“Tenho o maior prazer em anunciar que o Luxemburgo decidiu elevar o nível da sua presença diplomática em Cabo Verde. A partir deste outono, a nossa missão diplomática estará sob a responsabilidade de um embaixador residente. Os nossos laços directos e a nossa amizade serão fortalecidos”, anunciou o chefe de Estado luxemburguês, durante o jantar de gala oferecido pelo grão-duque à comitiva cabo-verdiana na terça-feira.
“Num país tão multicultural como o Luxemburgo, a convivência é essencial. A comunidade cabo-verdiana bem o compreendeu, contribuindo também de forma notável para o desenvolvimento económico do meu país e gostaria de lhes agradecer de coração”, acrescentou o grão-duque Henri.
O Luxemburgo é um dos principais parceiros económicos e doadores de Cabo Verde, sendo a representação diplomática permanente no arquipélago assegurada por um encarregado de negócios.
“Este ano celebramos o 60.º aniversário da chegada dos primeiros cabo-verdianos ao Luxemburgo. A sua comunidade é altamente valorizada. Faz parte do nosso dia a dia. Molda o nosso ambiente em cidades e vilas, participando activamente da nossa vida democrática. Com efeito, são mais de 30 os candidatos de origem cabo-verdiana que se candidatam às eleições municipais do mês que vem. Muitos artistas contribuem para a vida cultural do nosso país. A selecção nacional de futebol conta com quatro jogadores de origem cabo-verdiana”, sublinhou o chefe de Estado luxemburguês.
Acrescentou que o Conselho Nacional das Mulheres do Luxemburgo, organização cujo objectivo principal é promover a igualdade entre mulheres e homens, tem igualmente um presidente de origem cabo-verdiana, o que, tudo somado, ilustra a “bela integração” cabo-verdiana no país.
O Presidente da República está a realizar, até quinta-feira, uma visita de Estado ao Luxemburgo e na mesma ocasião destacou o relacionamento entre os dois povos e o reflexo no processo de desenvolvimento de Cabo Verde.
“O povo cabo-verdiano é muito dado a cultivar relações de amizade com povos de todo o mundo por onde se espalha, numa imensa diáspora. Porém, com o povo luxemburguês essas relações de amizade atingem o nível de excelência, provavelmente fruto das características comuns e de partilharem os mesmos valores, tais como o espírito de tolerância e de paz e a generosidade para com os outros. Os nossos dois Estados, pequenos e de população reduzida, situados em continentes diferentes, não prescindem de compartilhar aspirações comuns, de um mundo mais fraterno, justo e solidário”, disse José Maria Neves.
Em entrevista à agência Lusa em 2021, o encarregado de negócios da Embaixada luxemburguesa na Praia, Thomas Barbancey, explicou que a relação entre os dois países - Cabo Verde tem no Luxemburgo um dos maiores financiadores de projectos estruturantes - começou ainda na década de 1980.
Uma “relação de cooperação” que está “profundamente enraizada nas ligações humanas e na amizade entre as respectivas populações”, após a chegada dos primeiros emigrantes cabo-verdianos ao Luxemburgo, disse.
“O respeito mútuo, tal como as semelhanças entre os nossos países, a dimensão relativamente modesta, levaram a que certos luxemburgueses visitassem o arquipélago, criando assim ligações naturais de solidariedade através de organizações não-governamentais luxemburguesas, nomeadamente em Santo Antão, de onde era originária a maioria dos cabo-verdianos residentes no Luxemburgo”, recordou Thomas Barbancey.
Essa dinâmica acabou por evoluir e em 1993 os dois países assinaram o primeiro acordo geral de cooperação, que rapidamente passou a outro nível. Desde 2002, ambos os governos acordaram cinco Programas Indicativos de Cooperação (PIC), com envelopes financeiros que vão crescendo.
O quinto PIC, para o período 2021 a 2025, foi assinado em Julho de 2020 pelos dois governos uma componente de apoio financeiro do Luxemburgo de 78 milhões de euros (mais 20 milhões face ao programa anterior) para projectos em várias áreas tidas como prioritárias para Cabo Verde, como energia, formação profissional, emprego e outros.