O Cabo Verde que os jovens esperam em 2025: mais oportunidades, menos desigualdades

PorSheilla Ribeiro,11 jan 2025 9:42

Saúde pública, educação, emprego e segurança são os principais desejos dos jovens cabo-verdianos para 2025. Em meio a desafios como o alto custo de vida, falta de oportunidades e desinteresse na política, esperam maior inclusão nas decisões do país, melhores condições para empreender e mudança no sistema educativo.

Entre expectativas e críticas, os jovens mostram ao Expresso das Ilhas que, apesar do desânimo, ainda acreditam num futuro melhor.

“2025 deve priorizar saúde, segurança e desigualdade social”

Aos 29 anos, Jackeline Lima, acredita que em 2025, os governantes devem ter como prioridade a saúde pública, segurança e desigualdade social.

Actualmente empregada, a jovem espera que surjam oportunidades de formação que permitam o desenvolvimento de habilidades, mas sublinha a necessidade de projectos para apoiar quem está desempregado.

“Para os desempregados, que haja algum projecto aberto em que possam candidatar-se e ter a própria empresa em algum ramo com mais necessidade em Cabo Verde e possam colocar as mãos na massa. Não apenas para quem está desempregado, a situação não está boa para ninguém e é bom até para todos ganhar um extra, além dos seus empregos, já que a cada dia os preços dos bens essenciais aumentam”, defende.

Por falar em dificuldades, Jackeline admite que 2025 trará desafios financeiros. “O meu desafio financeiro será saber equilibrar os meus gastos e conseguir manter a poupança em dia, apesar do alto custo de vida. Sempre tento fazer algo para ganhar um extra”.

“Por exemplo, faço maquilhagens nas horas vagas, vendo perfumes. Pelo simples facto de eu ter o meu emprego, isso permite-me criar oportunidades para mim mesma de conseguir mais dinheiro. Mas, para quem não trabalha, isso fica um pouco difícil, razão pela qual, devem estar atentos a programas, por exemplo, da Pró-Empresa, que sempre tem candidaturas de financiamento aberto”, aconselha.

O equilíbrio mental é outra prioridade para Jackeline que acredita que também há muitos jovens na luta contra a ansiedade.

“Espero que este ano eu e todos os jovens possamos ser uma pessoa menos acelerada mentalmente. Sou uma pessoa muito ansiosa e as actividades físicas têm-me ajudado a controlar essa parte. Mas nem sempre, com a rotina do dia a dia a pessoa consegue manter-se activa”, diz.

A ansiedade dos jovens, prossegue, muitas vezes é o reflexo do uso excessivo das redes sociais.

“Por essa razão espero que possamos diminuir o ritmo ou a quantidade de vezes que usamos as redes sociais. É um desafio a superar este ano. Talvez possamos fazer da leitura uma prioridade neste novo ano. Eu, particularmente, pretendo ler pelo menos um livro a cada mês”, compromete-se.

Jackeline Lima acrescenta que os jovens são importantes nas tomadas de decisões sobre o país e que deviam ser levados mais em conta.

“Temos sempre ideias mais criativas e conhecemos mais que ninguém os principais desafios do país, por isso devíamos ser mais incluídos nas tomadas de decisões nesse 2025”, conclui.

“Em 2025 espero mais oportunidades e igualdade”

Com 32 anos, Adérita Semedo espera que em 2025 a taxa de emigração, saúde, desemprego e criminalidade sejam as principais discussões entre os governantes.

“Também espero que seja um ano de mais oportunidades para os jovens. Tenho esperança que ainda as coisas possam melhorar”, afirma.

Reflectindo sobre o ano anterior, a jovem acredita que o maior desafio para os cabo-verdianos tenha sido organizar-se financeiramente para alcançar um objectivo.

“Vamos ver se esse ano conseguiremos fazer poupança. Penso que a maioria não conseguiu poupar e a desigualdade social é cada vez mais gritante. Aliás, essa é a minha preocupação actualmente, a desigualdade das classes”, assevera.

A questão da disparidade social é, segundo a jovem, uma barreira que precisa de ser superada para alcançar uma sociedade mais justa e equilibrada.

“Criminalidade e desemprego são os problemas mais urgentes de 2025”

Carla Sanches, de 33 anos, considera prioridade para Cabo Verde em 2025 questões que têm a ver com emprego, criminalidade e saúde. Mudanças no sistema educativo também devem ser prioritários.

