Qual é o objectivo principal da aquisição deste aparelho?
O de reforço das capacidades operacionais de Cabo Verde no domínio da segurança marítima, busca e salvamento (SAR), evacuação aeromédica e combate a ameaças não-convencionais, como tráfico ilícito e pesca ilegal, não declarada e não regulamentada (IUU). Este investimento vai além da simples modernização das Forças Armadas. O King Air 360 ER representa um salto qualitativo no posicionamento de Cabo Verde como um provedor regional de segurança marítima, uma vez que, devido à sua flexibilidade em diversas missões, incluindo missões de apoio a missões de segurança que são desenvolvidas a nível nacional e regional, no âmbito de acordos existentes.
A escolha desta plataforma foi estratégica, tendo em vista a vasta Zona Económica Exclusiva (ZEE) de Cabo Verde, que se estende por cerca de 734.265 km², bem como sua posição geoestratégica no Atlântico, uma região crucial na confluência de rotas marítimas internacionais entre os continentes africano, europeu e americano.
Com essa aeronave, Cabo Verde poderá realizar operações conjuntas e combinadas de patrulhamento com os nossos parceiros estratégicos, com mais eficiência, contribuindo para o combate à pirataria, ao tráfico de drogas e ao crime organizado, além de proteger os recursos marinhos, que são vitais para a economia do país.
A nível internacional, Cabo Verde, com essa nova capacidade, torna-se um actor de relevo nos esforços coletivos de segurança no Golfo da Guiné e no Atlântico, estando melhor equipado para cooperar com outras agências nacionais e organismos internacionais em especial com os nossos parceiros.
Esta nova capacidade permite ao país não só proteger melhor o seu mar, mas também oferecer uma resposta eficaz às exigências de segurança regionais e internacionais. Ao assumir este papel, Cabo Verde reforça sua relevância estratégica como provedor de segurança numa região que é um ponto crítico para as ligações marítimas globais.
Como é que o novo avião contribuirá para a segurança marítima em Cabo Verde?
O King Air 360 ER desempenhará um papel vital no reforço da segurança marítima em Cabo Verde. Equipado com sistemas ISR (Intelligence, Surveillance, and Reconnaissance), a aeronave vai permitir a monitorização contínua das águas jurisdicionais, apoiando operações de patrulhamento e fiscalização. Sua capacidade de integração com os centros de segurança marítima nacionais e regionais, como o Centro de Operações de Segurança Marítima (COSMAR) e o Centro Multinacional de Coordenação Marítima, (MMCC), permitirá uma partilha de informações em tempo real, maximizando a eficácia na prevenção e combate ao tráfico ilegal, migração irregular, e atividades de pesca IUU. A aeronave também contribuirá diretamente para a proteção ambiental, através da monitorização de atividades que possam ameaçar os ecossistemas marinhos de Cabo Verde.
Num contexto de segurança mais amplo, o King Air, se alinha com a Africa’s Integrated Maritime Strategy 2050 (AIMS) e a Arquitetura de Yaoundé, que defendem a integração de capacidades regionais para garantir uma abordagem colaborativa à segurança marítima.
Qual foi o investimento financeiro associado à compra do avião?
O investimento financeiro foi bastante significativo, é parte integrante de uma estratégia mais ampla de modernização das capacidades de defesa e segurança de Cabo Verde. O montante envolvido reflecte não só a aquisição da aeronave, mas também a incorporação de avançados sistemas de missão e comunicações, essenciais para garantir uma operação eficaz no domínio marítimo.
O investimento inclui a formação intensiva de pessoal altamente qualificado, garantindo que as tripulações e equipas de suporte estejam preparadas para operar o avião de forma segura e eficiente.
Esta formação e treino abrangem áreas críticas, como as missões ISR (Intelligence, Surveillance, and Reconnaissance), evacuação aeromédica, busca e salvamento (SAR), patrulhamento marítimo, entre outras. O custo total, portanto, não se limita ao equipamento em si, mas engloba também a capacitação humana e equipamentos necessários para o início das operações.
É um investimento alinhado com a visão estratégica do Governo de Cabo Verde, que prioriza a segurança marítima como uma componente essencial para a proteção dos seus recursos económicos no mar.
