O Presidente da República, José Maria Neves, alertou para a perda de influência dos partidos políticos diante do impacto das redes sociais e apelou à sua reinvenção, abertura à sociedade civil e envolvimento dos jovens na política.
“Só assim teremos ‘A República pelas mãos dos jovens’, como é o lema da Semana da República, que hoje se inicia”, frisou.
Neves destacou a importância de uma discussão pública robusta, livre de ataques pessoais e polarização, enquanto reiterava a urgência de aprofundar a Democracia económica, social e cultural para promover a inclusão e eliminar as assimetrias.
“O Parlamento deve ser eleito como o espaço privilegiado para o debate e a afirmação da Democracia. Espera-se, igualmente, que a Assembleia Nacional seja capaz de encontrar os consensos com vista à eleição dos Órgãos Externos ao Parlamento. Do Presidente da República podem contar, como sempre, com a disponibilidade institucional e o empenho pessoal para a busca dos entendimentos que se mostrarem necessários”, assegurou.
Evitar fenómenos de populismos
À imprensa, o Primeiro-ministro, Ulisses Correia e Silva, considerou que o 13 Janeiro, Dia da Liberdade da Democracia, simboliza um “ganho extraordinário” para Cabo Verde, que deve ser aprimorado pelas novas gerações para “evitar fenómenos de populismo, extremismo e nacionalismo exacerbados”.
Conforme disse, os fenómenos de populismo, extremismo, nacionalismo exacerbado, que estão “a acontecer pelo mundo fora”, não podem vingar e frutificar em Cabo Verde, sustentando que, ainda que o país não esteja imune a qualquer situação que possa fragilizar a democracia, há que “fazer os bons combates para que a democracia seja cada vez mais estruturante” em Cabo Verde”.
“É um factor de estabilidade política, económica e de desenvolvimento. Graças a Deus Cabo Verde não só tem sido um exemplo pela sua democracia, como os cabo-verdianos compreendem muito bem aquilo que é o valor da democracia e protegem, cuidam e devem aprimorar cada vez mais”, afirmou.
A democracia, esclareceu, não é um privilégio dos partidos políticos, nem do poder, mas sim do povo, pelo que, referiu, quanto mais cidadania o país tiver e mais participação particularmente nos jovens para ver a política como algo nobre, recensear no momento que forem chamados, tanto no país como na diáspora, a democracia cabo-verdiana “fica mais cuidada”.
Maior conquista dos cabo-verdianos – Presidente da Assembleia Nacional
Por sua vez, o presidente da Assembleia Nacional Nacional (PAN) acredita que, “aliada à Independência Nacional”, a implementação da democracia e do Estado de Direito democrático é a maior conquista dos cabo-verdianos.
“Foram passos decisivos para que o país se tornasse de facto numa República soberana, unitária e democrata, que garante o respeito pela dignidade da pessoa humana e reconhece a inalienabilidade dos direitos do homem como fundamento de toda a comunidade humana”, notou.
Durante o seu discurso, o presidente da Assembleia Nacional discorreu sobre os ganhos de Cabo Verde nestes 33 anos de liberdade e da democracia, com destaque para o sector da educação, e lembrou que o percurso democrático do país tem sido “sistematicamente bem avaliado” por organismos internacionais, cuja reputação é merecedora de confiança de entidades e países de “solidez institucional inquestionável”.
Partidos
O líder parlamentar do Movimento para a Democracia (MpD), instou os jovens a serem agentes de mudança e a promoverem justiça, igualdade e solidariedade, ressaltando o papel crucial dessa geração na construção de um Cabo Verde mais forte e inclusivo.
“A juventude, herdeira deste legado, tem o papel crucial de aprofundar os valores e a cultura que trouxemos até aqui, tornando-se agentes activos na construção de um Cabo Verde cada vez mais democrático, plural e justo”, pontuou.
Já o líder parlamentar do PAICV, João Baptista Pereira, ressaltou os avanços de Cabo Verde, incluindo a sua liderança em governança pública na África Subsariana.
Entretanto, Pereira reconheceu preocupações diante de dados da Afrosondagem que revelam uma significativa insatisfação democrática entre os cabo-verdianos, chamando à reflexão e acção para enfrentar esse desafio.
Por seu turno, a UCID advertiu que uma democracia plena requer o exercício da liberdade e sem sujeição de mecanismos de controlo da livre expressão e da acção dos cidadãos.
“Alguns acontecimentos que temos assistido preocupa-nos já que deixam a sensação de estarmos a caminhar para um certo autoritarismo de fachada democrática, que tenta silenciar os mais ousados”, observou Zilda Oliveira, advertindo que o percurso feito rumo à democracia não foi somente uma mudança do sistema político.
*com Inforpress
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1155 de 17 de Janeiro de 2024.