“Espero que a educação melhore, porque o sistema educativo de Cabo Verde não está a preparar bem os jovens para o futuro, os próprios professores não estão preparados para formar os jovens”, critica.

A literacia mediática é algo que esta entrevista espera ver melhorada entre os cabo-verdianos, sobretudo entre os jovens.

“Hoje temos mais acesso à internet, mas é utilizada de forma errada. Os mais jovens não estão a aproveitar bem esse recurso ao consumir muita desinformação. Ou seja, falta literacia mediática, algo que espero possa mudar neste novo ano”, defende, sublinhando a necessidade de uma maior educação digital.

Outro ponto crucial para Carla é a participação política dos jovens, que considera insuficiente.

“Espero que o Governo encontre uma solução, faça algo que motive os jovens a participarem mais na política. Essa solução, a meu ver, passa pelo emprego. Se os jovens tiverem emprego, com certeza vão se sentir mais motivados, além de que terão menos tempo livre para a criminalidade”, acredita.

Para Carla, no ano 2025, o país deve focar-se em resolver os problemas sociais mais urgentes.

“Para mim, a criminalidade e o desemprego são os problemas sociais mais urgentes nesse 2025”, pontua.

“Em 2025, imagino um Cabo Verde mais movimentado e seguro”

Basílio dos Santos, de 30 anos, acredita que em 2025 Cabo Verde será mais movimentado.

“Quando digo mais movimentado, estou a referir ao aumento do fluxo turístico, mais infraestruturas, aumento económico e mais oportunidade de trabalho”, começa por explicar.

No entanto, o jovem aponta preocupações com questões sociais e de segurança. “Gostaria de ver alguns aspectos mudados este ano. Por exemplo, diminuição da violência juvenil, quero que sejamos um país cada vez mais seguro, que as autoridades responsáveis controlem melhor o crescimento de bairros clandestinos. Penso que é um dos principais factores para o surgimento de problemas sociais que temos hoje, como a violência juvenil”, ressalta.

Na área da educação, Basílio reconhece avanços, mas considera que ainda há muito a fazer.

“Admito que houve melhorias significativas, mas foram insuficientes quando se quer preparar os jovens para o futuro. Introduzir uma disciplina que ensinasse aos jovens sobre a educação financeira seria um bom passo para grandes mudanças”, sugere.

Esta disciplina, conforme defende, ensinaria aos jovens a importância do planeamento, controlo financeiro e empreendedorismo. Aspectos que ao seu ver são fundamentais para enfrentar as dificuldades dos dias de hoje quando se faz gastos desnecessários.

Para Basílio, os desafios do país passam pela falta de capacitação e de apoio aos jovens.

“Este ano, os desafios do país, na minha opinião, passam pela falta de capacitação e não ter um ‘padrinho’”, comenta, referindo-se às dificuldades de acesso a oportunidades sem influências externas.

Apesar de não esperar muito das lideranças políticas, Basílio defende a descentralização do país, para haver mais oportunidades de emprego em todas as ilhas.

image

Sobre a violência juvenil, apela a uma abordagem mais eficaz. “É necessário criar leis mais severas, aumentar o policiamento nos bairros e chegar nesses bairros para procurar perceber a razão pela qual, os jovens optam por esse caminho. Encontrando a razão será mais fácil de resolver o problema”, entende.

Basílio acredita ainda no aumento da consciência política entre os jovens neste ano.

“Cada vez mais os jovens estão mais conscientes e a interiorizar a importância do voto”.

“Em 2025 espero mudanças que aliviem a vida do cabo-verdiano comum”

Com 27 anos, Melissa Fortes julga que Cabo Verde não vai fugir à regra global e que será um ano difícil e de mais cercos fechados.

“Um ano de complicações tanto para aquisições de bens de consumo, casa, créditos bancários, entre outras coisas que vão dificultar a vida de todos nós, já que os salários não são suficientes para todas as despesas. E, infelizmente, não vejo espaço para manobra para aumento salarial”, lamenta.

Melissa presume que a redução do IVA sobre bens essenciais seria um passo importante para aliviar a pressão económica sobre as famílias.