Tendo em conta ainda, o contexto geoestratégico do arquipélago, o investimento reforça a posição de Cabo Verde como um ponto de interseção crítico nas rotas marítimas internacionais, aumentando sua capacidade de resposta a ameaças não-convencionais, como o tráfico ilícito, fortalecendo ao mesmo tempo nosso papel como provedor de segurança regional.
Estou certa que este investimento, projecta Cabo Verde como um actor de relevância crescente nas iniciativas de segurança marítima a nível global.
Que tipo de formação será necessário para a equipa que operará o novo avião?
A equipa que operará o King Air, está tendo uma uma formação altamente especializada e diversificada, abrangendo múltiplas áreas operacionais e técnicas. Os pilotos necessitarão de um treinamento avançado, que os habilite a realizar missões de patrulhamento marítimo, busca e salvamento (SAR). Esse treinamento, segundo me informaram, incluirá a adaptação às características específicas da aeronave e ao uso dos sistemas de navegação e controle de voo em vários cenários operacionais.
Será igualmente importante e fundamental uma formação abrangente sobre o uso dos sistemas de Inteligência, Vigilância e Reconhecimento (ISR) que existem a bordo, incluindo os sistemas de comunicação, monitoramento e sensores de vigilância marítima e radar. Esses sistemas são essenciais para garantir a interoperabilidade com outras plataformas e centros de comando e controle, tanto a nível nacional, regional e/ou internacional.
A formação incluirá também as operações de missões conjuntas com outras agências de segurança marítima e a gestão de informações, fundamentais para a coordenação com os parceiros regionais.
Os técnicos de manutenção também serão essenciais neste processo. Eles precisarão de formação específica sobre a operação dos sistemas de missão incorporados na aeronave e a manutenção dos mesmos, incluindo os sensores de vigilância, radares, e sistemas de comunicação militar e civil.
Devo dizer que as formações continuarão a ser realizadas em estreita colaboração com parceiros internacionais, como parte de acordos de cooperação em segurança e defesa já firmados, garantindo assim que as equipas, não só alcancem, mas também mantenham os mais altos padrões operacionais.
Uma coisa é certa a formação contínua e o aperfeiçoamento técnico serão fundamentais para maximizar o potencial da aeronave, permitindo que Cabo Verde integre plenamente este novo recurso nas suas operações de segurança e defesa.
Como vai integrar-se o novo avião com os outros meios de fiscalização da Guarda Costeira?
A integração do King Air com os meios de fiscalização existentes da Guarda Costeira será fundamental para aumentar a coordenação e eficácia das operações conjuntas e combinadas no domínio marítimo. Equipado com avançados sistemas, o King Air funcionará como uma plataforma central para recolha de dados e partilha de informações, permitindo uma coordenação mais eficaz das missões/operações.
A aeronave poderá operar de forma integrada com as embarcações de patrulha da Guarda Costeira, ampliando significativamente o alcance e a cobertura das operações de patrulhamento e fiscalização marítima.
Via-nos permitir receber informações detalhadas e actualizadas sobre actividades suspeitas ou potenciais ameaças bem antes de se aproximarem de áreas críticas, permitindo assim respostas mais rápidas e precisas com ganhos de eficácia operacional.
O King Air 360 ER será integrado aos sistemas de monitorização de tráfego marítimo geridos pelo COSMAR – Centro de Operações de Segurança Marítima e pelo Centro Multinacional de Coordenação Marítima (MMCC), garantindo uma interoperabilidade total com as plataformas de monitoramento existentes, e fortalecendo a consciência situacional marítima.
Por fim, esta interoperabilidade é também reforçada por parcerias internacionais e regionais, onde a utilização do King Air em coordenação com as forças e plataformas de outros países contribui para um reforço coletivo de segurança no Atlântico médio, especialmente no contexto da Arquitetura de Yaoundé e outras iniciativas de segurança marítima.
A aeronave, portanto, não apenas fortalece os meios de fiscalização nacionais, mas também coloca Cabo Verde numa posição de destaque em operações conjuntas de segurança marítima a nível internacional.
