justiça.
“Se o preço que eu tiver que pagar será dormir no chão, preso sem casa-de-banho, que assim seja. Não é que eu não tenha medo. Mas também nenhum homem pode viver subjugado pelo medo. É necessário arranjar forças, na consciência de que não estou sozinho, para suportar e pagar as facturas que eu tiver que pagar, mas a justiça como está não pode continuar”, continuou.
“É chegado o momento de fazer uma reforma da Justiça. Eu sei que o MpD não quer. Eu sei que o PAICV não quer, mas é necessário despertar a Nação cabo-verdiana, porque a reforma da justiça será feita, ou por vontade política, ou com o povo na rua. E os políticos tomem muito cuidado, sobretudo o PAICV e o MpD, o povo já começou a despertar e em muito pouco tempo eles vão ser obrigados a fazer a reforma da Justiça”, alertou.
Amadeu Oliveira disse também não saber o que irá acontecer consigo, mas mostrou-se totalmente aberto em respeitar e fazer aquilo que lhe for pedido.
“Posso somente prestar declarações e mandarem-me para casa. podem aconselhar-me a ir para São Vicente porque só o Tribunal de Relação de Barlavento em São Vicente é que pode legalizar a minha prisão. Se pedirem para ir para São Vicente, eu saio daqui eu meto-me no primeiro barco ou avião e vou entregar a cabeça em São Vicente”, disse.
“Eu não vou fugir, nem sou traidor à pátria. Eu tenho amor à pátria, eu sou patriota, eu sou um indivíduo que respeita as instituições, tudo o que me pedirem, para ficar detido, ficarei, para prestar declarações, prestarei, para ir para São Vicente, irei”, completou.
O Ministério Público cabo-verdiano anunciou na semana passada que pediu autorização ao parlamento para deter o deputado Amadeu Oliveira (a Assembleia Nacional já levantou a imunidade parlamentar), acusado de um crime de ofensa a pessoa colectiva e dois de atentado contra o Estado de Direito. Em comunicado, a Procuradoria-Geral da República informou que em causa está o envolvimento do advogado na saída do país de um arguido, condenado a nove anos de prisão, pela prática de um crime de homicídio simples, e que aguardava os demais trâmites processuais sob a medida de coacção de obrigação de permanência na habitação, determinada pelo Supremo Tribunal de Justiça (STJ).
Em 27 de Junho, o arguido Arlindo Teixeira, condenado inicialmente a 11 anos de prisão por homicídio, saiu do país a partir de São Vicente num voo da TAP com destino a Lisboa, tendo depois seguido para França.