“Gostaria de ver mudanças em algumas regras, leis, benefícios, para que as pessoas não se sentissem mais encurraladas. Que o governo pudesse diminuir o IVA na água, electricidade e nos 10 principais bens de consumo, para que o pobre tivesse mais margem de manobra”, propõe.

A jovem também vê a educação como uma área que necessita de reformas estruturais.

“O nosso sistema educativo precisa mudar porque sempre tem um buraco, uma lacuna. Temos quadros qualificados, mas faltam equipamentos. Com tudo isso, infelizmente os jovens estão a desacreditar no país”, alerta.

Outro tema crítico para Melisse Fortes é a emigração e a desqualificação da mão de obra local. “

“Conseguir um emprego em Cabo Verde não está difícil, mas há dificuldade em encontrar pessoas qualificadas para serviços. Muitos quadros já fugiram, e estamos perante uma situação de mão-de-obra praticamente desqualificada e sem interesse em Cabo Verde. A maioria dos que aqui estão fica sempre à espera de ajuda do exterior”, critica.

Para a jovem, o assistencialismo excessivo poderá sobrecarregar a economia. Relativamente à tecnologia e internet, aponta que ainda é muito caro e com uma qualidade aquém do preço.

“Ao longo dos anos, tivemos problemas a nível da internet como custo, velocidade e zonas sem acesso. A Starlink trouxe esperança, mas o custo do equipamento é elevadíssimo para a nossa realidade. Espero que até o meio do ano isso possa mudar e que todos nós possamos beneficiar, principalmente as zonas mais remotas”, manifesta.

A política também não escapa ao seu olhar. Melissa refere que os jovens deixaram de se preocupar com a política, como foi confirmado nas autárquicas de 2024. Aliás, frisa que actualmente a principal preocupação da camada juvenil é a emigração.

“É preocupante. Mas também o Governo anuncia programas para os jovens, mas há muitas dificuldades em ter acesso aos mesmos. Falta qualidade nas formações e acesso a créditos. Sem ‘madrinha’ ou ‘padrinho’, é difícil um jovem conseguir algo”, acusa.

Por fim, Melissa apela a melhorias no transporte e na organização urbana no novo ano.

“A deslocação entre as ilhas é mais cara do que entre Cabo Verde e a Europa. Precisamos de mais transportes públicos nos centros urbanos e de regulamentação entre localidades. Precisamos de cidades mais organizadas, com obras futuristas, melhores estradas, túneis e vias alternativas, não só na cidade da Praia”, aponta.

“Educação, segurança e saúde precisam de mudanças urgentes”

Maurício Gomes, de 33 anos, não prevê grandes mudanças no país no Ano Novo.

“Mas gostaria de testemunhar mudanças na questão de segurança e ordem pública, saúde, educação e justiça. O nosso sistema educativo é muito fraco e não corresponde às expectativas do futuro. O acesso à tecnologia e internet também precisa ser mudado e, se for ainda este ano, seria bom, porque o acesso, além de péssimo, é muito caro para os nossos bolsos”, refere.

Assim como alguns dos entrevistados anterior, a relação dos jovens com a política é outro ponto que Maurício considera preocupante.

“Há muito desinteresse dos jovens com a política, acredito que devido à imagem que os políticos transmitem. Mudando a imagem dos políticos, a participação dos jovens também aumentaria”, defende.

Este jovem não tem grandes expectativas relativamente ao governo para este ano. “Não espero nada de especial do governo ou dos políticos este ano, só promessa”, refere, com um tom de cepticismo.

Para Maurício, os maiores desafios no Ano Novo serão a nível da educação, oportunidades de formação profissional, a insegurança crescente e o comodismo social.

Razão pela qual acredita que as mudanças mais urgentes devem concentrar-se na educação, segurança e saúde.

“O mais urgente que precisa ser mudado agora são educação, segurança e saúde. Esses problemas serão resolvidos com políticas públicas desenvolvidas pelo poder central e local, voltadas para crianças e jovens”, diz. 

Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1206 de 08 de Janeiro de 2025.

Concorda? Discorda? Dê-nos a sua opinião. Comente ou partilhe este artigo.

Autoria:Sheilla Ribeiro,11 jan 2025 9:42

Editado porJorge Montezinho  em  11 jan 2025 12:20

pub.

pub
pub.

Últimas no site

    Últimas na secção

      Populares na secção

        Populares no site

          pub.