Quais são as expectativas em relação à resposta a situações de emergência com a introdução deste novo avião?
A inserção do King Air trará uma melhoria substancial na capacidade de resposta a situações de emergência em Cabo Verde, particularmente em operações de busca e salvamento (SAR) e evacuações aeromédica.
A versatilidade e alcance da aeronave, poderá cobrir vastas áreas da nossa Zona Económica Exclusiva (ZEE) em tempos significativamente reduzidos, permitindo uma resposta ágil e eficaz em missões de busca e salvamento e apoio humanitário.
Para cenários de emergências médicas, especialmente nas ilhas que possuem aeroportos ou aeródromos, o King Air será um recurso vital. Ele possibilitará o transporte rápido de pacientes para ilhas com Hospitais melhor equipados, garantindo acesso a cuidados médicos de qualidade em situações críticas, pois já traz uma configuração para esta missão.
No domínio das emergências, a capacidade de vigilância em tempo real da aeronave, permitirá realizar missões/operações de busca e salvamento de forma mais eficaz, coordenando esforços entre diferentes agências e plataformas.
Esta integração não apenas potencializa a eficiência das operações de emergência, mas também promove um nível de segurança adicional para as comunidades das ilhas, uma vez que os tempos de resposta reduzidos podem ser decisivos em situações de risco à vida.
A introdução do King Air, portanto, não apenas reforça a infraestrutura de resposta a emergências de Cabo Verde, mas também solidifica o compromisso do país com a segurança e o bem-estar de seus cidadãos e visitantes.
Como é que a população pode beneficiar com a operação do novo avião?
A operação do avião King Air, trará benefícios diretos e indiretos significativos para a população em geral. Em primeiro lugar, a melhoria na segurança marítima contribuirá para a redução de actividades ilícitas, como o tráfico de drogas e a pesca ilegal, o que, por sua vez, ajudará a preservar os recursos marinhos essenciais para as economias locais. A proteção dos ecossistemas oceânicos não apenas sustentará as comunidades pesqueiras, mas também promoverá a conservação ambiental, garantindo a saúde dos oceanos para as gerações futuras.
A sua capacidade para realizar operações de busca e salvamento permitirá uma resposta mais ágil e eficiente em situações de emergência, potencialmente salvando vidas no mar e oferecendo um senso de segurança à população que depende das atividades marítimas.
Através do fortalecimento da segurança marítima, Cabo Verde poderá criar um ambiente de estabilidade e confiança, tanto em nível nacional quanto regional. Essa maior segurança é fundamental para atrair novos investimentos nas áreas/sectores econômicos estratégicos para o desenvolvimento de Cabo Verde, como a pesca, transporte e turismo, sectores que têm o potencial de impulsionar o crescimento econômico e proporcionar oportunidades diretas para as comunidades locais. Assim, a introdução do King Air não apenas aprimora significativamente a capacidade operacional da Guarda Costeira, mas também desempenha um papel crucial no desenvolvimento sustentável e harmonioso de Cabo Verde, promovendo um futuro mais seguro e próspero para todos os cabo-verdianos.
É uma afirmação dos compromissos de Cabo Verde para com a cooperação e a proteção dos recursos marítimos?
A aquisição do King Air 360 ER representa um avanço significativo que transcende a mera modernização das capacidades das Forças Armadas e da Guarda Costeira de Cabo Verde. Este investimento é parte integrante de uma estratégia abrangente voltada para o fortalecimento das capacidades de segurança nacional e regional, alinhada com os compromissos de Cabo Verde em acordos multilaterais no âmbito da segurança marítima e defesa. A aeronave não apenas aprimora a interoperabilidade com parceiros regionais e internacionais, mas também posiciona Cabo Verde como um ator estratégico no Atlântico Médio, essencial para o combate a ameaças emergentes no Golfo da Guiné. Essa posição fortalecerá a estabilidade e segurança em um eixo crítico que conecta a África, Europa e Américas, reafirmando o compromisso de Cabo Verde com a cooperação internacional e a proteção de seus recursos marítimos.
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1219 de 9 de Abril de 2025.