A Bolsa de Valores (BVC) anunciou a suspensão da negociação das acções da ENACOL e da Sociedade Cabo-Verdiana de Tabacos.
Miguel Monteiro, presidente da BVC, explicou ao Expresso das Ilhas que o mercado bolsista é um mercado regulado e que, por isso, “existem regras que têm de ser cumpridas”. Regras que estão estipuladas no Código do Mercado de Valores Mobiliários. “Nesse código, na alínea d) do nº1 do artigo 138 é dito que são suspensos da cotação os valores cujas cotações apresentem oscilações anormais ou susceptíveis de afectar, de modo temporário ou permanente, o regular funcionamento do mercado”.
Foi nesse acompanhamento, diz Miguel Monteiro, que se verificaram oscilações anormais nos valores das acções das duas empresas. “Foi por causa disso que decidimos fazer essa suspensão”, reforça o presidente da BVC.
Comunicada a suspensão à reguladora de mercado, a Auditoria Geral do Mercado de Valores Mobiliários (AGMVM), efectivou-se a suspensão da negociação das acções da empresa “pelo que agora estamos a aguardar, porque a suspensão serve para que a AGMVM tenha tempo e faça os procedimentos que tem de fazer no intuito de esclarecer e corrigir a situação”.
Movimentações lançaram o alerta
Foi no processo de compra e venda de acções da SCT e da ENACOL na BVC que foi detectado “um conjunto de compras e vendas que levaram a que a SCT atingisse o valor de 14.950$00 por acção e a ENACOL os 13.680$00 quando há pouco mais de um mês a SCT estava a ser negociada a 6.500$00 e a ENACOL a 7.200$00”, refere Miguel Monteiro.
A questão, no entanto, “não está no duplicar ou não” dos preços das acções das duas empresas, afirma o presidente da BVC. “Há questões associadas às movimentações que, naturalmente, nós consideramos necessário que a AGMVM verificasse. Posso dizer que houve alguma movimentação no mês de Agosto e foi no âmbito de algumas dessas movimentações que se assistiu ao que nós considerámos que deveria ser alvo de análise pela AGMVM”.
Miguel Monteiro destaca que “quem compra e quem vende” acções gosta de comprar “antes, por exemplo, da distribuição de dividendo, para ainda poder ter acesso a algum dividendo subjacente a esse título”. “Eu diria que não há aqui uma regra no nosso mercado de dizer que é mais forte ou mais fraco. Depende muitas vezes de alguma informação que é lançada no mercado ou alguma perspectiva que possa haver por parte de quem está atento ao mercado. Isso pode levar a que haja mais movimentação por parte de um ou outro agente que esteja no mercado”.
Confidencialidade
Questionado sobre se esta compra e venda de acções que resultaram na subida do preço das acções das duas empresas foi antecedida de algum sinal por parte das empresas ou se o mercado já vinha a dar sinais de que a situação poderia vir a acontecer, o presidente da BVC explicou que a confidencialidade o impede de dar uma resposta.
No caso da ENACOL já não é a primeira vez que a empresa vê a negociação das suas acções ser suspensa na BVC. “Em 2007 também se assistiu a movimentações consideradas, na altura, anormais e foi feita a suspensão dos títulos tendo havido o mesmo procedimento. Depois foi reposta a negociação”, lembra Miguel Monteiro.
O presidente da BVC assegura ainda que “os títulos, daqui a algum tempo, que nós consideramos breve, estarão novamente susceptíveis de serem negociados” e diz que não se trata de uma situação “em que há uma exclusão da cotação, porque isso seria o ponto mais gravoso e isso não está, no nosso entendimento, nem de perto nem de longe a ser perspectivado. É uma suspensão, vai-se resolver a situação que levou à suspensão e voltamos depois à normalidade”. Ainda assim, Miguel Monteiro recusou estabelecer um prazo para o regresso dos títulos das duas empresas ao mercado negocial.
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1136 de 6 de Setembro de 2023.